𝐕𝐈

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— Onde você vai? — Ouço minha mãe a interrogar, rápida como uma facada que se enterrou bem ao meio de minhas costas despreparadas

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— Onde você vai? — Ouço minha mãe a interrogar, rápida como uma facada que se enterrou bem ao meio de minhas costas despreparadas. Meus pés param de ser mover e com isso, as solas de minhas botas de couro ilegítimo causam um ruído similar a um grito estrondoso no assoalho do espaço, quando eu paro em meio ao caminho que eu faria até a porta de madeira bege e alta da sala.

— Saco — Fecho meus olhos com força, reclamando no tom mais baixo que eu conseguiria. Respiro fundo então, enquanto ainda estou virada para o lado contrário do dela.— Oi, mãe — Sorrio largo quando giro em meus calcanhares, olhando agora, para a mulher bem vestida diante de mim. Na minha face, cobrindo meu desagrado, uma máscara falsa de empatia. 

— Posso saber aonde está indo, saindo assim de fininho? — Cruzou seus braços, batendo com o pé esquerdo sobre o piso de madeira brunida. Uma pasta com uma grande quantidade de papeladas em sua mão e um anel de brilhantes no anelar que piscou para mim, cúmplice.

— Eu vou na casa de um amigo.— Menti para ela, desviando meu olhar para o abajur apagado próximo ao sofá vazio com algumas almofadas bem espalhadas sobre ele. Ela saberia que era mentira se eu dissesse que iria para a casa de Heather, visto que ela ouviu nossa conversa de que ela iria terminar um trabalho na casa de uma garota da sua aula de estudos ambientais. 

— Amigo? — Semicerrou os olhos desenhados com lápis preto. A pigmentação deles, um pouco mais clara que a dos meus. — Que eu saiba fora o Neo, você não tem amigos homens. Até onde eu sei, tem apenas a Heather como sua única amiga humana.— Levantou uma de suas sobrancelhas bem feitas. Era impossível descrever o cheiro forte e amargo de superioridade que vazava dela e que coçava minhas narinas, quase me fazendo espirrar.

— Oh, quanta gentileza da sua parte falar assim.— Revirei os olhos com grosseria.— Ele... não é bem um amigo. É que... a gente tem um trabalho juntos para fazer e... a gente vai fazer.— Encolhi os ombros e coloquei as mãos em meus bolsos da jaqueta amarelo mostarda. No direito, sinto o maço de Marlboro envolto á palma de minha mão, aliciando minhas digitais.— Vai ser rápido.

— Certo. E o nome dele? — Locomoveu-se com passos leves até o móvel perto da cristaleira de madeira envernizada, onde seu notebook prateado estava fechado ali. Ela desfilava sobre um tapete imaginário de plumas, exibida, cheia de autoridade na sua postura de perfeição. Seu olhar altivo, desafiando o tudo e todos ao seu redor, como se tivesse a pura certeza de que era a própria definição de beleza e preeminência.

— O nome dele? Hm...— Eu acompanhava seus movimentos com meus olhos. Ela vai até o sofá e se senta com as pernas juntas por causa da saia, apoiando o aparelho em seu colo e abrindo o mesmo que se acende em um passe de mágica. A claridade dele dava olá para ela e então desejava bom trabalho logo depois.— O nome dele? — Persisti na pergunta, para que eu tivesse mais um tempo para pensar.

— Sim Cora, o nome do garoto.— Enunciou sem paciência, acomodando seu antebraço esquerdo no encosto baixo do sofá atrás de si. Deslizava as digitais do dedão sobre as pontas das unhas dos outros dedos, brincando com elas. Seu rolex também esperava pelo que eu iria dizer. Eu sentia o peso da expectativa deles em cada tic-tac.

Cigarette Daydreams [ book one ]Onde histórias criam vida. Descubra agora