Ainda existem estrelas

Capítulo dezesseis.

O ar parecia sumir a cada segundo a mais de espera. A cor escura da madeira me deixava apavorada, era claro que eu tinha falado com a diretora de Blue Ivy inúmeras vezes. Ela era mãe do meu melhor amigo, amiga dos meus pais e ainda morava no mesmo bairro que eu.

Mas nunca, em todos os meus dezoito anos pensei que estaria aqui para falar da minha vaga na faculdade, algo que ela fez questão de frisar quando me chamou para essa conversa, ou seja lá o que isso fosse. Eu tinha decidido me preparar desde que eu me conhecia por gente, e até mesmo os professores mais difíceis de agradar tinham me garantido que escreveriam cartas de recomendação para mim. Tudo estava perfeito, até agora.

- Angel, você já chegou? - A senhora Malik sorriu assim que abriu a porta de sua sala. - Esperava ver você mais tarde.

- A reunião do Grêmio terminou cedo. - Sorri de forma amigável enquanto me levantava para apertar sua mão em um cumprimento classicamente britânico.

- Bom, acho que devemos conversar sobre a razão que eu chamei você até aqui, não é mesmo? Sei que quer ir para casa, acho que você passa mais tempo aqui que alguns professores. - Ela começou, se sentando na cadeira atrás da enorme mesa de madeira. - Angel, seu currículo é exemplar. Notas maravilhosamente altas, ótima conduta, nenhuma suspensão ou detenção e outras mil coisas que você obviamente sabe. Mas eu creio que tudo isso não seja suficiente.

Ergui uma sobrancelha sem me preocupar em ser condescendente. Óbvio que era suficiente. Eu tinha exatamente todos os pré requisitos para ser aceita em todas as faculdades da liga Ivy, a não ser que alguma coisa muito péssima manchas de meu histórico.

- O que quer dizer com isso? - perguntei ajustando a minha postura. - Não é só isso que eu tenho, também tenho várias atividades extracurriculares no meu currículo. Eu sou presidente do Grêmio da melhor escola da Inglaterra.

Não pude deixar de frisar a última frase, era impossível que aquilo não bastasse. Idiotas americanos passavam todos os anos apenas por saberem falar Mandarim, por que diabos eu não passaria com todo o meu histórico?

- É exatamente isso. Você não tem várias atividades extra curriculares, tem apenas uma. E é diretamente ligada a política.

- Eu vou cursar direito. - Interrompi seja lá o que ela iria falar da forma mais ríspida que consegui.

- Direito? - Seu rosto se contorceu em confusão. - Achei que sua mãe tinha me dito que iria estudar medicina como seu pai.

- Não. Eu me interesso em direito. - Respondi ainda na defensiva. - Então não vejo como ser presidente do Grêmio não baste para conseguir a vaga.

Trish emitiu um suspiro frustrado antes de se aproximar ainda mais da mesa, em uma tentativa de ficar mais próxima de mim. Seja lá o que fosse que estava rolando aqui, eu não estava entendendo. Qualquer pessoa que sequer tivesse ouvido meu nome sabia que eu era com certeza, o tipo de aluna que já estava com a vaga garantida numa boa universidade.

- Angel, querida, você não pode entrar em uma universidade da liga Ivy com apenas isso na sua grade extracurricular. É muito formal, extremamente agressivo, entendeu? Você nunca fez nenhuma aula de dança nem nunca participou de evento nenhum de entretenimento. Nada disso consta no seu currículo. - Ela falou da forma mais calma que vi em todos esses anos. - Americanos são extremamente patriotas, como você acha que eles lidam com pessoas que não conseguem ir em uma festa da própria faculdade? Que não tentam se enturmar?

- Eu tenho amigos, sou enturmada aqui. Sabe que eu saio todo final de semana, sou melhor amiga do seu filho. Nós dois saímos juntos. - Falei ainda mais irritada.