Capítulo 49 - Nova York

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Nosso dia-a-dia era tão perfeito que eu já tava quase cogitando convidar Ana pra se mudar comigo pra Nova York; pra se estabelecer aqui de uma vez por todas. Aí lembrei que tava aqui temporariamente e que não tenho um visto apropriado pra ficar aqui. Parece que vamos ter que construir a nossa vida incrível em São Paulo mesmo, por enquanto.

Eu ia trabalhar e ela ia pro curso, a noite nos encontrávamos, jantávamos juntas, trocávamos beijos e carinhos e depois dormíamos felizes da vida. Era quase que uma bolha, sinceramente. Parecia até que a gente era invisível.



-Gatinha! Eu tenho que arrumar a mala. - Falei tentando me soltar dos braços de Ana na cama. Ela me abraçava forte sem deixar que eu levantasse.



-Eu não quero que tu vá embora, não deu pra perceber? - Falou contra o meu pescoço e eu ri.

-Eu também não quero ir, Ninha, mas eu vou voltar em breve... - Consolei.


-Em breve? Mulher, é Março e tu só vem de novo em Dezembro! - Rebateu.

-Eu sei, gatinha, mas vai voar! Nossos dias foram tão bons que vai compensar... - Tentei convence-la mais uma vez a me soltar.



-Será que eles não precisam que tu fique mais tempo?


-Não, Ana, a mulher nova já até começou a trabalhar e tá dando tudo certo, tá na hora de voltar ao serviço.



-Poxa... - Resmungou afrouxando os braços me permitindo levantar da cama. - É tão triste te ver indo embora.

-Acredita, eu não queria ir embora por nada; eu amei tudo aqui, amei tá contigo, amei a cidade, foi tudo perfeito! Se pudesse ficava mais.


-Larga tudo e vem então. - Pediu sentando na cama e eu ri da brincadeira dela. Ela não podia tá falando sério.


-Não dá, amor! Eu tenho que trabalhar! Cuidar da nossa casinha lá em São Paulo.


-Larga tudo lá, larga e vamos se mudar pra Nova York. A gente mora aqui mesmo. - Tentou convencer e eu sorri deixando um selinho nos lábios dela.


-É tentadora a tua proposta, mas eu não posso. - Falei. - Não ainda... - Repeti baixinho pra mim mesma.


Ainda não era hora de largar tudo por Ana, por mais que meu coração quisesse. Ainda bem que minha cabeça ainda funciona e me impede de tomar atitudes por impulso.

Como todas as outras vezes, me despedir de Ana não foi fácil, mas como se fosse possível, ser a pessoa que parte foi ainda mais difícil. É muito mais complicado deixar alguém do que ficar. Passar por toda a fila da segurança enquanto ainda lembrava das lágrimas tímidas que saíram dos olhos de Ana foi complicado. Queria voltar lá e beijar todas elas até que elas secassem; Ana não merecia sofrer ou ficar triste. Foi a primeira vez que nós duas chegamos ao ponto de chorar, provavelmente porque dessa vez não tinha ninguém pra nos consolar.

O ano passou tão normal e com poucos acontecimentos que a chegada dos vinte e oito anos nem bateu tão forte. Tudo bem que era realmente loucura chegar na idade que eu finalmente me permitiria casar, mas eu tava tranquila. Minha vida parecia estar encaminhada e a loucura do passado tinha, finalmente, passado.



Durante esse ano tive o prazer de conhecer Manu melhor. Ela e Isa estavam bem firmes e eu tava achando tudo lindo. Manu era uma guria legal e que com certeza tava fazendo Isabella muito feliz. Deco e Vitória marcaram a data do casamento pro dia vinte e sete de fevereiro, segundo ela essa data tinha vários significados de acordo com a astrologia. A cerimonia seria realmente em Fernando de Noronha; eu tô ansiosa demais!


Encaixes da Vida  |||  Romance LésbicoOnde histórias criam vida. Descubra agora