𝐈

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"Você é muito cαlαdão.
Gostei de você!"
「  ᵘᵖ ⁻ ᵃˡᵗᵃˢ ᵃᵛᵉⁿᵗᵘʳᵃˢ 」

𝒩aquela manhã glacial do sexto dia de dezembro daquele ano, o céu como de costume, estava tomado por uma grossa e cinza camada de nuvens que não se cansavam nunca de esconder o sol da população

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𝒩aquela manhã glacial do sexto dia de dezembro daquele ano, o céu como de costume, estava tomado por uma grossa e cinza camada de nuvens que não se cansavam nunca de esconder o sol da população.

Eu me recordo tão bem de tudo, como se fosse algo que tenha me acontecido hoje durante a manhã.
Lembro dos cheiros misturados, da textura de minhas roupas, da maciez do meu próprio cabelo e do tanto que meus pés afundavam a cada passo atrapalhado que eu dava naquele bom tanto de cobertor de neve.

As ruas por sua vez, quase despovoadas como sempre. Vazias, pacatas e mortalmente silenciosas.
Os flocos branquinhos e pequenos de neve caiam sobre nós, enfeitando nossas vestimentas pesadas com cristais finos que rápido se desfaziam sobre o quente, e o vento, trincava nossos maxilares e arrepiava nossas espinhas e bochechas com sua lambida ácida e cruel.
O casaco duas vezes maior que meu corpo, a touca, as luvas de lã, as voltas e voltas do cachecol embolado pelo meu pescoço e as botas com polainas que eu trajava, pareciam não ser o suficiente para me manter aquecida o bastante para não congelar. Meus lábios tremiam e com certeza estavam com uma coloração púrpura, assim como meu nariz que provavelmente estava tão vermelho, como o do próprio Papai Noel.
Belmore City, esta acanhada cidadezinha com no máximo quatro mil habitantes, rodeada de montes altos cobertos por uma branquidão de gelo bonita de se ver e conhecida pelos faróis piscantes que estão sempre amarelos, costuma ter os invernos mais rigorosos do país, mas parecia que naqueles dias, o frio estava querendo bater seu próprio recorde. 

— Olha só, eu prometo que vai ser só hoje. Prometo de pés juntos, dedos cruzados e olhos fechados com nariz empinado. — Minha melhor amiga implorava com suas pequenas e roliças mãos juntas e os lábios em um biquinho - como uma completa criança pidona e mimada - para irmos à algum lugar na qual eu não estava nem um pouco à fim de ir.— Vamos Cora! 

— De novo você com esse papo Heather? — Olho para ela com uma sobrancelha arqueada. Meus braços estavam ao redor de mim mesma, me laçando numa tentativa minha inútil para fazer aquecer meu sangue. Enquanto eu falava, um tanto de fumaça saia dentre meus lábios e se dispersava pelo ar congelante. — Você tá nisso desde que colocamos o pé na rua.

— E você só nega desde então. Lá tem os melhores cafés da cidade, e você não tá nem aí, como isso é possível? — Gesticulava sem parar enquanto explicava a qualidade do que lá é servido. — É como se alguém dissesse que acabaram de explodir o cofre do banco e voou dinheiro pra todo lado, e eu continuasse sem fazer nada ao invés de ir até lá e encher os bolsos de notas amassadas que estavam pela rua toda. Você está perdendo a oportunidade de experimentar a oitava maravilha.— Heather andava ao meu lado sobre a calçada forrada de neve. Meus pés afundavam a cada passo que eu dava sobre o manto branco, e dos lábios dela, também saia fumaça a medida que as palavras eram ditas.— Você não vai se arrepender, eu prometo. Eu não me arrependeria nem um pouco, um cafezinho de manhã não faz mal á ninguém. Pelo contrário.   

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