capítulo 1 - my body is a cage

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Will ainda não sabia o porquê de ter aceitado desaparecer com Hannibal Lecter, talvez, viesse se arrepender no futuro de ter feito tal escolha, mesmo que se arrependa, não poderá voltar atrás. Com o Doutor Lecter, não existe isso de voltar atrás, e não por conta do próprio Lecter.

Acontece que Will sente-se preso demais ao psiquiatra para deixá-lo, gostando ou não, o psiquiatra se transformou numa parte de si que não quer perder.

Uma parte que Will não quer e nem pode perder.

Eles estão na Inglaterra, em qual parte dela Will não sabe ao certo, mas não será trabalhoso descobrir, visto que a Inglaterra é do tamanho de um ovo. Viajou quase que totalmente inconsciente, só sabe que está na terra da Rainha porque Hannibal lhe contou, mas Hannibal já havia lhe contado tantas coisas, tantas mentiras, que é difícil encontrar a verdade em seu oceano de palavras falsas e vazias.

ㅡ Está pensativo, Will ㅡ A voz de Hannibal lhe tirou de um transe.

Will piscou repetidas vezes, buscando se localizar no mundo real mais uma vez.

Estava sentado numa poltrona, numa sala que se assemelhava ao consultório de Hannibal em Baltimore, é igualmente sombria, mas tal como no consultório em Baltimore, é estranhamente reconfortante, como toda esta casa. E isso plantava uma dúvida mortal na mente nebulosa de Will Graham, uma dúvida que acabava plantando outras em seguida.

Se Hannibal tinha uma casa pronta em algum lugar da Inglaterra, era óbvio que já estava pensando em fugir há bastante tempo, e claro, levar Will com ele, tendo a certeza de que ele viria. Agora, era cúmplice, na verdade, estava mais para um observador, sentia-se como um observador de si mesmo, incapaz de agir perante ao que acontecia.

ㅡ São tantas coisas a serem pensadas nesse momento que... no fim, acabo não pensando em nada.

ㅡ Pensar é natural do consciente humano, não conseguimos ficar sem pensar, até quando não pensa, está pensando em algo ㅡ Hannibal disse. ㅡ Me conte, Will.

ㅡ Contaria se soubesse o que se passa na minha cabeça, são tantas coisas que mal consigo diferenciá-las, tudo está turvo, meus pensamentos intensos me atormentam, ㅡ Will levou uma mão a têmpora ㅡ estou tentando não mergulhar profundamente neles, ao menos, não agora, não neste momento.

ㅡ Neste momento?

ㅡ Neste momento em que não poderei nadar de volta à praia caso as ondas tentem me arrastar para as profundezas do oceano que é a mente, creio que é o melhor modo para descrever como me sinto. Quando se está num barco, em alto mar, e se olha para o oceano, você não consegue ter um vislumbre do que está na água, às vezes, alguma criatura marinha ousa dar o ar da graça e aproximar-se da superfície, então, podemos vê-las. Exceto isso, tudo o que vemos é o azul do mar tornando-se mais escuro à medida em que os raios de luz não alcançam a sua profundidade.

ㅡ É uma analogia quase perfeita, Will. Tal como o oceano, a mente humana é profunda, nebulosa, cheia de segredos e pontos inalcançáveis, porém, o oceano é palpável, material, algo que podemos tocar e apreciar visualmente. A mente é misteriosa, é viva, tal como o oceano, pode esconder coisas grandiosas...

ㅡ E coisas monstruosas... ㅡ Will interrompeu, lançando um olhar afiado (e um tanto tímido) para Hannibal, que mantém a postura profissional, embora a relação deles já tenha extrapolado todos os limites do profissionalismo. ㅡ A mente e o oceano... escondem coisas amendrontadoras, alguns têm medo do mar pelo o que existe no fundo dele. E outros têm medo da própria cabeça.

ㅡ Se inclui nesse grupo, Will? ㅡ Hannibal instigou ㅡ Tem medo de sua própria mente?

ㅡ Não tenho medo, apenas me amendronta saber do que ela é capaz, das escolhas que ela nos obriga a fazer...

ㅡ A mente nos obriga a fazer escolhas?

ㅡ Sim... Nós não temos livre arbítrio para escolher, é mentira que somos livres para escolher, não somos livres, não só o mundo nos guia a escolher algo... A nossa mente guia nossas escolhas, é nossa verdadeira bússola moral.

ㅡ A vida é feita de escolhas, Will.

ㅡ Gostaria de não ter que fazer uma escolha, embora já tenha a feito.

ㅡ Fez uma escolha?

ㅡ Eu escolhi você, Hannibal. Com certeza não foi o melhor para os outros.

ㅡ Os outros? Mas e você, Will? ㅡ Hannibal inquiriu. ㅡ Foi o melhor para você?

ㅡ Eu só sei que... que precisava te escolher. Nem sempre o que precisamos para suprir uma carência emocional é o melhor, e nem sempre a escolha racional é a que melhor nos satisfaz. Como uma droga, racionalmente a rejeitamos porque sabemos que ela nos faz mal, mas quando você experimenta... Quando se experimenta a sensação que ela proporciona, não sentimos vontade de abandoná-la, porque mesmo que esteja nos destruindo, parece oferecer algum suporte, alguma sensação de poder ㅡ Will explicou. ㅡ Mas talvez, eu goste daquilo que me destrói.

ㅡ Nem sempre algo perigoso é algo destrutivo, Will. Muitas vezes, a zona de conforto onde você se encontra é o que está te destruindo.

ㅡ Acho que já estou bem fora dela.

ㅡ Fisicamente. E mentalmente? Você está fora de seu palácio murado ou ainda está lá dentro?

ㅡ Talvez, eu não esteja em lugar algum, talvez eu não seja de lugar algum, só estou atirado ao mar, esperando que algo me agarre até o ponto mais profundo.

ㅡ Não espera que alguém o salve?

ㅡ Não, Dr. Lecter ㅡ Will falou. ㅡ A única pessoa que poderia me salvar... seria a mesma que me afogaria no mesmo oceano.

ㅡㅡㅡㅡㅡㅡㅡㅡㅡㅡㅡㅡㅡㅡㅡ

nota da autora: salve galeris q leram a fic antes ou por acaso tão lendo agora, to reescrevendo ela e acrescentando algumas coisas q foram retiradas da versão original, entt vai ter coisa nova aqui mas nada q va estender a fic mais q o necessario

é isso tres bjss 💖💖💖

the way down we go | johnlock | hannigramOnde histórias criam vida. Descubra agora