Minhas mãos tremiam quando Fabiana desligou. Aquela abusada me ligou para me intimidar.
Quando vi as chamadas perdidas, pensei que fosse algo referente ao trabalho, mas era o telefone dela. Quando ela disse quem era, eu fiquei paralisado. Logo agora que eu já estava me sentindo menos intoxicado por ela, aí as memórias dos pensamentos eróticos vieram à tona com tudo. Ver a forma feroz que ela defende o eu irmão me deixou louco de ciúmes, de inveja, e eu acabei sendo um pouco mais grosso do que pretendia. Aí ela joga na minha cara que faz parte da minha família. Aquela praga.
Demorou para baixar a adrenalina e para eu engolir a raiva. Dirigi até a minha casa e quando cheguei, Jaqueline estava lá. Ela parecia animada e pela primeira vez a vi preocupada com as coisas em minha casa. Jaqueline fez o jantar, o mais impressionante é que eu apreciei, ficou muito bom. Depois ela foi toda manhosa preparar um banho para nós dois. Ela me olhou com tanto carinho que me senti incomodado a princípio. Foi a primeira vez que percebi aquele olhar. Imediatamente eu lembrei da maneira como Fabiana olhava para o meu irmão. Eu queria tanto que alguém me olhasse daquela maneira e quando enfim me olharam, não surtiu o efeito que eu esperava. Me senti culpado, pois eu tive a certeza de que não conseguiria retribuir, porque não era o olhar que eu desejava, era a portadora do olhar designado ao meu irmão. A frustração foi substituída pelo desespero. Eu jamais teria Fabiana. Ela já era do meu irmão. Ela o amava tanto que me ligou para brigar comigo, como um cão de guarda feroz protegendo seu amado amo.
Aquela obsessão não era normal, nós convivemos por três dias. Apenas três dias e ela me desmontou.
Jaqueline me beijou e eu me agarrei a ela. Eu precisava acabar com aquela obsessão, e fechar os olhos e imaginar que era ela quem me tocava só alimentou ainda mais a psicose.
– Me ajuda, Jaque. Me faz esquecer do mundo. – Implorei para a morena abraçada a mim.
– É claro, amor. – Ela disse com um sorriso meigo e me beijou.
É loucura, mas eu a beijei de olhos abertos, apenas para não correr o risco de imaginar Fabiana. Deixei Jaqueline me beijar, me tocar e me amar como ela bem entendesse, eu queria, ou melhor, eu precisava que ela criasse memórias em mim, e que essas fossem verdadeiras.
Me abri para a minha namorada entrar. Não sei em que parte dos últimos dois anos eu deixei de perceber Jaqueline, pois ela era muito mais interessante do que demonstrava. Era engraçada e amorosa. Em nada parecia a mulher gélida que eu sempre vi. Ela se preocupava comigo. Eu não sentia o fogo que eu queria sentir, mas a companhia dela foi me ajudando a amenizar a fissura por Fabiana.
– Ficamos juntos por dois anos, mas nunca fui tão feliz como sou hoje. – Jaqueline disse certa tarde quando estávamos na praia.
– Por que você acha que ficamos tanto tempo juntos sem compartilhar quase nada? – Perguntei realmente interessado em descobrir.
– Eu não sei, amor. Acho que eu não me senti à vontade para ser eu mesma. Eu sabia que você gostava de mim, mas eu sempre tive medo de demonstrar o que eu sentia por você. Você está sempre tão ocupado que não tem tempo para nada nem para ninguém. Nem mesmo para a sua família tem tempo e eu preferia me manter a distância.
Olhei para Jaque, a pele tão bronzeada e o rosto delicado. Eu a fiz sofrer por minha obsessão pelo trabalho, pela perfeição. Eu a julguei e até falei mal dela para a minha família. Enquanto isso ela me amava e escondia tudo isso para não me afastar. Me senti culpado e a necessidade de compensá-la de alguma forma foi mais forte. Naquela semana eu a levei para jantar.
– Te comprei um presente. – Falei quando pedimos a sobremesa.
– Um presente? – Ela perguntou com um sorriso enorme.
– Sim. – Tirei a caixa do bolso do meu paletó e coloquei sobre a mesa. Os olhos dela se encheram de lágrimas e eu sorri. – Calma, não é o que você está pensando, ainda não. – Falei abrindo a caixa onde tinha um lindo anel de ouro e diamantes.
Ela me olhou com seus lindos olhos castanho claros arregalados.
– É lindo, Daniel. – Ela disse estendendo a mão. – Coloca em mim?
– Claro.
Deslizei o anel em seu dedo e a peça ficou muito bonita em sua mão. Fiquei feliz e imaginei como seria o dia em que eu daria um anel de noivado para ela.
– Eu te amo tanto. – Ela disse sorrindo e olhando para o anel.
– Que bom que você gostou – falei sem conseguir retribuir, eu tentaria, mas tudo em seu tempo.
Alguns meses se passaram e me tornei mais íntimo da minha namorada, eu gostava da sua companhia, gostava de como ela me tratava, embora eu ainda não conseguisse retribuir na mesma medida. Por vezes sonhei com a praga da Fabiana. E os sonhos eram todos muito parecidos. Eu a encontrava, seus cabelos estavam mais compridos e ela sorria docemente para mim. Esses sonhos mexiam comigo muito mais do que os eróticos, pois a paz daquele sorriso era a paz que eu buscava incessantemente.
Liguei para Danilo algumas vezes. Meu irmão ficou muito feliz e desde então ele tomava a liberdade para me ligar. Percebi que me aproximar do meu irmão era uma coisa, me aproximar da mulher dele não tinha nada a ver com isso.
Meu pai me ligou me convidando para a festa surpresa que ele estava preparando para a minha mãe, era o aniversário de casamento deles. Trinta e cinco anos juntos.
– Pai, eu vou levar a Jaqueline. – Avisei, eu precisava resolver essa questão. E tendo Jaqueline ao meu lado, eu não corria o risco de fazer alguma besteira caso eu caísse em tentação.
– Claro, filho. Traga a moça, vai ser bom que ela e a sua mãe finalmente se entendam.
Jaqueline me surpreendeu dando saltos de alegria ao saber que enfim ela e minha mãe teriam a chance de fazerem as pazes.
Posso não estar perdido de amor por ela, mas o carinho que tenho nutrido por Jaque tem me deixado muito mais tranquilo. Estava ansioso para mostrar para a minha família que eu também sou capaz de me relacionar com alguém. Que também sou merecedor de afeto e que a minha garota não é o monstro que todo mundo – inclusive eu – desenhou.
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O Irmão
RomanceDaniel sempre conquistou tudo o que desejou, uma carreira de sucesso, dinheiro e prestígio. Sua escalada ascendente o afastou de suas origens. Fabiana estava cansada de segurar vela quando saía com seus amigos, até que ela encontrou o amor com um j...