Cigarette Daydreams [ book one ]

𝐕𝐈𝐈𝐈

— Posso te dizer uma coisa louca que eu notei na noite passada? — Heather entra comigo na sala que teríamos juntas, nossa primeira aula do dia. História com a sra. Young, uma senhora de baixa altura e um grande humor afável. A todo o momento animada, e bem vestida. Os cabelos negros, óculos grandes em sua face. Anéis coloridos nos dedos e unhas longas que tirlintam.

— Pode.— Nos assentamos uma ao lado da outra na fundura da sala, sob o grande mapa-múndi preso a parede e mais algumas folhas com explicações de deuses do Egito antigo, e seus repentinos cargos. Set, Hórus, Osíris, Sekhmet e mais outros.

— Scott durão Grayson não tirava o olho de você um segundo sequer, a noite toda. — Dizia convencida, como se aquilo que ela estava a me contar fosse algo extremamente esplêndido que só ela sabia. As sobrancelhas arqueadas, nos lábios, em sorriso pervertido.— Brad também notou isso, antes que duvide da minha capacidade de percepção.— Tento segurar a risada enquanto ela falava, mas meu plano não funcionou muito bem. Com isso, começo a rir, raspando as pontas das unhas nas linhas da minha testa franzida. — Porque você tá rindo? É a verdade sua idiota estúpida.

— Vai sonhando, sua imbecil.— Abro meu caderno.— Não duvido da sua capacidade de percepção, mas acho que dessa vez ela falhou. Ele me odeia, caso você não tenha notado ainda. E não me pergunte o motivo, eu também não faço a mínima ideia do porque da sua desaprovação quanto a minha pessoa.— Revirei os olhos e apoiei meu rosto em minha mão esquerda. Um suspiro escapa dos meus lábios, carregando meus pensamentos, enquanto sinto a suavidade da minha bochecha sob o toque dos nós de meus dedos. Cada linha, cada poros.

— Cora eu juro.— Continuou com aquilo.— Porque eu mentiria para você? Olha para mim, eu sou sua amiga. Melhor, amiga.— Falou a última parte com uma certa exaltação e destaque, como se a verdade fosse pérolas raras soltas ao vento, brilhando com intensidade entre nós duas.

— Scott não tá nem aí para mim Heather, você tem que ver o jeito que ele subitamente muda de comportamento. Como parece que ele me abomina com aqueles olhos... tão bonitos que evitam os meus.— Dou de ombros contrariando, e me viro para ela.— Chega a ser agoniante sua mudança de humor do nada.

— E porquê ele muda de comportamento? O que precisamente vocês estavam conversando? — A garota cruza seus braços sobre sua mesa.

— Bom, a gente estava assistindo aquele filme horrível, e ele, do nada, resolve que era hora de papear e começou a puxar assunto.— Desenho coisas aleatórias na minha folha repleta de linhas. Um cigarro, uma xícara de café, fumaça. Deixo minha caneta dançar pelo papel, e tingir aquilo que minha mente elabora.

 — Ele? Puxando assunto? — Investigava duvidosa, cada palavra que saía dos meus lábios. Elas eram questionadas dentro de sua mente, analisadas, dissecadas. Não parecia acreditar em mim, nem mesmo eu acreditaria se soubesse que tipo de cara ele é. — Fala de mim, mas na verdade é você quem sonha acordada.