Ainda existem estrelas

Capítulo quatro.

Massageei meus pulsos por bons minutos até os mesmos finalmente pararem de latejar. Todo aquele esforço para entrar em Yale era exaustivo mas se eu quisesse mesmo uma desculpa para fazer as minhas malas e correr para longe da Inglaterra, era necessário. Eu tinha me dedicado por anos e anos para aquilo, me envolvendo em todo o tipo de caridade e todo esporte que não precisasse usar espadas como esgrima. Meu currículo escolar era impecável e a única coisa que poderia me deixar ainda mais segura, era ser presidente do Grêmio estudantil.

- Você sempre anda com toda essa tralha? - Harry perguntou tirando os olhos da estrada por um segundo.

- Normalmente não. A semana de provas acabou de acabar e eu estava atolada com algumas coisas do Grêmio, a maioria das coisas não são minhas. - Dei ombros enquanto massageava a mão esquerda. - Mas existem pessoas que andam quilômetros na lama apenas para assistir uma aula em países de terceiro mundo, isso não é nada.

O silêncio reinou novamente assim que ele se esticou para aumentar o aquecedor do carro me fazendo soltar um suspiro de alívio. Eu não sabia manter conversas com estranhos e se ele fosse o que eu achava que era, não queria manter uma conversa com ele. Ainda não tinha entendido por quê um cara que deveria estar na faculdade perdia seu tempo em um lugar como esse, onde claramente, não tinha nenhum vínculo.

- Você está no último ano? - Ele olhou novamente para mim me fazendo assentir. - O pior de todos. Minha mãe insistia em Princeton o tempo todo, parecia até que...

- Você já terminou a faculdade? - O interrompi sendo extremamente mal educada.

- Estou no último ano em Cambridge. - Ele replicou, parecendo se divertir com meus modos.

- Estuda á quase três horas daqui? - Perguntei boquiaberta.

- O novo campus fica á trinta minutos daqui, todo o departamento de hóquei se mudou e eu vim junto. - O carro parou de repente me fazendo olhar para as janelas, vendo a casa dos Fletcher de longe. - Por quê se importa tanto com o que os outros pensam?

Ele foi direto me fazendo ofegar. Seus olhos verdes pareceram firmes enquanto esperavam uma resposta, me fazendo ficar extremamente desconfortável. Pessoas da cidade não perguntavam coisas assim, elas simplesmente ligavam.

- Não me importo. - Menti descaradamente mantendo minha voz igualmente firme.

Harry me olhou de forma zombeteira antes de virar seu olhar para a rua.

- Tem certeza? - Ele me lançou um sorriso maldoso. - Não foi nem mesmo capaz de olhar uma vez sequer para mim sábado, e eu sentei ao seu lado.

- Você não me interessa. - Falei como se fosse óbvio. - Por quê diabos perderia meu tempo olhando para você?

Sendo totalmente oposto do que pensei, ele não pareceu ofendido. Sua sobrancelha direita se ergueu juntamente com seu sorriso presunçoso me fazendo ser incapaz de tirar os olhos dele por um segundo. Não existia um motivo para eu conseguir falar tudo que vinha a minha cabeça a Harry, mas aquilo me satisfazia bastante. Metade dos garotos da cidade eram uns imbecis mas nunca pude insulta-los de forma clara até hoje.

- Então você só mantém uma conversa civilizada com pessoas que está interessada? - Ele soltou uma risada nasalada.

- Só mantenho uma conversa com pessoas que conheço. Não sou o tipo de garota que tem prazer em conversar com estranhos.

- Nós não seríamos estranhos se começássemos a conversar. - Ele falou como se fosse óbvio me fazendo franzir a testa.

- Já disse que não estou interessada em você? Seja lá qual seja seu joguinho. Sei que é novo na cidade e que provavelmente já pegou todas as menininhas sem perspectiva e sem autoestima da faculdade. Mas eu não faço seu tipo, isso aqui,  - Apontei para mim e logo depois apontei para ele. - Não vai rolar.