Rainha do deserto

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É hoje o dia em que o rumo da minha história muda. Coloco as malas no porta-malas do carro e Hassan dirige rumo ao aeroporto.

Esse é o momento perfeito para resolver alguns conflitos internos, desde à reveladora reunião com Mustafa Malik.

— Então Mustafa Malik é o dono da Sharikat Danib, em Dubai. — Entro no assunto. Hassan parece raciocinar o que isso significa e agora tenho sua total atenção.  — O casamento de Amira foi um acordo?

Ele ri. — Yalah sadiq, todos os nossos casamentos são acordos. Olhe o mapa e veja onde estamos. Minha família tem empresas por Egito, Turquía, Irã, Paquistão, dentro de pouco na Síria pelo casamento de Ajilah e em Dubai pelo casamento de Amira.

Porra, que merda.

Eu fico atento, muito atento. Olho para fora e agora posso ver algo que não conhecia desse continente. Agora entendo porque as famílias conseguem tantos poderes. Porque as coisas são como são.

Eles são bons jogadores. E aqui o poder está nas mãos de quem o conquista.

Então ele continua: — No nosso meio não se trata apenas de dinheiro, quem tem mais influência, sempre ganha.

Eu gravo essas palavras como uma tatuagem em minha mente.

— Abrace seu destino, sadiq. Que Allah o acompanhe. — Hassan segura meus ombros e damos um beijo a altura de cada lado do rosto.

— Obrigada por tudo, sadiq. — Ele acena em resposta e me despeço de Hassan. Considerando-o um grande amigo.

Me despeço de Beirute com um pesar no peito, agradecido pelas belezas, diversões, descobertas e aprendizagens que essa cidade me concedeu.

Embarco e o comandante avisa que o voo terá a duração de duas horas e cinquenta minutos. A previsão do tempo é boa, porém avisou as ocorrentes turbulências ao passarmos pelo deserto saudita.

E como de costume, essas horas de voo me trouxeram à perspectiva analítica de como foi perturbador como tudo aconteceu. A condição do grande e triunfante acordo com Sharikat Danib, era perder Amira.

E porra. Isso dói, saber que seria um ou outro, saber que havia escolha, e escolhi desconhecendo-as. Me lamento profundamente pelo direito que não tive. Mas... eu sei que não dependia só de mim. Mohamed é um grande jogador, e eu não esperava seu cheque-mate.

Eu me pergunto se a escolha teria sido diferente se me tivesse siro dada a opção? Se eu tivesse a real consciência sobre como tudo funcionava?

Mas a escolha já foi feita.

E eu me sinto a porra de peão no tabuleiro de xadrez, dando passos coordenados e pequenos, sem entender os possíveis caminhos do gigante tabuleiro.

E eu me sinto a porra de peão no tabuleiro de xadrez, dando passos coordenados e pequenos, sem entender os possíveis caminhos do gigante tabuleiro

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Olho pela janela do avião e vejo a imensidão desértica. Um frio sobre por minha espinha e já posso avistar a cidade de Riad no horizonte.

Sobrevoamos a cidade e vejo que é extensa. É uma visão que jamais esquecerei. A cidade está  perdida em meio ao deserto, as casas mais corticais da cidade se perdem em bairros de areia. E o deserto é a única coisa que reside por toda a periferia e horizontes da cidade.

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