5º Ano - Parte 2

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Permanecemos sem reação por alguns segundos enquanto o toque ecoa pelo carro. A mudança do seu comportamento é assustadora, antes seu toque era acolhedor, carinhoso e sensual agora, torna-se duvidoso, arredio. Um olhar tomado pela culpa me encara, sinto meu coração murchar com o que vejo, não acredito que depois de nos declararmos ele possa agir assim. Quebrada, saio do seu colo em silêncio e cabisbaixa. Apesar da chamada continuar preenchendo o ambiente, o silêncio era gritante. Seu olhar segue meus movimentos, como se temesse que fosse fazer alguma loucura. Recolho minhas roupas jogadas no chão do carro tentando, com muita dificuldade, segurar as lágrimas. Cubro minha vergonha, ainda sentindo seu esperma escorrer entre as pernas. Mordo o lábio para segurar qualquer som, não irei chorar na sua frente. Percebo que tenta falar algo mas, no fim se cala e começa a procurar seu telefone que volta a tocar pela quarta vez. 

- Alô?. Atende, claramente nervoso. Posso ouvir a voz estridente de sua mulher despejando um monte de repreenções do outro lado da linha.

- Me desculpa Sarah, meu celular está para vibrar. Se justifica, reviro os olhos quando escuto o nome dela. Ela volta a brigar sobre a demora para atender e como ele tem que atender ela imediatamente.

- Querida, eu tenho que permanecer o tempo que o cliente necessitar, você sabe disso. Fala fatigado. Sua postura vai se curvando, como se tivessem colocado um peso em suas costas. Esfrega a testa com uma levre pressão, parecia que estava com dor de cabeça.

- Eu não vou na minha irmã, saindo daqui já vou direto para casa. Responde estafado. Posso ouvir ela proibindo ele de ir até a casa de minha mãe sem a presença dela e, sinceramente, me preocupo com sua declaração. Seria possível ela saber ou desconfiar de algo, pondero.

- Já estou terminando, quando pegar a estrada, te ligo para avisar. Fala secamente. Dessa vez não consigo entender sua resposta, já que o tom estava mais calmo e baixo mas, acredito que se satisfez com a sua resposta.

- Tchau. Se despede e desliga. 

Meu rosto estava voltado para janela o tempo todo, não queria olha-lo neste momento. Ainda em silêncio, pega suas roupas e se veste também. Não consigo acreditar que, depois do que compartilhamos, ele consiga me tratar desta forma. Fecho os olhos tentando controlar a raiva que nascia dentro de mim, preciso sair daqui imediatamente e, é o que eu faço. Saio do carro e caminho apressadamente em direção à cafeteria sem olhar para trás. Imploro que venha correndo atrás de mim pedir meu perdão e me animo quando escuto o som da porta se abrindo. O som de suas passadas estava pesado, parecia temeroso do que o aguardava ao chegar ao seu destino. Apoio meu corpo no beiral do mirante, pensando sobre como a vida é imprevisível mesmo, num momento estou completamente feliz, já no outro, destruída e com raiva. Aguardo sua aproximação estoicamente, me recuso a olhar para trás. Quando finalmente se posiciona ao meu lado, me permito olha-lo e o que vejo acaba comigo, sua feição fechada, endurecida estava direcionada para o parque abaixo e, parecia tomado pela raiva e, pior, podia sentir que sua reação estava voltada para mim.

- Você conseguiu... Fala com frieza. Eu só queria conversar com você sobre seu comportamento, sobre sua libertinagem e, olha só o que fez, me fez perder a cabeça e transar com você, minha própria sobrinha. Você não tem vergonha?. Questiona raivoso.

Meu olhar não deviou do seu nenhum segundo, estava esperando o momento onde fosse dizer que estava brincando, que nada daquilo era verdade mas, este não chegou. Era impossível controlar que lágrimas furtivas molhassem o meu rosto aquecido e vermelho, não conseguia decidir qual sentimento era maior, a tristeza ou a raiva mas, eu não ficaria aqui para ouvir mais nenhuma palavra. Giro meu corpo e sigo para dentro do estabelecimento, quero distancia desse monstro que achei ser o amor da minha vida mas que, infelizmente, me enganei. Escuto-o chamar meu nome, como se ordenasse minha atenção mas, não dou bola. O atendente direciona o olhar para porta, quando escuta o sininho que anuncia a entrada de um novo cliente, percebo que me observa desconfiado pela minha cara de choro mas logo volta a atenção para o celular, me deixando à vontade. Avisto o banheiro e me dirijo até ele para lavar o rosto e ligar para um Uber vir me buscar. Evito olhar para o espelho, pois não queria ver a imagem ali refletida da garota derrotada e humilhada à minha frente. Mas, como uma masoquista, lá estou eu encarando a menina ingênua e infantil que achava que principe encantado existe e que ele iria me tratar como uma princesa, ledo engano, na verdade além dele não se comportar com educação, portou-se como um bruto, um ogro e eu me puno por não ter achado que seu comportamento grosseiro, o qual conheci ao longo dos anos, poderia ser ainda pior. Quando saio, quase trombo com seu corpo porém consigo me esquivar e não permito que me toque quando tenta segurar meu braço. Rosna enraivecido pela minha atitude mas, se controla por estarmos em público. Paro em frente ao caixa e peço um suco de maracujá e um pão de queijo, preciso me acalmar, sento numa mesa para aguardar meu pedido. Escuto o som da porta se abrindo e sei que meu tio saiu do estabelecimento. Novamente recebo o olhar desconfiado do atendente mas fico em silêncio.

- Você está bem moça?. Aquele homem está te incomodando?. Pergunta preocupado.

- Estou bem, só tive uma discussão e estamos brigados no momento, mas obrigado. Digo educada, sem dar muito espaço para continuar a conversa.

Abro o aplicativo e faço o chamado, quando acho um que aceita a corrido me frusto por ter de esperar dez minutos para chegar mas, era melhor do que entrar naquele carro novamente. Recebo meu pedido, como e bebo sem pressa não queria ter de sair dali de dentro antes do carro chegar. Vejo meu tio andando de um lado para outro, impaciente todavia aquilo não me importava mais. Passo o resto tempo no celular, vendo qualquer besteira para não voltar a chorar, coisa que ia acontecer a qualquer momento já que repassava suas palavras em minha mente a todo momento. Como pôde fazer isso comigo, me pergunto. Disse abertamente que estava apaixonado também, que eu era dele e agora, diz que eu o fiz transar comigo, não era possível que eu inventei todas suas reações na minha cabeça. A cada nova lembrança de suas declarações, mais raiva brotava no meu peito - filho da puta insensível. Suspiro aliviada quando avisto o carro parar em frente à cafeteria, recebo a mensagem do motorista e logo levanto, pago meu consumo, saio da loja e entro no carro sem olhar para trás. Pelo retrovisor posso ver meu tio se movimentando exasperado pelo o que havia acontecido e não consigo evitar um sorrio maldoso nos lábios, ele não me machucaria deste jeito novamente.




Você é meu, TitioOnde histórias criam vida. Descubra agora