6º Ano - Parte 2

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Alice

Dizer que estava ansiosa, era pouco para o estado que me encontrava. Todo meu corpo vibrava como se uma corrente elétrica tivesse substituído o sangue de dentro das minhas veias. Fazem exatos quarenta dias que soube que meu tio viria para a viagem de final de ano e isso vem me tirando do eixo. Não consigo dormir, comer, pensar em outra coisa, que não seja encontrá-lo. Às vezes Natália se preocupava com meu comportamento, dizia que agia de modo obsessivo, já que uma única menção ao seu nome roubava toda minha atenção e parava tudo o que estava fazendo para prestar atenção. Na primeira vez que disse isso, tive receio de estar certa e que estava deixando de viver minha vida mas, acontece que eu sinto uma conexão tão forte que, mesmo distante, me mantém ligada à ele e deste modo, tudo o que diz respeito à ele, seria como se dissesse à mim também.

.....

Nós estávamos atrasados, saímos bem mais tarde do que o planejado. Meu pai foi o culpado, pois continuava a enrolar para sair de casa. Minha mãe parece indecisa, perdida em pensamentos, parecia que todos dentro do carro estavam perdidos em seus próprios mundos. No meu caso, usei o tempo da viagem para imaginar o que iria acontecer assim que nos víssemos e fantasiava com meu tio correndo ao meu encontro e tomando minha boca num beijo apaixonado. O tempo voa quando penso no meu tio, tanto que me assusto ao avistar a casa de praia alugada pela nossa família, logo à minha frente. Meu pai nem chega a desligar o carro direito e já estou saindo, caminhando apressadamente em busca dele. Meus olhos percorrem todo o ambiente, desesperada para vê-lo. O impacto vem quando, o encontro sentado ao lado de sua esposa, com ela agarrada ao seu corpo e foi como se estivesse recebendo um soco. Paro abruptamente, encarando a cena à minha frente com nojo. Seu corpo parece perceber meu olhar fixo e vira o rosto em minha direção. Arregala os olhos e engole em seco, provavelmente por reflexo ao meu semblante sombrio. Balanço a cabeça desacreditada e saio dali, praticamente correndo.

Eu sei que ele tinha decidido ir embora e me deixar, mas sempre achei que tivesse feito isso por querer me proteger. Agora, não sei se acredito mais nessa coisa de proteção pois, a única pessoa que realmente podia me machucar era ele, e meu tio parecia determinado em fazê-lo em toda oportunidade que tinha. Fungando alto, sigo até meu quarto, o qual este ano usaria só já que Natália tinha feito uma viagem com os amigos da faculdade, a qual incluiu o Rodrigo. Ela me chamou para ir junto com o objetivo de ajudar a esquecer meu tio, mas sinceramente, não tinha vontade de ir e passar o tempo com um bando de pessoas felizes e animadas pois não condizia com meu humor. Entro apressada e tranco a porta atrás de mim, a primeira lágrima escapa assim que me vejo protegida pela solidão do ambiente e choro copiosamente. Me arrasto até a cama e deito meu corpo cansado, aguardando a exaustão me desligar.

Acordo com o som de batidas na porta e meu nome sendo chamado do lado de fora, olho ao redor e noto que já escureceu. Nossa por quanto tempo dormi, me pergunto. Quando meu cérebro volta a funcionar, percebo que era minha vó que estava me chamando e logo deixo ela entrar.

- Oi minha menina. Estão todos preocupados com você, mal chegou e já correu para o quarto sem falar com ninguém. Comenta avaliando meu rosto.

- Ah vó... Eu... Eu... Não consigo concluir a frase e desvio o olhar para as minhas mãos.

- Alice... Chama meu nome com preocupação.

- Querida, nem tudo é o que parece. Avisa, e volto a encara-la com a expressão confusa.

- Do que a senhora está falando, vó?. Pergunto com cautela.

- Estou falando para você não julgar tão rápido uma situação. Diz sucinta, meu olhar permanece preso ao dela tentando buscar qual seria sua intenção com esta conversa, pois falava claramente da minha reação ao meu tio.

Você é meu, TitioOnde histórias criam vida. Descubra agora