𝐕𝐈𝐈

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— E-eu vou embora

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— E-eu vou embora.— Tento dar um passo, mas Heather me segura pelo braço direito, refreando-me. Olho aturdida para ela que me impedia de dar o fora.

— Ah mas não vai mesmo.— Brandiu a cabeça, negando. Achegou mais seu rosto do meu para assim, poder cochichar.— Você não vê que vai ficar muito estranho se você decidir que quer ir embora de repente? Logo agora que eles apareceram? — Olhava no fundo dos meus olhos enquanto proferia. Mais séria do que ela costuma ser.— Haja naturalmente porque eles estão se aproximando.— Me soltou, depois arrumou a minha manga da roupa que se amarrotou.

Giro meu pescoço e passo agora a ver eles que caminhavam na mesma calçada que nós e mais um tanto de pessoas contentes. As lâmpadas amarelas acolhedoras ao derredor dos cartazes alumbravam as feições do rapaz que gargalhava com o melhor amigo, mas que assim que seus olhos encontraram os meus, ativou em um passe de mágica o modo Scott durão, o barista reservado e com um bom gosto literário do Blenz. As feições foram substituídas por algo frio e severo. Uma tempestade de desprezo e nojo. 
Seus olhos, antes luzidios, agora escondiam abismos profundos. Sua risada antes tão cordial, agora era contida e cheia de escureza.

O brilho desvaneceu-se dele por completo, embrenhando-se numa sombra fria e sólida.

Na mão caída ao lado de seu corpo esguio e alto, um cigarro que queimava a cada segundo mais, e dele, fumaça saia. Assisto o cheiro do fumo subir pelo ar, estendendo-se pele noite melancólica, agarrando-se a friagem. 
Engulo a seco minha saliva, mesmo ela sendo molhada.

— E ai Coralita? — Brad sorriu na minha direção em forma de cumprimento, indo até minha amiga. Deu-lhe um beijo estalado em sua bochecha fofa, passando o braço coberto por um moletom laranja berrante pelos ombros da mais baixa.— Oi.— Ele disse, e ela quase se derreteu.

Olhei para minha esquerda e sobressaltei quando vi que os olhos que armazenavam uma parte dos oceanos de Scott, me observavam escrupulosamente. E então de repente, me dei conta de que suas vistas eram literalmente como uma viagem a um lugar em que nunca fui, dois portais místicos que me permitiam de olhar magicamente para um mar fundo e cheio de segredos naufragados em meio a tantas jóias escondidas nas profundezas. Ouvi o som das águas barulhentas se debatendo e alguém se afogando em meio a tanta beleza, pedindo por socorro, estendendo sua mão para que eu a puxasse e o salvasse. 

Em seu corpo, um casaco cinza chumbo que o abraçava com ternura e calor, e na cabeça, uma touca preta mais nada do que simples. Seus fios quase dourados que até então eram a única coisa nele que pareciam contentes, despontavam dentre o fim da lã daquilo que aquecia sua cabeça, enfeitando sua testa e brincando com suas sobrancelhas grossas.
Já a embelezar os lábios, o cigarro perto de acabar. A fumaça dele ainda estava por ali, perfumando sua aúrea a formando um véu na frente do seu rosto.
O vento gelado cortava nossa pele, mas na dele, eu conseguia ver os riscos vermelhos que sozinho se rabiscavam pelas bochechas, beijando sua carne pálida como a neve. 

Cigarette Daydreams [ book one ]Onde histórias criam vida. Descubra agora