capitulo 4 - asmodeus e astréia

1K 163 114
                                    

Will Graham estava há alguns dias naquele cativeiro de luxo, não se sentia mal por isso, mas tinha algo o perturbando, ele caminhava a passos largos rumo a cozinha de onde emanava um cheiro delicioso de comida sendo preparada, se estiver correto sobre suas suspeitas, e tem certeza quase absoluta, ter gostado do cheiro da comida não é lá positivo.

Adentrando a bem equipada cozinha, Will se deparou com Hannibal Lecter frente a uma bancada de mármore e madeira, cortando carnes em finas tiras, e no fogão, uma panela com alguns ingredientes fritando.

ㅡ Bom dia, Will ㅡ ele cumprimentou, sereno, arrepiando-o com seu cinismo.

ㅡ "Bom dia, Will"? ㅡ o professor o imitou, atirando sobre a bancada um jornal daquela manhã cuja manchete dizia: "TRÊS ASSASSINATOS VIOLENTOS OCORRIDOS EM LEEDS, SERIA UM SERIAL KILLER?". ㅡ O que você tem a dizer em sua defesa? Ou melhor, não diga nada! Já o declaro culpado!

ㅡ Onde está minha presunção de inocência e meu direito a ampla defesa? ㅡ Ele sequer desviou a atenção do que fazia.

ㅡ Não é preciso no seu caso, seu passado tão presente e recente já te condena.

ㅡ Isso já é presunção de culpa, mas entendo que está com medo, na verdade, hesitante ㅡ Hannibal termina de cortar a carne.

ㅡ Não estou hesitante, e que porcaria é esta que está fazendo? ㅡ Ele pergunta.

ㅡ Antes que finja que seu estômago está embrulhado, não é carne humana o que estou cozinhando, embora eu tenha total parcela de culpa por esta manchete no jornal ㅡ Lecter se apoiou na bancada com as mãos ㅡ E isto que estou fazendo para nós é um prato russo chamado befstroganov, sem dúvida é meu favorito, era um prato exclusivo da nobreza russa, mas quando esta se acabou, o prato deixou de ser algo exclusivo e ganhou diversas versões pelo mundo.

ㅡ Pensei que gostasse do que é exclusivo, não consigo te enxergar comendo nada que seja tão... popular ㅡ Will comentou.

ㅡ Assim como não te enxergo comendo nada tão restrito, por isso este prato é um equilíbrio perfeito, ㅡ ele falou, apanhando as fatias de carne e as temperou com sal ㅡ tem um pouco dos dois mundos.

Will captou a mensagem de Hannibal, sem estar incrédulo com a frieza dele, já estava acostumado, ou agora, fascinado com aquela aparente frieza, mas ainda se impressionava com a maestria dele cozinhando, a delicadeza com a qual ele trata cada ingrediente. Hannibal Lecter cozinhando era uma verdadeira arte, e por mais que às vezes os materiais para praticá-la não fossem lá os mais limpos e éticos, era óbvio que cozinhar era uma das coisas que ele mais amava na vida, vivia para aquilo.

E claro, vivia para conseguir os ingredientes, Will o conhecia bem, sabia que esta parte era a sua favorita.

ㅡ Nós fugimos do FBI, se formos descobertos, seremos extraditados e executados na cadeira elétrica, com certeza. Isso não te assusta?

ㅡ Não. Estou num ponto em que quase nada me assusta. Sendo rude, matei pessoas bem debaixo do seu nariz e do nariz de Jack Crawford, sei o que faço ㅡ Hannibal afirmou, mas não que ele saiba o que está fazendo.


Apesar de proferir tais palavras, Hannibal pouco sabia o que estava fazendo.

Na mente insana de Hannibal, o canibalismo havia se tornado parte de sua vida, a coisa que ele mais adora fazer, mas ultimamente, esse hobbie tem perdido a importância por causa dele.

O psiquiatra não nega que Will Graham, no primeiro momento em que adentrou em sua sala, chamou sua atenção de uma maneira peculiar, o professor lhe é atraente, e essa atração tem lhe causado um desequilíbrio em suas ações e pensamentos.

Em outra situação, Hannibal já teria feito de Will sua vitima, e ainda considera essa opção, mas sente que não conseguiria executar esse assassinato se tentasse o fazer.

Hannibal deseja provar, literalmente, de sua carne. E ao mesmo tempo, não quer ter que fazê-lo, talvez isso tenha sido um gatilho para dirigir para fora de Wakefield sem rumo, matar aquele homem em Leeds e arrancar alguns de seus órgãos para devorá-los.

Está se deixando guiar pela emoção, não pela razão.

Lecter sempre se imaginou matando Graham, de diversas formas, como um fetiche, um fetiche doentio, no entanto, quanto mais tempo passava com Will, o tratando, explorando sua mente confusa, essa fantasia sangrenta se misturava com outras fantasias, outros sentimentos.

Se tornar amigo do professor não estava em seus planos, e ter deixado essa amizade ir longe demais foi inesperado e errado, só tornou tudo mais complicado.

Will Graham, ao olhar de Hannibal Lecter, é o desejo e a tensão. Ele é capaz de despertar o pior e o melhor no psiquiatra. Hannibal não sabe exatamente o que se passa na cabeça de Will, contudo, enxerga em seus hipnotizantes olhos azuis a anarquia e a inocência.

Hannibal vê nele a luxúria de Asmodeus e a pureza de Astréia em seu semblante exausto. É incrível o quanto esses dois extremos se tornam tão iguais quando se trata de Will Graham, parecem se encaixar de maneira perfeita.

Se Will é um misto de Asmodeus e Astréia, Hannibal é Ares.

Ares é a guerra e a violência, não é inimaginável que a guerra e a violência se sentisse atraída pela luxúria.

Todavia, como é possível que a violência tenha se afeiçoado pela inocência? Pela pureza?

____________________________________________________________________________

gente eu to amando escrever essa fanfic de td o coração desses personagens maravilhosos que eu amo, mas sabe quem é mais maravilhoso que o Will e o Hannibal? As pessoas que comentam, dão um feedback e ouvem a playlist da fic no Spotify [link no meu perfil].

Amo vcs ❤

the way down we go | johnlock | hannigramOnde histórias criam vida. Descubra agora