Tinha um bairro na sua cidade que Carlos só conhecia de passagem. Era bem simples e com casinhas afastadas umas das outras.
Ele reparou na diferença entre aquela rua e às outras ao caminhar para seus endereços de entrega.
Sim. Naquela semana Carlos era carteiro.
Já havia embalado e enviado cartas para todo o Brasil. Tinha lambido selos, carregado e descarregado caminhões, organizado caixas e entregado encomendas.
Agora ele seguia a sua tarefa mais esperada: entregar as correspondências nas casas das pessoas.
Receber cartas era algo que ele adorava, e por isso ficava muito feliz em poder levar essa alegria a alguém.
Ao conferir mais um endereço na prancheta ele segue em direção à próxima casa e encontra uma jovem de mais ou menos a sua idade sentada na calçada esperando.
Ao vê-lo se aproximar ela corre em sua direção.
_ Não acredito que finalmente chegou. _ Diz animada abrindo o portão. _ Eu estava tão ansiosa por isso!
Ele sorri e a entrega seu envelope.
_ Aqui está. _ Ela pega de suas mãos com ansiedade.
_ Ai, moço! Muito obrigada. _ Diz abraçando sua carta.
_ Só precisa assinar aqui, por favor.
Ela assina rapidamente. E se volta para dentro o mais rápido possível.
_ Estava ansiosa mesmo. _ Brinca ele rindo.
_ Estava sim! _ Diz ela. _Faz alguns meses que mudei para cá, mas minha mãe insiste que escrever cartas é melhor do que falar pelo celular. Acredita? _ Diz rindo da situação. _ Então, sempre acabo tendo que ficar esperando pelas cartas para obter notícias. _ E acrescenta. _ E essa demorou bastante, viu. Já não aguentava mais esperar.
_ Desculpe pelo atraso. Faremos o possível para que suas correspondências cheguem no prazo correto. _ Diz profissionalmente. E depois apenas como Carlos _ Entendo como é difícil ficar longe da família. _ Com um tom entristecido na voz.
_ Muito difícil. _ Concorda ela. _Você também não é daqui?
_ Não, sou daqui mesmo. Mas também estou a um tempo distante dos meus pais.
Ela assente compreensiva.
_ As vezes precisamos ir pra longe. A vida meio que nos obriga a isso.
Ele assente.
_ Sim. E há, também missões de que só a gente pode cumprir. E se não as cumprirmos, quem cumprirá pela gente? _ Diz mais para si mesmo do que para ela.
_ Verdade. _ Ela responde, mas sem entender o verdadeiro sentido por trás de suas palavras.
Então eles se despendem e Carlos continua seu trajeto de entregas.
E foi ali, caminhando por aquela rua, que Carlos se tocou dos méritos da saudade. E do quanto aquilo elevava a sua condição de apóstolo.
Aquela era a dorzinha agridoce no fundo do peito o fazia lembrar do quão importante era a sua missão. A ponto de o ter levado a deixar o que ele tinha de mais precioso no mundo para trás.
E uma certeza enchia seu coração: Aquele que o chamou, cuidaria do que era seu.
A partir daquele momento o costumeiro apertozinho no lado esquerdo indicava que esse era o caminho certo a seguir.
"Se alguém quer vir após mim..." Lc 9, 23.
¶¶¶¶¶¶¶
Gostou do capítulo?
Deixe sua estrelinha e seu comentário! ❤️
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Caminho
SpiritüelO ensino médio chega ao fim e se aproxima o momento de Carlos dar uma resposta à sua vocação. Ao ver seus colegas seguindo caminhos tão diferentes do seu, ele começa a se sentir inseguro em dar um sim uma coisa tão séria que é a vocação sacerdotal. ...