5º Ano - Parte 8

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Alice

Estava terminando de comer um lanche quando escuto o toque do meu celular preencher o ambiente silencioso da casa. Olho em direção do aparelho em cima do sofá e não consigo evitar o temor de uma notícia ruim. Suspiro pesadamente, levanto da cadeira com as pernas trêmulas e avanço sem firmeza até a sala. Na tela aparece o nome da Natália e uma vertigem percorre minha espinha. Inspiro profundamente, pedindo a Deus que me desse um minuto de paz antes de aceitar a chamada.

- Alô?. Atendo temendo o que estava por vir. Soluços e fungadas saiam do fone de ouvido e imediatamente a tristeza de mais cedo volta a tomar conta do meu espirito, trazendo lágrimas aos olhos.

- Alice, me desculpa...Me desculpa... Natália só chorava e se desculpava. Minhas lágrimas acompanhavam seu choro numa conversa silenciosa de almas abatidas pela dor.

- Ele desistiu, não foi?. Pergunto depois de um bom tempo. A dor de emitir aquelas palavras, acho que não seria possível de descrever, mas acredito que se assemelha com uma lança em brasa atravessando sua pele. 

Corta...

Dói...

Queima...

Sangra...

Mina...

Te mata.

- Sinto muito Alice... Ele... Ele... Ele foi embora. Fala num sussurro.

E então eu sinto, a hora que o golpe final atingiu meu corpo. Se antes era apenas uma ferida, agora seria como se estivesse recebendo uma chuva de lanças com o único objetivo de matar minhas esperanças, e matou. Largo o celular, que cai no chão e choro. Meu corpo se encolhe em agonia pela dor e despenca sem forças no chão frio, frio como meu coração sem vida. Esfrego a pele do meu peito, tentando aliviar a falta de ar, sentia que estava afogando. Meu ataque de ansiedade e pânico durou tanto tempo que nem percebi o momento que meu cérebro desligou e cai num sono profundo. 

...

Volto à consciência, notando que não estava mais na sala e sim deitada numa cama de hospital. Com dificuldade vou acostumando a vista para notar o ambiente à minha volta. Avisto, numa cadeira desconfortável próxima da maca, minha mãe dormindo com o corpo todo tordo, parecia exausta pela falta de cuidado como estava deitada. Observo seu sono com preocupação, o que será que me trouxe aqui, me pergunto. Sinto uma coceira no braço e aí percebo que estou com uma punção venosa conectada. Elevo o olhar para um suporte ao lado da cama e consigo ler no rótulo a mistura de Alprazolam com o soro fisiológico. Puxo na memória o nome mas não reconheço, teria de aguardar minha mãe para perguntar. Numa mesinha ao lado, identifico um copo com um líquido transparente, que acredito ser água. Com cautela por causa do braço, estico o corpo e consigo o alcançar sem muitos problemas. Percebo uma pontada de dor nas costelas por causa do movimento mas nada preocupante. Cheiro o líquido e confirmo ser água mesmo, levo o copo à boca afim de molhar a garganta ressecada. Tomo tudo mas ainda não foi o suficiente, olho novamente para minha mãe e me culpo por despertar seu sono cansado mas estava com muita sede.

- Ma... Mãe. Chamo com a voz rouca e falha.

Ela se mexe na cadeira e desperta assustada. Quando percebe que estava acordada levanta num rompante e corre para envolver meu corpo num abraço apertado. Sinto seu peito expirar com alívio.

- Filha, meu Deus. Estava tão preocupada. Como está se sentindo?. Fala apressada enquanto passa a me analisar.

- Es...Estou com muita sede. Respondo ainda com dificuldade.

Você é meu, TitioOnde histórias criam vida. Descubra agora