O Rei Leão: A Guerra Dos Reinos

Cap. 8: Gota de Chuva

Ao amanhecer, Ahadi pôde ver o quão seus aliados estavam machucados. Ele conseguiu ter uma dimensão do que estava vindo em sua direção.
O rei viu o olhar vazio de seus filhos, perdidos em um sentimento profundo de dor alucinante, que rasgava seus corações toda vez que lembravam do avô.
Ahadi olhou para o horizonte e se calou. Durante dias, ninguém o viu, ele permaneceu sentado no topo da pedra do rei, sem comer, sem beber e sem interagir com seus aliados.
Askari e seu exército ainda estavam por aí, escondidos aguardando o momento exato para atacar.
O céu se escureceu nos últimos dias, cinzento quase negro. As gotas de chuva que caíam sobre a savana acompanhavam as lágrimas de Ahadi como um rio que flui naturalmente.

- Eu não estava lá... - disse Ahadi em profunda solidão. - Vocês não estão mais aí? Não consigo escuta-los...

Suas palavras soavam tão vazias. O silêncio do céu, o fazia chorar mais ainda. A tempestade de raios castigava a savana, os ventos fortes levavam árvores, animais pequenos para bem longe.
A chuva forte fazia com que o rio invadisse o reino, levando animais ao afogamento imediato. Ninguém se atreveu a subir, Ahadi era o único que tinha a coragem de permanecer em um local alto com a natureza estando tão furiosa.
Lia e seus filhos, se protegiam da chuva dentro da pedra do rei com todos seus generais e leões que restaram.

- Acho que alguém precisa ir lá em cima. - disse Leo.
- Eu tenho medo... - disse Shine.
- É perigoso de mais. - disse Lia. - Deixem o seu pai, ele precisa desse momento.
- Já fazem dias que ele está lá em cima. Alguém deveria ir ver se ele está bem.
- Eu irei. Enquanto isso, fiquem aqui.

Lia subiu até o topo da pedra do rei. Ahadi permanecia lá, sentado olhando para cima, esperando que os reis do passado o respondessem.

- Deveria entrar. - disse Lia sentando-se ao lado de seu rei.
- Os reis, se calaram...
- Querido, não pode se culpar por tudo.
- Posso sim... Eu não estava lá. O leão mais forte de todos. Não estava na batalha. Que tipo de rei sou eu?
- Guerras são um jogo perigoso. As vezes você acerta, mas as vezes também erra. Cometeu um erro ao dividir seu exército, porém é um erro que deve ser perdoado. Não tinha como você saber de qual direção eles iriam vir.
- Meu pai se foi... e eu não pude salva-lo.
- Não se pode salvar a todos em uma guerra. Askari ainda está por aí. Ele está jogando com estratégia, precisamos revidar com mais estratégia.
- Não dá para vencer, Lia.
- Por que não?
- Eles são muitos... muitos mesmo.
- A muito tempo, você não se importaria com o número de adversários.
- Antes eu via pouco e compreendia mais. Hoje, compreendo mais e vejo menos.
- Eu entendo...
- Sou o rei, Lia. Qualquer ato meu, gera resultados enormes. Sejam eles bons ou ruins.
- Eu sou a sua rainha, e continuarei sendo. Mesmo que perca essa batalha. Serei sempre a sua rainha.
- Eu farei de tudo, para proteger você e os nossos filhos.
- Sei que fará.
- Queria que o meu pai estivesse aqui.
- Aonde quer que ele esteja. Estará sempre com você.

Ahadi sorriu, e finalmente desceu da pedra do rei para junto de seus amigos. O rei mostrava sua expressão triste, e com um olhar profundamente vazio.
Ele se deitou e observou o nada, quando Leo e Shine deitaram ao seu lado.

- Você não tem culpa. - disse Leo. - Era eu quem estava lá.
- Leo tem razão. Você vale mais para nós vivo do que morto. - disse Shine com um doce sorriso.
- Eu arrisquei a vida de vocês. - disse Ahadi.
- Não se preocupa, pai. Foi uma jogada que deu errado. Ainda podemos vencer essa guerra.

Ahadi fechou os olhos e se pôs a dormir. Tarde da noite, a chuva permanecia densa e os trovões ecoavam na savana com fúria tremenda.
O rei despertou, e viu que seus filhos e sua rainha estavam em um sono profundo, assim como todos dentro da pedra. Ele se levantou olhou para todos e esboçou um doce sorriso. Ahadi saiu da pedra do rei, olhou para trás uma última vez e partiu.

- Até onde o reino se estende. - disse Ahadi partindo.