𝐗𝐈𝐕

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— Bom dia bela adormecida

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— Bom dia bela adormecida. — Deixo minhas palavras se desmancharem através do ar morno quando passo pela porta de meu quarto que range levemente ao ser aberta e entro com cautela no ambiente, notando antes de tudo, que Scott havia acabado de acordar. Meu coração dá um pulo, me lembrando de que era ele, aquele para quem eu olhava, que o fazia trovejar tanto dentro do meu peito

O rapaz corrupia seu pescoço na minha direção, e seus olhos azuis emoldurados por olheiras um tanto quanto acentuadas me olhavam, como se o peso da noite deslizasse pelas suas pálpebras e davam a ideia delas voltarem a se fechar.
Seus cabelos denunciavam em cada um dos fios despenteados e revoltos, seu estado de espírito e sua ressaca dolorosa.
Se sentava ainda meio zonzo em minha cama, e reclinava as costas, na cabeceira estofada. Neo se aconchega ao seu lado, calmo e absurdamente despreocupado. 
Ronronou para ele que soltou uma risada nasalada e depois, passou a explorar com seus dedos, a pelagem escura do meu gato que adorou o carinho, se deitando de barriga para cima como se conhecesse Scott, desde sempre. 

— Bom dia. — Exprimiu um sorriso enfraquecido, e teus olhos, agora claros como águas serenas banhadas de cristais salgados e cintilantes, me escoltavam com puro enleio. Sustentava o riso em seus lábios avermelhados pelo fruto de horas sonhadas, onde o tempo se deteve, encantado por ele. — Ai, droga. — Espalmou sua testa, fazendo careta. Afastei minhas cortinas de uma vez, e a claridade acinzentada se derramou, fazendo-o sofrer e cobrir os olhos.

Ela acariciava a sua pessoa assim que se espalhava mais e escalava a cama, dando á ele, a mestria de ser capaz de se revelar ainda mais bonito. Me peguei pensando que isso fosse impossível. Ele mostrar-se ainda mais lindo para minhas vistas, mas para a minha tirânica infelicidade, eu estava absurdamente errada.
Os objetos ganharam vida sob o véu do dia. As paredes floridas agora gritavam em luz, implorando por paz ao tempo em que o dia também acordava, suave e incisivo, rasgando a névoa do lado de fora. 

— Tem aspirina aí no armarinho, se quiser. — Mostrei o lugar rente à minha cama com meu queixo que apontava para lá como um guia. Ele olhou, aproveitando da oportunidade para tombar a cabeça e analisar meu porta-retratos. Enquanto isso, vou até minhas cobertas e me abaixo,  pegando-as e dobrando todas elas em um gesto nada suave, ganhando a total atenção dele.

— Espera aí, você dormiu no... chão? — Scott tinha uma de suas sobrancelhas para cima, ao notar aonde eu havia repousado. Bem longe dele, no chão inclemente, livrando-me de toda amargura que penosamente se propagaria em meu peito se eu o tivesse junto de mim em minha cama no decorrer de toda uma noite. Seria muito tempo, apesar.

— Dormi. Eu saí de perto de você assim que você se acalmou e pegou no sono, não se preocupe. — Abro as portas de meu armário embutido na parede, armazenando as cobertas uma em cima da outra. Tudo convenientemente dobrado, e habilmente empilhado.

Quando eu era criança, imagina que tinha monstros ali dentro, vivendo em silêncio e no escuro entre minhas botas e casacos, comendo os dedos de minhas luvas e alguns pés de meia. Que eles todas as noites vinham se alimentar de meus pesadelos e dos suspiros que escapavam pelo meu nariz. Mas conforme fui crescendo, fui tendo outra perspectiva. Eu desejava que isso pudesse acontecer, assim eles poderiam ficar comigo até eu pegar no sono, fazendo o papel de meus pais já que meus pais, estavam ocupados demais fazendo os papéis de monstros. 

Cigarette Daydreams [ book one ]Onde histórias criam vida. Descubra agora