O Irmão

6 - Daniel

Eu não devia, sei que não devia, mas mal conseguia tirar os olhos de cima dela. Fabiana não queria monopolizar o tempo e a atenção do meu irmão, seu amor por ele era maior do que qualquer que fosse sua necessidade. Ela mesma arquitetou a noite dos garotos.

Comecei a ficar obcecado por cada movimento dela, quando suas mãos pequenas passavam por seu pescoço, o que percebi ser uma mania dela, quando ela mordia o lábio superior pouco antes de rir de algo, como ela apertava a curva do braço do meu irmão sem qualquer motivo. E como esticava seu lindo pescoço em busca de um beijo dele.

Fabiana é toda alegria e contagia todo mundo. O momento alto da tarde, foi quando ela cochilou no sofá enroscada na camisa do Danilo, estava tão linda e pálida que senti vontade de segurá-la em meus braços e levá-la de lá. Meu pai me pegou no flagra dando uma olhada nela e eu precisei usar todo o meu jogo de cintura para disfarçar o quanto eu não conseguia parar de admirar.

É esquisito, pois ela não faz o meu tipo em nada, nem os cabelos curtos, nem o jeito espalhafatoso, mas tem algo nela que me deixa louco. Certamente alguém vai dizer que é por ela ser proibida para mim, mas já estive em situações bem piores com esposas de amigos meus e ainda assim eu consegui me conter.

No fim da tarde saímos da casa dos meus pais e eu falei para Danilo e Fabiana voltarem para o meu apartamento comigo, mas ela insistiu em ficar na casa dela enquanto o meu irmão e eu aproveitávamos a noite juntos.

Depois de a deixarmos na casa dos seus pais, meu irmão e eu fomos para o meu apartamento para nos arrumarmos para a noite dos garotos.

– Você acha que a Jaqueline é a mulher certa? Que vai ser com ela que você vai viver para sempre? – Ele perguntou com um olhar curioso.

– Não sei, nós oferecemos o que o outro quer, não temos tanto tempo para ficarmos juntos e assim não temos tanto tempo para brigar.

– Mas você a ama?

– Eu gosto dela e nós nos damos bem, mas se amor for o que todo mundo tanto fala, acho que não a amo.

– Como se namora uma pessoa há tanto tempo sem a amar?

– Danilo, creio que essa é a primeira vez que você se apaixona de verdade. É a primeira vez que você realmente quer estar com alguém e entendo que tudo seja forte demais hoje, mas com o tempo você descobre que a paixão não vai durar para sempre.

– Paixão e amor são coisas totalmente diferentes. Eu amo a Fabi, sei que em algum momento das nossas vidas nós não teremos a mesma vida sexual que temos hoje, que não vou mais ficar obcecado pela imagem dela, mas também sei que jamais vou querê-la longe de mim. Que jamais vou sentir isso por outra mulher, pelo menos não enquanto eu a tiver ao meu lado.

E de repente, diante de mim não havia mais o meu irmãozinho a quem eu ensinei diversas coisas, diante de mim estava um homem maduro e convicto dos seus sentimentos por sua namorada.

Naquele instante eu o invejei, de verdade. Como deve ser maravilhoso ter um sentimento tão forte que transcende a razão. Como deve ser maravilhoso dormir e acordar ao lado de alguém que só te faz bem. E por alguns instantes eu tentei me enxergar ao lado de Fabiana. Como ela me faria rir e como tiraria sarro do meu jeito sério ou dos assuntos chatos do trabalho. Como seria ter seu corpo enroscado no meu todas as noites enquanto dormimos. Como seria ouvir sua voz me despertando de manhã para tomar o café que ela preparou. Como seria ter aquele olhar apaixonado só para mim. E depois desses pensamentos, a inveja só aumentou.

– Você é um cara de sorte, irmãozinho. – Falei com sinceridade.

– Eu sei. Quem diria que uma bebedeira me colocaria diante da mulher da minha vida.

Pegamos um carro pelo aplicativo e seguimos para um bar na região dos Jardins que eu gosto bastante. O lugar tem um espaço bar mais reservado, mas também tem um palco com atrações ao vivo. O lugar estava cheio de belas mulheres e é claro que eu olhei para algumas. Meu irmão estava animado por sair comigo, me contou diversas coisas sobre sua vida, sobre seu trabalho e sobre a faculdade. Em momento algum ele olhou para outra mulher, o que me fez admirá-lo um pouco mais.

– E como são seus sogros? – Perguntei o provocando.

– Eles são demais, tipo o papai e a mamãe, mas com a casa muito mais cheia do que a nossa, pois o irmão gêmeo dela tem uma namorada que é sua amiga de infância, ela tem um irmão que namora uma garota que é a melhor amiga delas duas, então você deve imaginar como tudo fica agitado nos finais de semana em que nos reunimos.

– Vocês conversam sobre o passado um do outro? Se ela já teve um namorado, ou coisas do tipo?

– Conversamos sobre tudo, mas é claro que eu prefiro não entrar em detalhes sobre a vida amorosa dela antes de mim, assim como ela também prefere não saber onde aprendi as coisas que faço com ela.

– E vocês têm feito muita coisa? – Perguntei realmente curioso.

– Um bom bocado. Com ela é muito bom, melhor do que já foi antes. Acho que tem essa coisa do sentimento, e eu quero que ela sinta prazer também, até mais do que eu.

– E vocês se cuidam, não se cuidam?

– Claro. Nós queremos ter filhos, mas este não é o momento, temos tantas coisas para fazer juntos. Tem tantos lugares que queremos conhecer juntos, tantos planos.

Fiquei impressionado, pois não eram planos de dois jovens afobados, eles faziam planos, fizeram desde o primeiro dia juntos. E de repente eu me imaginei sendo tio dos filhos deles. Imaginei Fabiana com uma grande barriga esperando quem sabe gêmeos. Imaginei nossas famílias alegres celebrando a chegada do herdeiro do meu irmão e enquanto eles estivessem neste tipo de celebração eu estaria em algum lugar do mundo, talvez ainda me dedicando ao trabalho, talvez gastando o dinheiro que ganhei durante os últimos anos. Talvez eu estivesse sozinho e deprimido por descobrir que eu nunca amei ninguém, quem sabe deprimido por saber que Fabiana era tão feliz ao lado do meu irmão que nunca sequer tenha me olhado como eu tenho olhado para ela nas nossas poucas horas de convivência.

– O que foi? – Danilo perguntou me tirando dos pensamentos desagradáveis.

– Nada, estava aqui pensando quanto tempo se passou, que você amadureceu tão depressa.

– A mãe sempre diz que nós sempre fomos precoces demais.

– Nós? Eu nunca falei dessa maneira.

– Você nunca falou assim sobre compromissos, mas sempre foi focado na sua carreira.

– Fiquei com a parte chata. – Brinquei.

– Eu acredito que seu pensamento vai mudar quando você conhecer a mulher certa.

Sorri pensando na mulher certa, mas infelizmente a única mulher que vinha em minha mente era justamente a única que era realmente proibida para mim.