O Irmão

9 - Fabiana

Daniel não estava em casa, nem atendeu a ligação de Danilo. Imagino que ele lembrou do que falou comigo e se sentiu envergonhado. Bom, eu no lugar dele também teria me sentido, porém temos que relevar, pois ele estava bêbado. Fiquei tocada com o sofrimento dele, era como se ele realmente sofresse com a ausência de algo, certamente Daniel e a namorada tinham problemas, isso era nítido, não apenas pela maneira como sua família reagia a menor citação no nome de Jaqueline. Imaginei o quão terrível essa moça deve ser, para ser unanime a antipatia da família. Até mesmo o namorado dela parecia extremamente cansado ao falar sobre o relacionamento, pelo menos foi o que Danilo me falou.

Meu namorado ligou para a mãe dele e ela contou que Daniel estava a caminho de lá para eles comerem uma pizza. Danilo queria se convidar, mas eu gesticulei para que ele desse espaço para seus pais ficarem com seu irmão, eles precisavam deste tempo.

O irmão do meu namorado não voltou para casa, confesso que fiquei um pouco apreensiva, comecei a desconfiar que eu fazia parte do motivo de seu afastamento, embora ele só tivesse passado aquele dia fora.

– E o que você achou do meu irmão? – Danilo perguntou mexendo nos meus cabelos enquanto estávamos deitados no sofá.

– Ele é um bom homem.

– Só isso?

– Não sei, nós não conversamos o suficiente para eu ter uma ideia formada sobre ele, mas ele é da sua família, automaticamente isso o torna um bom homem.

Ele riu e me beijou.

– Ele bem que poderia arrumar uma namorada agradável, assim nós poderíamos sair em casal.

– E se tentássemos nos aproximar da namorada dele?

– Isso não daria certo, amor. Ele mesmo disse que ela é diferente de nós.

– De repente ela tem seus motivos para ser difícil.

– Por que você sempre enxerga o lado bom de todo mundo? – Ele perguntou me olhando carinhosamente.

– Ninguém é cem por cento bom, nem cem por cento mal.

Na manhã seguinte acordamos e nos preparamos para o almoço na casa do meus pais, nosso almoço oficial reunindo todos os membros das nossas famílias para que todos soubessem que pretendíamos começar uma vida juntos muito em breve. Daniel não voltou para casa e eu me senti culpada por isso, aquele era o apartamento dele muito antes de eu aparecer na vida do Danilo. O espaço era dele.

– Liga para o seu irmão. – Pedi para Danilo enquanto eu terminava de me arrumar.

O vi com o telefone no ouvido conversando com alguém, ele não parecia muito feliz com o que ouviu e eu achei melhor perguntar só depois que ele desligasse.

– Ele foi embora. – Danilo falou irritado depois de desligar.

– O quê?

– O Daniel, foi embora, ele não vai estar no nosso almoço. Disse que surgiu uma emergência e simplesmente voltou para o Rio de Janeiro deixando um monte de roupas para trás.

Me senti murchar com a notícia, aquele era um almoço em família, e Daniel fazia parte da família do meu namorado, é claro que eu queria que ele estivesse presente, afinal Danilo sentiria falta do irmão, pois eu estaria cercada com os meus.

Fomos para a casa dos meus pais. O carro de Daniel estava na garagem, o que nos diz que ele passou lá para deixá-lo antes de voltar para o Rio de Janeiro.

– Só queria saber por que ele não se despediu. – Danilo comentou tristinho.

– Ele tem os motivos dele, amor. Dê esse espaço para ele, nem todo mundo reage da mesma forma a certos acontecimentos. Você até ontem era o irmãozinho dele, agora você e eu estamos nos programando para morar juntos. Você não percebeu como ele ficou quando você disse que queria sair do apartamento dele? Acho que o seu irmão ainda te vê como o irmãozinho mais novo de quem ele cuidava.

– Você tem razão. Mesmo assim é estranho tudo isso. Espero que quando ele encontrar a mulher certa, ele entenda que é bom ter as pessoas que amamos compartilhando nossa felicidade.

Meus sogros já estavam na casa dos meus pais quando chegamos lá. Nossas mães pareciam amigas de longa data. Nossos pais também conversavam fervorosamente sobre futebol, claro, cada um puxando a brasa para o seu lado.

Meu irmão estava na casa da Teresa, mas os dois já estavam chegando e trariam Artur e Penélope com eles.

– E cadê o seu irmão? – Dona Clara perguntou para Danilo com o cenho franzido.

– Ele teve uma emergência no trabalho e precisou voltar para o Rio.

– Ah, que pena. – Minha mãe lamentou. – Eu estava tão ansiosa para conhecer seu irmão. Mas fica para uma próxima, o que não vão nos faltar são oportunidades de reunir nossas famílias.

– Isso mesmo. – Minha sogra concordou com um sorriso enorme.

Meu irmão chegou com toda a nossa trupe de amigos e eu recebi abraços animados das minhas melhores amigas. Foram feitas as devidas apresentações e Danilo chamou a atenção de todos, pouco antes de minha mãe pôr a mesa para o almoço.

– Bom, temos aqui as pessoas mais importantes das nossas vidas, embora esteja faltando o meu irmão, mas enfim, fazer o quê? A Fabiana e eu estamos juntos há alguns meses, eu a amo muito e modéstia a parte eu sei o quanto ela me ama. Temos compartilhado tudo um com o outro, ficamos mais tempo juntos do que separados. Eu hoje moro na casa do meu irmão, mas está chegando um momento em que viver na casa do meu irmão não está sendo o suficiente. Então a Fabi e eu decidimos que vamos organizar tudo para morarmos juntos em um cantinho só nosso, alugado claro, mas onde possamos ter uma vida só nossa. Esse é um teste drive para o que virá pelos próximos anos, pois eu não consigo enxergar uma vida longe dessa mulher.

Meus olhos encheram de lágrimas, ele falou tudo com tanta segurança e amor que foi impossível me segurar. Sorri e olhei ao redor, todos pareciam igualmente emocionados, meus pais estavam com as mãos dadas e os dedos entrelaçados. Meu sogro afagava o ombro da minha sogra e ela secava as lágrimas que escorriam em seu rosto. Meu irmão tinha um sorriso tão grande no rosto que eu até ri, enquanto Teresa me olhava com admiração. Penélope e Artur também se abraçavam e eu nunca me senti tão querida e amada em toda a minha vida. Eu estava cercada de puro amor, amor verdadeiro.