Sinto a presença da minha mãe pela primeira vez em dois meses hoje. É bem rápido, quase como um flash, mas está lá. Tiernan, a governanta deixou a roupa que eu iria vestir hoje selecionada na porta do closet. Geralmente eu e Tiernan nos entendiamos, ela ficava no canto dela e eu no meu, e se essa roupa estava aqui significava que minha mãe tinha escolhido. Ela nunca tinha trabalhado, mas fazia da imagem da família uma profissão.
No fundo, torci para que toda essa história de brunch fosse um delírio. Agora que estou aqui, cara a cara com a minha roupa tudo parece mais real. Não que eu tivesse planejado muita coisa, na verdade eu só iria comprar porcaria escondido e assistir alguma série, o que com certeza era melhor do que estar rodeada das pessoas de Holmes Chapel no sábado.
Termino de me arrumar de forma mecânica. Lingerie, meias, vestido, sapatos, maquiagem e jóias. As sutis jóias de milhares de euros. Estava claro que minha mãe estava me efeitando como uma futura esposa e posso sentir até vontade de dar risada, mas me recuso. Desde que comuniquei aos meus pais que iria seguir o mesmo caminho de Landon e cursar uma faculdade longe da cidade -infelizmente não tinha tido abertura pra falar que provavelmente seria longe do país- ela tentava a todo custo fazer com que eu reconsiderasse. Nunca entendi o por quê. Papai estava longe na maioria do tempo, e ela o seguia sempre que podia, na maioria das noites eu jantava sozinha e ia para cama sem nenhum telefonema de nenhum dos dois. Minha partida não seria dolorosa para nenhum dos dois, eles tinham a vida completamente separada da minha e pareciam estar satisfeitos com isso.
- Angel, você precisa descer agora. - Tiernan bate na porta, me fazendo parar de encarar o espelho. - Seu pai acabou de chegar.
destranco a porta e saio do quarto o mais rápido que posso, quase como se estivesse presa lá. Meu pai detestava atrasos, e diferente da minha mãe que fingia que eu não existia na maioria das vezes, ele preferia me ter por perto quando estava em casa.
- Será que não consegue fazer nada direito? - Minha mãe falou com uma voz incrivelmente ríspida. - Eu disse azul marinho, isso é celeste!
Olho para a pobre funcionária que parece perdida e dou um sorriso de pena, passando longe quando meu pai acena para mim. A maioria das pessoas já tinha chegado, e isso dificultava ainda mais a minha questão alimentícia já que não posso comer qualquer coisa que tenha gosto por causa da minha mãe.
- Querida, você está linda! - Meu pai diz assim que chego perto o suficiente para o teatro começar. - Essa é minha filha, Angel. Angel, esses são Caleb e Harry Styles.
Vejo Caleb primeiro e fico um pouco intimidada quando ele estende a mão para mim. Ele não deve ter mais do que quarenta anos, apesar de tudo parece bem jovem para ser pai de um cara que já terminou o colegial. Diferente da maioria dos adultos amigos do meu pai, esse parece realmente interessado em mim quando aperta minha mão. Isso me assusta um pouco, então olho para Harry, que não via a dois anos.
- É um prazer conhecer você, querida. - Caleb fala depois que solto sua mão e olho para Harry, que observava a cena e a mim com uma expressão neutra.
Dou um sorriso forçado para Caleb e estendo a mão para Harry, que olha por cinco segundos minha mão estendida até aceitar o cumprimento.
- Palavras, Angel. - Meu pai chama a minha atenção com um sorriso no rosto. - Ela é tímida.
ótimo. Mais tarde eu ouviria um sermão sobre o quanto eu tinha sido mal educada com os Styles.
- Sinto muito, acho que não acordei ainda. - Tento quebrar o clima que existe entre eu e meu pai, mas Caleb só ri, como se um pouco de silêncio não significasse nada.
De onde venho tudo significa alguma coisa. Nenhum silêncio é só silêncio, nenhuma risada é só por sorrir. Holmes Chapel parece ter esse peso enorme sobre ela na maioria das vezes. Mas Caleb não é daqui e parece não se importar com toda essa tensão que parece crescer como erva daninha na sala.
A maioria das pessoas estão olhando para nós. Parte por causa dos novos habitantes parte por ser o milagre da década meu pai estar em casa participando de algum evento que minha mãe faz. Na maioria das vezes ele estava em alguma cirurgia inadiável e todas as vezes que alguém perguntava sobre ele, minha mãe estufava o peito e dizia com todo orgulho falso estampado que ele estava por aí salvando vidas. Como se ela não chorasse depois de cada brunch, cada jantar e cada festa por sentir saudades do meu pai.
Não sei como o relacionamento deles funcionava, e não sei se é possível medir isso, mas ela parecia amar mais. Ele a amava, mas toda a vida dela girava em torno dele.
— Caleb adora silêncio. — Harry diz e me surpreendo com o tom de voz sarcástico, foi sutil o suficiente pra meu pai não perceber.
— Não tem problema, Angel. Tenho certeza que teremos oportunidade de conversar novamente, vou ser seu professor em Hilton. — Caleb responde ignorando Harry. — História da arte.
Franzo a testa sendo deselegante, mas sem poder evitar. História da Arte? Professor Raymond Caleb Bard?
— Raymond Bard? — Pergunto sem conter a empolgação. — É um prazer imenso, nós temos uma reunião marcada segunda-feira. Sou presidente do Grêmio estudantil.
Minha voz sai mais firme agora, e parece que ganhei espaço nesse brunch ridículo. Alguma coisa tem a ver comigo. Nós selecionamos Raymond desde o semestre retrasado, e conseguimos trazer ele com muito esforço. Quem diria que ele estaria na minha casa e na minha frente agora? Não só faria muito bem para o nome da instituição, como ele poderia colocar algum tipo de juízo nesses imbecis de cabeça oca.
— Raymond? — Meu pai pergunta, com uma voz confusa.
— Raymond Caleb Bard. — Caleb explica, dando ombros. — Não gosto muito de Raymond.
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FanfictionSe a felicidade tivesse uma cor, seria a cor dos seus olhos. E se o amor tivesse forma, seria você.