Capítulo 9: Saudades no caminho

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Tinha um bairro na sua cidade que Carlos só conhecia de passagem. Era bem simples e com casinhas afastadas umas das outras.

Ele reparou na diferença entre aquela rua e às outras ao caminhar para seus endereços de entrega.

Sim. Naquela semana Carlos era carteiro.

Já havia embalado e enviado cartas para todo o Brasil. Tinha lambido selos, carregado e descarregado caminhões, organizado caixas e entregado encomendas. 

Agora ele seguia a sua tarefa mais esperada: entregar as correspondências nas casas das pessoas.

Receber cartas era algo que ele adorava, e por isso ficava muito feliz em poder levar essa alegria a alguém.

Ao conferir mais um endereço na prancheta ele segue em direção à próxima casa e encontra uma jovem de mais ou menos a sua idade sentada na calçada esperando.

Ao vê-lo se aproximar ela corre em sua direção.

_ Não acredito que finalmente chegou. _ Diz animada abrindo o portão. _ Eu estava tão ansiosa por isso!

Ele sorri e a entrega seu envelope.

_ Aqui está. _ Ela pega de suas mãos com ansiedade.

_ Ai, moço! Muito obrigada. _ Diz abraçando sua carta.

_ Só precisa assinar aqui, por favor.

Ela assina rapidamente. E se volta para dentro o mais rápido possível.

_ Estava ansiosa mesmo. _ Brinca ele rindo.

_ Estava sim! _ Diz ela.  _Faz alguns meses que mudei para cá, mas minha mãe  insiste que escrever cartas é melhor do que falar pelo celular. Acredita? _ Diz rindo da situação. _ Então, sempre acabo tendo que ficar esperando pelas cartas para obter notícias. _ E acrescenta. _ E essa demorou bastante, viu. Já não aguentava mais esperar.

_ Desculpe pelo atraso. Faremos o possível para que suas correspondências cheguem no prazo correto. _ Diz profissionalmente. E depois apenas como Carlos  _ Entendo como é difícil ficar longe da família. _ Com um tom entristecido na voz.

_ Muito difícil. _ Concorda ela.  _Você também não é daqui?

_ Não, sou daqui mesmo. Mas também estou a um tempo distante dos meus pais.

Ela assente compreensiva.

_ As vezes precisamos ir pra longe. A vida meio que nos obriga a isso.

Ele assente.

_ Sim. E há, também missões de que só a gente pode cumprir. E se não as cumprirmos, quem cumprirá pela gente?  _ Diz mais para si mesmo do que para ela.

_ Verdade. _ Ela responde, mas sem entender o verdadeiro sentido por trás de suas palavras.

Então eles se despendem e Carlos continua seu trajeto de entregas.

E foi ali, caminhando por aquela rua, que Carlos se tocou dos méritos da saudade. E do quanto aquilo elevava a sua condição de apóstolo.

Aquela era a dorzinha agridoce no fundo do peito o fazia lembrar do quão importante era a sua missão. A ponto de o  ter levado a deixar o que ele tinha de mais precioso no mundo para trás.

E uma certeza enchia seu coração: Aquele que o chamou, cuidaria do que era seu. 

A partir daquele momento o costumeiro apertozinho no lado esquerdo indicava que esse era o caminho certo a seguir.

"Se alguém quer vir após mim..." Lc 9, 23.

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