𝐗𝐈

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𝒜  luminosidade não muito forte que se transpunha nos vidros afilados e grandes da janela, desperta-me

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𝒜  luminosidade não muito forte que se transpunha nos vidros afilados e grandes da janela, desperta-me.
Uma alvura ardente e desconfortante, que ia parar sem desvios, em meu rosto.
Mas assim como sempre, eu sentia o não-comparecimento do calor do sol.

Meus olhos se abrem aos poucos, desunindo as pálpebras com uma certa dificuldade dolorida. Eu piscava inúmeras vezes, e encarava ainda ensonada, a visão do céu acinzentado de um novo dia que me abraçava e beijava minha testa, fazendo aquilo que minha mãe nunca faz ou alguma vez já fez.

Tão lindo e friento, como um lençol pesado em um dia sem luz. 

Antes que eu pudesse pensar em qualquer coisa, minha mente fora apossada por alguns fleches e fragmentos desconectados do sonho estúpido da noite anterior, e tudo o que eu faço, é soltar uma risada nasalada por tamanha loucura.
Passo as mãos sobre meu rosto e bocejo. Depois olho para o chão, não deixando de erguer uma sobrancelha ao constatar algumas roupas minhas semeadas por ele todo, como se fossem enfeites ou tapetes desarrumados.
Franzi o cenho, espiei-me por debaixo do tecido quente que me aquecia, e então eu entendi tudo.

Aquilo, aquela sensação tão boa igual a de uma brisa que acaricia entrelaçando os cabelos, os toques firmes, os olhares intensos, os suspiros baixos, fora a mais pura realidade. Fora algo existente, algo tangível, algo palpável. Não alguma coisa que meu cérebro tenha feito eu imaginar de madrugada, enquanto eu dormitava.

Me viro com cuidado para o outro lado na expectativa de vê-lo ali e poder aprecia-lo a dormir, mas meus ombros se sossegam quando tudo que eu vejo, é meu colchão afundado. Os cobertores amassados e empurrados em minha direção e o lençol, desarrumado com o cheiro de Scott por todo lado em um lembrete cruel do que houve. Mas nenhum bilhete em um papel rasgado ou amassado. Nada.
Desapontada, sigo olhando o lugar vago ao meu lado por um tempo.
Até que volto a minha realidade quando meus olhos pediram para que eu voltasse a piscar, e pego do chão minha camiseta do pijama, vestindo-a. Meus dedos deslizam na camiseta, um abraço familiar, um consolo.
Sento-me, colocando os pés no chão frio, depois me levanto e caminho até meu espelho com passos tão lentos quanto os de uma tartaruga antiga.
Me olhando, percebo que nada em mim fisicamente havia mudado, e que a única coisa diferente ali, eram minhas maçãs do rosto que estavam coradas como nunca.

Eu ainda era eu. Coraline Hall, aquela que sonha e escreve ecos no papel.

Olho para trás e encaro imota no meio do quarto alumiado - mas não tanto -, meu colchão. No chão, a caixa quebrada e remédios para todos os lados, fazendo-me rememorar cada segundo da noite. Abraço meu próprio corpo, transitando minhas mãos sobre meus braços, mordendo meu lábio inferior.
Ergo meus olhos e atento-me ao despertador eletrônico na modesta mesinha de madeira ao lado da cama, deixando um ruído de insatisfação escapar de minha boca ao compreender que perdi a hora para o colégio.

— Que ótimo — Resmungo sozinha e reviro os olhos, descruzando os braços e deixando com que eles de uma maneira preguiçosa, ficassem pendidos aos lados do meu corpo.

Cigarette Daydreams [ book one ]Onde histórias criam vida. Descubra agora