5º Ano - Parte 4

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Sinto um alívio imenso quando finalmente paro em frente à minha casa. Acerto a corrida e sigo apressada para dentro em busca de proteção, meu espírito quebrado precisava de um lugar seguro para tratar as feridas causadas por aquele monstro. Com passadas largas chego rapidamente ao meu quarto, arranco com raiva as peças de roupas do meu corpo. Enojada, junto-as em um bolo e as jogo no lixo, onde seriam posteriormente descartadas. Minha pele coça, era como se estivesse tendo uma reação alérgica, se defendendo dos resquícios do seu toque. Com urgência, entro debaixo do chuveiro para lavar os vestígios de nosso encontro. Estava agindo mecanicamente, a mente ainda adormecida de tudo que tinha ocorrido a momento atrás. Esfrego o corpo afim de me livrar de sua presença mas, assim que toco minha vagina e sinto o esperma viscoso ainda presente, e é quando eu surto. Grito com todas as forças, um som de pura agonia que saia das profundezas da alma. Perco toda a força de sustentação que me mantinha em pé, escorregando contra os ladrilhos gelados. Sentada, abraço minhas pernas de maneira protetora, fechando-me para tudo ao redor e choro, choro como se não fosse sobreviver a este sentimento horrível que me envolve. Os soluços escapam incessantemente, fazendo meu corpo sacudir-se em resposta. Cada segundo desde que nos encontramos pela primeira vez passam como um filme em minha mente. A atração instantânea com minha pouca idade deram forças para meu coração se entregar com facilidade, as maravilhas do primeiro amor. Hoje vejo que todo este sentimento foi em vão, ele nunca se entregaria como eu, seu amor não era verdadeiro, tudo não se passou apenas de atração carnal da parte dele. Minutos se passam, os soluços param, o choro diminui e a ferida parece parar de sangrar. Uma nova casca começa a se formar, mais forte e grossa envolvendo meu coração. Eu sei que a tristeza ainda vai durar para passar de verdade pois, a dor entrou na corrente sanguínea que transita pelo corpo, tornando-se parte do meu ser. Sinto nascer uma determinação que me é estranha, desejo recuperar minha vida, viver sem as amarras do seu amor que me apriosionam. Já mais calma, levanto-me e saio debaixo do chuveiro. Envolvo uma toalha no corpo e outra nos cabelos, paro em frente ao espelho acima da pia e enfrento meu reflexo. A imagem é assustadora, olheiras profundas, nariz e lábios inchados mas, encontro um brilho de determinação em meu olhar que faz surgir um leve sorriso esperançoso. De volta ao quarto, termino de secar meu corpo e tomo um susto ao ver as marcas feitas pelo meu tio espalhados pela pele, era assustador a quantidade. Para qualquer lugar que olhasse, via-se pequenas ou enormes descolorações causadas por suas mãos e boca. Trinco o maxilar enraivecida por me lembrarem do maior erro que já cometi na vida, teria dificuldade em esconder todas as manchas. Depois de trocada, utilizo-me de maquiagem para disfarçar os chupões do pescoço e pego meu telefone para chamar a única pessoa que poderia me ouvir nesta situação. Suspiro pesadamente, aguardando Natália atender a chamada.

- Eu já estava ficando doida de tanta curiosidade Alice. Já atende espirituosa e bufo. Permaneço em silêncio, tentando achar um jeito menos doloroso de contar minha humilhação.

- Vixe, essa pausa não me traz um bom pressentimento. Percebe na hora que não estava bem.

- Eu cometi a maior burrada de toda minha vida Nat. Jogo as palavras pra fora do meu peito.

- Calma Ali, me conta o que aconteceu. Estimula.

- Eu transei com ele e, depois ele me chamou de vagabunda. Conto, minha voz endurecida pelo rancor.

- O QUÊ?. ELE TE CHAMOU DE VAGABUNDA?. Explode furiosa.  

- Me conta exatamente o que aconteceu Alice. Pede e conto tudo o que aconteceu desde que ele me ligou mais cedo até a hora que fui embora sem olhar para trás, Natália escutou em silêncio me deixando extravasar tudo. Ao final fica calada, absorvendo a história.

- Nossa, que babaca. Meu, não tem uma vez que ele consiga se comportar como um adulto. Parece um moleque com essas atitudes. Critica com desgosto.

- Eu sinceramente cansei, sabe?. Não vou mais viver minha vida fazendo dele o centro do meu mundo. Aviso determinada.

- Olha amiga, você está certíssima. O cara não tem maturidade, que isso... Fala ainda desacreditada. Será que ele ligou para o Rodrigo?. Questiona curiosa.

- Não sei, talvez. Quem vai saber o que aquele cara pensa?. Eu não consigo o entender. Falo exasperada.

- Eu vou ligar para o Rô, se ele falou com ele você vai querer saber?. Pergunta com cautela.

- Deveria não me interessar por mais nada que se refere a ele mas, pela última vez preciso pelo menos de uma justificativa, nem que seja a maior mentira pois assim eu encerro de vez essa zona que se tornou nosso relacionamento. Respondo sincera.

- Claro prima, eu te aviso. Daqui a pouco retorno. Despede-se e encerra a chamada.

Encaro o visor agoniada, tinha medo do que poderia descobrir depois da conversa entre os dois, meu coração traiçoeiro já está esperançoso de que exista alguma justificativa que vai resolver tudo e isso me dá medo pois, apesar de poder existir uma isso não exclui a possibilidade dele voltar a fazer algo assim novamente. Balanço a cabeça em repreensão ao meu comportamento, só quero saber se ele é um babaca de classe maior ou só um babaca sem noção e a partir daí, trilhar um novo caminho para minha vida.

Por favor, imploro para o universo, eu só quero ser feliz.

Você é meu, TitioOnde histórias criam vida. Descubra agora