Meu martírio é longo, estou nessa quebra de braço há seis anos, desde que o vi pela primeira vez aos quinze. Me lembro perfeitamente, tinha passado um período morando fora, primeiro foi para estudar, depois ficou por causa do trabalho e, quando finalmente voltou, trouxe uma esposa a tiracolo. Mesmo com toda a comoção durante sua chegada, quando nossos olhares se encontram foi como se meu coração tivesse pulado uma batida, o que senti só pode ser descrito como a primavera, que floresce o que estava germinando, mesmo que sem intenção.Seu olhar firme me desmontou de tal maneira que desviei o olhar para meus pés, tentando controlar o rubor que tomava conta do meu rosto, inspirando profundamente tentando tranquilizar as batidas desenfreadas do meu coração. Meus pais e sua esposa fizeram graça da minha timidez a chamando de graciosa, o que me deixou ainda mais envergonhada. Todos notaram como sua presença me afetou e naquele momento eu só queria sumir. Quando veio, a passos decididos em minha direção, envolvendo-me num abraço carinhoso e cheio de proteção, sussurrando em meu ouvido - "Estou feliz de finalmente te conhecer minha princesa". O modo como estávamos ligados e sua voz marcante causaram um arrepio por todo meu corpo, o que você notou, obviamente, tirando um sorriso de seus lábios. Ainda em seu abraço, sinto o movimento do seu corpo quando volta a me confortar - "Não ligue para eles minha princesa, eu...", sua frase é interrompida por sua esposa que chama sua atenção, quebrando nosso momento. Aparentemente ficamos tempo demais assim pois meus pais nos olhavam com curiosidade e sua mulher, com desdém. Saio do seu calor encarando o chão, peço licença e vou para meu quarto sem olhar pra trás, precisava processar o que estava acontecendo comigo. Como que eu, que nunca tinha me interessado por ninguém, podia me abalar desta maneira, apenas a primeira vista, isto não era possível, não havia pensamentos carnais em mim até aquele momento e agora, percebo que notei com bastante atenção seus detalhes físicos com extremo interesse. Seus olhos castanhos, intensos e sérios, pareciam cheios de segredos. A boca, cheia e desenhada, exibia um sorriso maroto que me fazia imaginar como seria beija-la. Seu rosto era bem masculino, marcado por uma barba bem aparada, sobrancelhas grossas, os cabelos castanhos e volumosos, arrumados de maneira despojada te deixavam extremamente atraente. Por fim, o toque final, um corpo alto e sarado, completavam o Adônis à minha frente. Sua chegada foi ao entardecer, sendo sugerido um jantar fora, que foi prontamente aceito por vocês, portanto deveria me trocar rapidamente para voltarmos logo pois, precisavam descansar da viagem. Subo às pressas para mudar de roupa e minha mente não para de pensar na presença forte e atraente do meu tio Pedro. Não posso fingir que sua esposa não é maravilhosa também, e isto me deixou muito insegura com minha aparência, por isso resolvi escolher roupas que escondessem meu corpo juvenil e, se possível, eu também. A verdade era que não queria que comparasse a mulher ao seu lado com uma menina, o que era cômico pois quem diria que meu tio me olharia com segundas intenções. Pela primeira vez senti a pressão de ser bonita, me sentir bonita para impressionar alguém, esta angústia me fez chorar olhando no espelho meu reflexo, uma menina, pequena de estatura, de cabelos castanhos sem personalidade, olhos castanhos claros que não tinham nada de diferente. Meu corpo não tinha nada atraente, era apenas um amontoado de seios pequenos, bunda pequena e, um peso até que controlado, resumindo, sem chances de ser notada por você, visto que sua esposa era loira, de olhos azuis, corpo escultural, alta e magra. Foi inevitável o sentimento de insatisfação. Acabo vestindo uma calça jeans básica, uma camiseta larga preta e um tênis, prendi meu cabelo num rabo de cavalo e desci para a sala já esperando encontrar todo mundo me esperando. Me assusto ao encontrá-lo sozinho, sentado no sofá olhando o celular com atenção. Paro abruptamente e viro, tornando a subir, numa clara tentativa de o evitar. Meus planos são frustrados quando escuto sua voz melódica me chamando - "Aonde você vai, minha princesa?", mais parecia um encantamento, pois deixava minha pele arrepiada, o que sinceramente me assustava pois não podia acreditar nesse poder que exercia sobre mim. Ainda de costas, petrificada e dividida entre fugir ou aceitar minha sentença, opto por tentar subir outro degrau, o qual eu nunca cheguei a encostar, pois seu chamado desta vez estava tão próximo -"Princesa, não precisa fugir...", sentia seus dedos tocando gentilmente minha mão, num aperto reconfortante. Delicadamente gira meu corpo de frente para ele. Fecho meus olhos com força, podia sentir seu calor, seu cheiro tão facilmente, não sei se parecia loucura da minha cabeça mas parecia que sua marca estava sendo gravada em mim, de modo que quem chegasse perto saberia, este corpo não teria outro dono. Levo a mão livre para tampar meus olhos, massageando a área por conta do nervosismo. Ainda estamos na mesma posição e só consigo sentir sua presença me atingindo em ondas contínuas, aquecendo e fazendo meus hormônios gritarem por mais, me deixando envolvida em sua aura. Percebo o toque de sua mão na minha cintura e eu não conseguia entender o que estava acontecendo, só podia ouvir nossas respirações aceleradas enquanto nossos corpos se comunicavam em silêncio. Novamente sua esposa quebra o momento, gritando seu nome, o susto faz com que se afaste de mim rapidamente e eu, possa finalmente respirar de novo quando, as pressas, segue até sua mulher.
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Você é meu, Titio
RomancePequeno conto sobre desejo, tentação, traição e entrega. Uma garota se apaixonou jovem e convive com esta paixão secreta durante anos, até que finalmente decide tomar uma atitude, ou ele seria dela ou seguiria em frente sem olhar para trás.