O Irmão

11 - Fabiana

Estava em casa enlouquecendo com meu planejamento financeiro. Danilo me acalmava, mas depois que tivemos a ideia de encontrar um canto para nós dois, fiquei um pouco obcecada para colocar tudo em dia para enfim procurarmos o nosso lar. Não por nada, mas cada vez eu me sentia mais desconfortável em ficarmos na casa do Daniel.

Desde o almoço na casa dos meus pais, ele e Danilo não se falaram e eu sei que isso magoava o meu namorado. Certa noite estávamos deitados no sofá assistindo a TV e Danilo perguntou:

– Você acha que o meu irmão se importa mesmo com a nossa família?

– Por que está perguntando isso, amor?

– Às vezes parece que ele não se importa conosco. Ele foi embora e depois nem sequer ligou para saber como as coisas tinham sido. Nem parece se importar se precisamos de ajuda ou não. Não que eu vá pedir algo para ele, ele já fez muito por mim me deixando a casa e o carro, mas pelo menos daria a impressão de que ele se importa comigo. Ele é o meu irmão mais velho, eu queria poder contar com ele.

Ver a mágoa do meu menino fez o meu coração ficar apertado. Eu tenho um irmão que se importa tanto que às vezes chega a ser irritante, mas transbordamos de amor a todo instante. E eu sei que se eu precisar de algo urgente, eu tenho com quem contar. Deve ser dolorido você ter alguém, mas na verdade não ter.

Acariciei seus cabelos e beijei seu rosto e não disse nada. Eu não sabia o que dizer. Poderia falar um monte de coisas do tipo: ele se importa com você, ele te ama e tal, mas eu não tenho certeza de nada quanto a Daniel. Eu pensei que tivesse conhecido o mínimo dele, mas ele é uma grande incógnita.

Aquela melancolia não abandonou Danilo e certo dia eu não aguentei, assim que terminou meu expediente, peguei meu telefone e liguei para Daniel. O telefone tocou até cair na caixa de mensagens, mas não desisti, tentei mais duas vezes. Nada. Quando me dei por vencida e saí do escritório, meu telefone tocou.

– Alô?

– Alô? Alguém me ligou desse número. – Ele falou com a voz séria.

– É a Fabiana. Tudo bem, Daniel?

Ele ficou em silencio e eu imaginei que a chamada caiu.

– Daniel?

– Oi. Oi, Fabiana tudo bem e você?

– Eu estou bem. – Falei um pouco irritada. – Me diz uma coisa, custa você pegar o telefone e ligar para o seu irmão, pelo menos para perguntar se ele está bem?

– Você me ligou para me repreender?

– Sim. Te liguei por isso. Porque já que você não toma uma atitude, eu resolvi tomar por você. O Danilo tem andado muito triste e eu sei que é por sua causa.

– Por minha causa?

– Claro. Ele sempre reclama que você foi embora sem se despedir e que depois disso nunca ligou para ele.

– Mas ele tem o meu telefone, por que ele não me liga?

– Porque ele acha que você é ocupado demais, não quer te incomodar.

Ele ficou em silencio novamente.

– Daniel? – Gritei chamando sua atenção.

– Me desculpa, Fabiana. Eu sei que tenho sido negligente com a minha família, mas acho que o meu irmão não precisa de uma defensora. Ele já é grandinho demais para ter uma babá responsável por armar os contatos da família dele.

– Como é que é? – Perguntei me sentindo indignada demais. – Olha, se você não sabe o que é amar alguém, o problema é seu. Eu amo o seu irmão, me preocupo com ele, e se eu tiver que fazer papel de babá, enfermeira ou cuidadora eu farei, entendeu? E enquanto eu estiver com ele, não vou deixar que alguém egoísta como você o magoe. Então faça o favor de tomar uma atitude humana, ou se não quiser fazer isso, desapareça de uma vez por todas e faça-o entender que você não se importa com ele, assim ele não criará mais expectativas quanto a você.

– Oh, mulher intrometida. – Ele resmungou baixinho, mas eu ouvi.

– Não sou intrometida. – Reclamei sentindo o sangue ferver de raiva. – Sinto te informar, mas sou integrante dessa família e tenho todo o direito de me intrometer quando o assunto for o meu homem. Bom, já te falei o que tinha para te falar. Faça o que a sua consciência mandar. Adeus. – Disse e desliguei.