NO VERÃO PASSADO

cap 4 - reencontros

Quando chego na escola de manhã me surpreendo com Nicole que vem em minha direção junto com Amanda logo ao lado.

- Bom dia - diz Nicole

- Bom dia - digo meio receosa

- Precisamos conversar, pode nos encontrar na hora do intervalo atrás auditório? - disse Amanda.

- Sim - digo tentando não parecer nervosa e ao mesmo tempo feliz por estarmos conversando depois de tanto tempo

- Ok então, tchau - disse Nicole puxando Amanda junto com si.

Dou um suspiro fundo e continuo meu caminho.

***

Na hora do intervalo vou até o auditório assim como elas me falaram para fazer e me surpreendo ao ver ambas já me esperando.

- Estão esperando a muito tempo? - pergunto ao chegar perto delas

- Não, acabamos de chegar, chegamos antes pq nossa sala é perto do auditório - diz Amanda com uma voz simpática, diferente de Nicole que continua com a expressão séria em seu rosto. Já sei quem guardou mágoa, mas não julgo, fiz o mesmo todo esse tempo e ainda faço, mas não vou negar que fiquei com saudades e confesso que esse jeito frio como ela está me tratando me magoou um pouco.

- Você recebeu o desenho? - dessa vez é Nicole que se pronuncia

- Sim. E vocês? - respondo um pouco tímida

- Também - diz Amanda

- Se não tivéssemos recebido acha que estaríamos tendo essa conversa? - diz Nicole de forma rude.

Nicole sempre teve um estilo mais feminino, roupas leves, com estampas floridas e delicadas. Pele branca e cabelos loiros, com um corpo magro. Qualquer um que olhasse para ela acharia que é carinhosa e meiga, mas na verdade é o oposto e consegue ser bem fria quando quer.

- Ok então o que vocês querem? - digo com a raiva começando a aparecer

- Não é óbvio? Alguém sabe o que fizemos naquele verão e está tentando nos amedrontar.

- Talvez tenha sido só alguém que fez um desenho e quis nos presentear - digo tentando amenizar a situação por mais ridículo que aquilo soasse

- Você é muito ingênua mesmo né? Se fosse algum tipo de admirador secreto ele não mandaria para as três.

- Vai que ele é poliamoroso?

- Deixa de ser ridícula, eu sou lésbica, você namora e a Amanda ainda não superou o Gregory.

- A - não sabemos se é homem

  B -  ninguém escolhe por quem se apaixona, talvez o desenho seja uma forma de conquistar a pessoa e ainda sim se manter anônimo

E por último C - ela não superou, mas não está namorando.

- Isso é sério? - Nicole me olha come se eu tivesse acabado de dizer que a terra é plana e tenho um dinossauro de estimação.

- Ok. Mas mesmo se for uma ameaça, o que não sabemos se é. O que iremos fazer? Não tinha nome no desenho e tem mais de 200 pessoas nesse escola.

- Precisamos investigar, se a pessoa souber de algo pode.. - a interrompo impedindo que ela termine a frase.

- O que? Nos denunciar? Não existe provas, destruímos tudo esqueceu?

- Mas e se existir? E se não estivéssemos sozinhas naquele rio?

- Se você não tivesse feito aquele desafio idiota nada disso teria acontecido.

- Acha mesmo que eu queria que aquilo tivesse acontecido? Eu amava ela, sempre amei.

Quando estou prestes a responder somos interrompidas por um grito extremamente agudo e alto.

- CHEGA - diz Amanda finalmente se pronunciando - todas nós temos culpa, e se formos pegas, todas iremos para a cadeia ou talvez pior. Talvez até mortas, ninguém queria que aquilo tivesse acontecido, mas aconteceu e precisamos ter responsabilidade para assumir nossos erros, então calem a boca e vamos resolver isso como pessoas adultas.

- Somos adolescentes - digo

- Naquele verão não tinha nenhuma criança, né?

- Estávamos bêbadas - respondo com a raiva já me consumindo.

-  Mas não loucas. Sabíamos qual era o risco.

- Não fui eu que fiz o desafio

- Mas foi você quem apoiou

Fico quieta pois realmente apoiei aquilo, na verdade a Amanda foi a única que não concordou, mas até ela estava achando graça de tudo aquilo.

Após um longo tempo, que mais me pareceu uma eternidade, sem ninguém dizer nada, eu finalmente quebro o silêncio.

- Prometemos nunca mais tocar no assunto - digo sem olhar para elas

- Também falamos que iríamos protegê-la. E olha onde deu não é mesmo? - diz apontando para tudo em volta como se tivesse um plateia ao nosso redor

- Se quiserem participar dessa loucura ok. Mas eu vou viver minha vida como uma adolescente normal, esquecer que isso tudo aconteceu e comemorar meu aniversário de namoro como qualquer adolescente comum.

Dito isso eu saio andando e escuto passos atrás de mim, até que eles param e escuto a voz da Amanda.

- Deixa ela, não pode julga-la por querer viver.

***

Após toda aquela discussão corri para o banheiro e comecei a chorar como uma criança que não ganhou presente de aniversário. É meu último ano na escola e quando finalmente penso que estarei livre desse inferno, meu demônio particular decide aparecer novamente. Mas eu não vou ceder, não dessa vez.