Tudo ao chão

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Tem sido um ano sem amor

Eu sou um homem de três medos

Integridade fé e lágrimas de crocodilo

Confie em mim, querida, confie em mim, querida

Bad liar - Imagine Dragons


Aciono o alarme do carro logo depois de fechar a porta. Aproveito para arrumar sobre o ombro a alça da mochila que carrego nas costas enquanto corro entre as gotas da chuva que começam a cair muito levemente, apenas avisando que muito mais está vindo. Aperto o botão do elevador esperando pouco para ver as portas se abrindo e um velho barbudo passar por mim.

– Boa noite – cumprimento o morador rapidamente e entro no elevador selecionando o botão do terceiro andar.

Me viro para o espelho checando rapidamente a aparência. Passei o dia inteiro trabalhando em um ensaio fotográfico de uma menininha de seis anos. Foram cinco horas passadas ora de pé, ora agachado, ora de joelhos, convencendo a menina a não fazer alguma pose que ela teimava que queria... Já é estressante, apesar de que amo meu trabalho, mas não quero chegar em casa desarrumado para a minha esposa.

A porta se abre no meu andar e saio pescando a chave do bolso do jeans. Abro a porta da minha casa com alivio. Mais um dia de trabalho concluído e me restou um bom tempo para ficar com a minha mulher. Ela está na sala, com aparência de quem acaba de chegar também.

– Oi, amor.

Me aproximo quando se vira para mim com um pequeno sorriso.

– Chegou até mais cedo do que esperava – comenta.

– Aquela menina é linda, Sabrina, mas no final eu estava pensando em chutar ela e a mãe para fora do estúdio – brinco.

Abraço sua cintura fina e beijo seus lábios.

– Preciso de um banho, urgente – comento e ela concorda com um risinho. – Vem comigo?

Sabrina balança a cabeça em negativa.

– Estou morrendo de fome, Cézar. Tome seu banho enquanto esquento a lasanha de ontem.

Beijo seu pescoço apenas em um sinal de concordância e me afasto. Paro no quarto antes do nosso, um pequeno escritório que montamos para termos onde trabalhar se acabássemos trazendo algo para casa, deixo minha mochila sobre a mesa e, agora sim, vou para nossa suíte.

No banheiro tiro todas as roupas jogando tudo no cesto. Me enfio debaixo do chuveiro, por um momento me permito ficar quieto deixando que a água refresque meu corpo e me relaxe. Termino e visto a cueca e uma bermuda. É só chegar à sala para sentir o cheiro delicioso da lasanha que Sabrina fez ontem a noite.

Ajudo-a trazendo tudo o que precisamos e enfim atacamos sua comida. Gemo alto de contentamento.

– Sabrina, um dia você vai me matar com essa lasanha, mulher – murmuro.

Ela me presenteia com sua risada e uma revirada de olhos bem-humorada.

– Ah, preciso falar para você – começa. – Vou à casa de Vitória hoje a noite, jogar conversa fora.

Faço uma pequena careta.

– Precisa mesmo ir?

– A gente marcou no início da semana – ela desvia os olhos dos meus. – Tudo bem para você?

Sabrina e Vitória são amigas desde... Ah, nem sei. Quando a conheci, as duas já andavam juntas o tempo todo, não é direito meu afasta-la da amiga de longas datas. É por isso que apenas dou de ombros, um pouco contrariado, confesso.

Doce AmargoOnde histórias criam vida. Descubra agora