Nathaly- Não acredito que você está me pedindo isso.. - Nathaly colocou o livro que estava lendo de lado, e retirou os óculos de grau que lhe davam um ar inteligente, encarando a amiga incrédula.
- Por favor, Nathaly. Você sabe que eu não te pediria esse favor se eu mesma pudesse fazê-lo. Mas, olhe para mim. Ficarei presa nesta cama por pelo menos uma semana, e não posso deixar as leitoras do meu blog sem notícias fresquinhas e atualizações. – Nathaly continuou a olhar para Violet de maneira critica, mas também sentia pena. Ela havia contraído pneumonia em sua última viagem à praia que fizera com sua família há duas semanas,, e agora não podia sair de casa até estar completamente restabelecida por ordens médicas.
- Violet, você sabe que te amo como se você fosse minha irmã, mas você tem que concordar comigo, que não sou a pessoa mais indicada para isso. Eu sou uma jornalista e não uma blogueira. Você não tem outra pessoa para pedir esse favor?
- Não confio em mais ninguém a não ser em você. Por favor, eu prometo que faço o que você quiser se me ajudar agora. Eu posso até te dar aquele vestido caríssimo que você anda cobiçando no meu guarda-roupa. – os olhos de Violet imploravam e marejaram com a possibilidade da recusa de Nathaly em auxiliá-la naquele projeto.
- Não sei, Violet. Eu nem sou fã desse tal de Shawn Mendes, e só de pensar em ficar em uma coletiva de fãs, em meio à adolescentes idiotas, fazendo perguntas mais idiotas ainda me dá ânsia de vômito. – Nathaly fez uma careta, e todo o seu rosto bonito se contraiu, mas Violet não desistiu:
- Nathaly, eu lhe imploro que me ajude. Você não tem que perguntar nada para ele, só precisa ficar lá e gravar as respostas que ele der. Assim terei material para o meu blog.
- Já te disse um milhão de vezes, você é uma garota tão inteligente, trabalha em uma agência de marketing, por que desperdiça seu tempo que algo tão fútil como esse blog para o Shawn Mendes? O que ele tem de tão especial assim?- Nathaly passou pegou uma mecha do próprio cabelo e a enrolou em seus dedos de maneira petulante, esperando a resposta da amiga.
- Você devia conhecê-lo, Nathaly, aposto que se apaixonaria. Ele é tão lindo e incrível. É impossível não gostar dele. – Violet respondeu com os olhos brilhando.
- Você nem o conhece de verdade, como pode saber que ele é tudo isso.? E quanto a mim, acho bem pouco provável que eu me interesse por outro Justin Biber canadense. Prefiro mil vezes o velho e bom rock.
- Ok, eu respeito sua opinião, mas você vai me ajudar ou não?- Nathaly olhou para a amiga parecendo tão frágil em sua camisola enorme de algodão, e não conseguiu recusar o pedido dela. Moravam juntas há um ano, desde que Nathaly fixara residência no Brasil, e apesar de serem completamente diferentes se davam muito bem, pois eram amigas desde a faculdade.
- Está bem, Violet. Eu vou nessa coletiva, mas vai se preparando, pois eu quero aquele seu vestido caríssimo. – Nathaly sorriu com afeto para Violet que parecia querer dar pulos de alegria deitada em sua cama.
- Combinado, Nathaly. Muito obrigada. Não sei o que faria sem você.
- Muito bem. Vou deixar que descanse um pouco. Tenho que me arrumar para essa maldita coletiva de fãs, só espero não me arrepender. – Nathaly já podia imaginar o que a esperava. Milhares de garotas histéricas, gritando ao mesmo tempo, tentando se aproximar de seu ídolo, depois o empurra empurra e a choradeira. Meu Deus! No que tinha se metido.
Tomou um banho rápido e abriu o guarda roupa tentando se decidir sobre o que vestir. Escolheu uma saia jeans curta, blusa vermelha cavada de seda que deixava seu colo a mostra, e sandálias de salto alto também vermelhas. Nathaly era bastante vaidosa, adorava se arrumar e estar sempre bem vestida, mas não ligava para moda, ela vestia o que lhe caia bem e o que gostava sem realmente seguir uma tendência.
Enquanto se maquiava, ela pensou em Violet. A amiga tinha 24 anos, dois anos a mais que ela e continuava romântica como na adolescência. Ela ainda acreditava naquelas bobagens de príncipe encantados, e histórias de amor que davam certo. Às vezes Nathaly tinha a impressão que a amiga se recusava a crescer, preferindo manter em seu coração a chama viva de contos de fada.
Nathaly suspirou e balançou a cabeça. Ela também já fora assim, mas perdera essa inocência há anos. Para ela o amor era algo que se encontrava nos livros onde finais felizes eram sempre possíveis, A vida real era totalmente diferente, não havia vantagem nenhuma em se apaixonar, isso somente trazia dor e amargura, e ela esperava nunca mais se envolver com um sentimento assim.
Ela amara um dia e fora correspondida, e quando achou que o seu amor teria um final feliz, tudo fora arrancado dela em um só golpe, e agonia e o sofrimento pelo qual passara a transformaram de uma adolescente sonhadora a uma mulher prática e fria. Pensar em Michael sempre fazia seu coração se despedaçar, apesar de já terem se passado três anos desde que ele se fora. Tinham se conhecido na infância, seus pais foram amigos próximos e trabalhavam como correspondentes internacionais, por isso, Nathaly e Michael cresceram juntos, e, ninguém estranhou quando começaram a namorar, foram para mesma faculdade, escolhendo seguir a profissão de seus pais, e planejavam se casar assim que se formassem.
Nathaly respirou fundo ao se lembrar daqueles últimos dias que passara com Michael. Estavam vivendo em Israel, sua primeira missão como correspondentes internacionais, e em poucos dias voltariam para o Brasil, onde tinham tudo programado para o casamento. Tinham comprado um apartamento, o mobiliado do jeito que desejavam, tirariam férias do trabalho e viajariam em lua de mel para Paris.
Nathaly escolhera a França, pois era o único país que não conhecia de verdade. Por causa da profissão do pai, ela já viajara o mundo inteiro, mas a capital francesa era um sonho que acalentava desde criança e que decidira conhecer junto com Michael, por causa de suas histórias românticas.,e ela não conseguia se imaginar em nenhum ouro lugar com seu futuro marido.
Tudo estava tão perfeito que parecia que nada abalaria seu sonho de amor, mas tudo mudara naquela tarde fatídica em que Michael saíra de casa para fazer uma cobertura jornalística com outros correspondentes brasileiros. Quando estavam voltando do trabalho, o carro em que estavam passou por cima de uma mina que explodiu, matando instantaneamente todos os seus ocupantes.
Quando recebeu a notícias, Nathaly estava consultando alguns catálogos de viagem e mapeando todos os lugares que visitaria com Michael na França. Ela não conseguira acreditar em seus próprios ouvidos quando o chefe de Michael bateu na porta de seu apartamento e lhe contou meio constrangido o que tinha acontecido. Ela passara dois longos dias na cama sem conseguir se levantar ou fazer qualquer coisa, a dor era demais para suportar. Ela estava sozinha, em um país estranho, sem família ou amigos que pudessem consolá-la. No terceiro dia, ela se levantou finalmente, se olhou no espelho e não conseguiu reconhecer a garota de olheiras fundas, rosto pálido e encovado e os cabelos longos e emaranhados que olhavam para ela com todo o sofrimento do mundo refletidos dentro deles.
Ela decidiu que sobreviria à aquela tempestade, não podia ficar trancada em seu apartamento, por mais que desejasse nunca mais se levantar da cama. Ela arrumou as malas, vendeu o apartamento, jogou no luxo tudo que se referia a lua de mel, cortou os cabelos bem curtos, e voltou para o Brasil.
Por um tempo, ela morou com o pai, não sabendo o que fazer com sua vida. Mas então, seu antigo chefe de um jornal local lhe oferecera um emprego o que foi sua salvação. Ela morara em cinco países diferentes naqueles anos, mas sempre evitara qualquer trabalho que fosse relacionado com a França. No último ano, cansada de fugir de sua dor, resolvera voltar para casa. Reencontrara Violet por acaso em uma festa, e a amiga sabendo de sua real situação, oferecera para dividir um apartamento com ela.. Nathaly aceitara, pois sempre gostara de Violet e se deram muito bem no tempo em que estudaram juntas, e agora, depois de um ano, podia dizer que não se arrependera. Violet era uma das pessoas mais divertidas que Nathaly conhecera na vida, era solidária e chorara com Nathaly quando ela lhe contara toda a sua história, e agia sempre como uma irmã mais velha, cuidando e acolhendo Nathaly em todas as situações, por isso ela amava Violet como se ela pertencesse a sua família.
A única coisa que a incomodava na amiga era a sua mania de estar sempre à procura de um amor perfeito. Na opinião de Nathaly, Violet lia romances demais, vias filmes de amor em excesso, e corria um sério risco em se machucar de verdade. Ela também tinha uma profunda obsessão por arrumar namorados para Nathaly. Embora respeitasse o desejo da amiga em não querer se envolver com ninguém, ela sempre dava um jeito de apresentar a ela algum rapaz “interessante” que Nathaly sempre odiava, mas ela nunca dizia nada a Violet por medo de magoá-la.. A verdade era que naqueles três anos em que vivera sozinha, Nathaly não vivia uma vida de celibatária. Saía com rapazes, se divertia com eles, e algumas ocasiões esses encontros acabavam em uma bela noite de sexo, mas Nathaly sempre tomava cuidado para não envolver seu coração, pois ela sempre usava o sexo como uma válvula de escape contra o vazio que sentia dentro de si , Ela não queria nada com o amor e suas complicações, depois de Michael, ela sabia que não encontraria ninguém que fosse a outra metade de sua alma, e seu noivo fora o único homem que amara, e que levara para o túmulo o coração dela.
Ela se olhou no espelho e terminou de passar a última camada de batom. Ajeitou os cabelos cacheados e curtos, borrifou um pouco da colônia italiana que ganhara do pai em seu último aniversário, e achou que sua aparência estava bem o suficiente para aquela coletiva de fãs
Nathaly chamou um táxi, pois odiava dirigir na cidade de São Paulo. Ficar presa por horas a fio no trânsito não era sua ideia de diversão. Por isso, muitas vezes preferia alguém dirigindo para ela, pois assim podia relaxar enquanto lia as notícias no celular.
O hotel onde aconteceria o encontro de Shawn Mendes era localizado no bairro do Morumbi, e como ela esperava, o saguão estava abarrotado de fãs adolescentes agitadas e barulhentas, que não paravam de cantar músicas de Shawn Mendes com suas vozes desafinadas. Pela vigésima vez naquele dia, Nathaly se amaldiçoou por ter deixado Violet convencê-la a vir até aquele hotel, para uma tarde de entrevistas com um cantor que não a agradava nem um pouco. Por que não estava em casa, de preferência na frente da TV assistindo a um documentário sobre a cultura européia? Pelo menos estaria aprendendo algo útil, ao invés de estar se derretendo no calor daquela tarde se sexta-feira, tentando não morrer de tédio no meio de um fanatismo coletivo.
Nathaly conseguiu se desviar de um bando de garotas que falavam alto e vestiam camisetas com a foto de Shawn Mendes nelas com o nome de um fã clube, e depois, a sala já estava lotada de fãs que esperavam ansiosas pela chegada de seu ídolo. Shawn Mendes apareceu dez minutos depois, causando a maior euforia em todas as garotas presentes, que não conseguiam parar de gritar ao se verem tão próximas dele. Nathaly revirou os olhos, não acreditando que estava no meio de toda aquela confusão. Ela estava acostumada a cobrir matérias no meio de conflitos, como guerras, greves, confrontos e protestos, e esta era a primeira vez que se via perdida naquela comoção geral por causa de uma celebridade e estava odiando.
Quando elas pararam de gritar a pedido do próprio cantor, Nathaly ficou surpresa de não ter ficado surda com tanto barulho ao seu redor. Ela então ligou o gravador e as perguntas começaram. Logo que ela ouviu o teor das primeiras perguntas, ela balançou a cabeça incrédula. Quem se interessava em saber a qual comida Shawn Mendes era alérgico ou qual era sua cor favorita? Nathaly cruzou as suas pernas bem torneadas, perdendo o interesse na coletiva, preferindo ler matérias mais significativas para ela.,
Nathaly levantou a cabeça, deu uma olhava para as meninas sentadas ao seu lado que pareciam paralisadas pela presença de Shawn Mendes. Em um dado momento, ela lançou um olhar para onde ele estava sentado, e levou o maior susto quando deu de cara com um par de olhos castanhos que se fixavam nela. Ela sentiu um calafrio subir por sua espinha fazendo seu corpo inteiro se arrepiar. Shawn Mendes tinha um jeito de olhar para ela que parecia querer ler sua alma. Ela balançou a cabeça, desviou olhar do rosto dele e voltou a sua atenção pra o celular novamente, rezando para que tudo aquilo terminasse logo e ela pudesse voltar para casa. Estava entediada e se cansara do batalhão de perguntas sem nexo que os fãs de Shawn Mendes insistiam em fazer para ele, mas o rapaz parecia não se importar, pois ele respondia a todas as perguntas com calma e entusiasmo, e era evidente que estava se divertindo com toda a atenção que estava recebendo,
Depois de uma hora, a coletiva terminou e Nathaly respirou aliviada. Ela já estava sonhando com o ar condicionado de seu quarto, tomando uma limonada e vendo uma de suas séries favoritas. Levantou-se e ajeitou a saia, passou as mãos pelos cabelos e se dirigiu para a saída, Mas, antes que chegasse à porta, ouviu alguém chamá-la e ao virar-se, deu de cara com um homem muito alto que trajava roupas formais e um par de óculos escuros que escondiam seus olhos.
- Pois não?- Nathaly perguntou com educação, já imaginando que o rapaz a tinha confundido co alguém.
- Poderia me acompanhar, por favor? – a voz dele era grossa e tinha um tom de comando, típicas daquelas pessoas acostumadas a dar ordens.
- Desculpe-me, mas por que eu deveria acompanhá-lo? Fiz algo de errado?- ela começou a ficar nervosa.
- Não, senhorita. O Sr. Mendes me pediu que a levasse ao seu camarim.
- Sr. Mendes? Você quer dizer o cantor Shawn Mendes? – ela arregalou os olhos espantada. O que Shaw Mendes poderia querer com ela?
- Posso saber o motivo de ele querer falar comigo? Tenho um compromisso de trabalho e não posso perder tempo.
- Ele não me disse o motivo, apenas me pediu que a levasse até ele,. – o rapaz disse quase se desculpando e um pouco surpreso. Parecia não ter passado por sua cabeça que haveria uma mulher que recusaria o convite pessoal de Shawn Mendes para ir até o seu camarim. Nathaly sorriu divertida. Era típico de essas celebridades acharem que todo mundo estava sempre pronto a atender seus desejos, como se fossem deuses entre os mortais. Ela olhou para o rapaz visivelmente constrangido à sua frente que dizia:.
- Desculpe-me, senhorita. Não quis incomodar. Estou apenas seguindo ordens. – ele agora parecia não saber o que fazer, e Nathaly se perguntou se ele ficaria em má situação se ela não fosse com ele, talvez até perdesse o emprego, e ela certamente não gostaria de ser responsável por isso, por esta razão de decidiu:
- Está bem, vou com você, mas já aviso que não posso perder muito tempo.
- Claro, direi ao Sr. Mendes. – ele respondeu parecendo aliviado.
Nathaly o seguiu por um corredor comprido cheio de portas e entradas, até que chegaram a uma porta que era personalizada com o nome Shawn Mendes, e uma voz agradável os mandou entrar assim que ouviu a batida na porta. Nathaly entrou no camarim de Shawn Mendes, um tanto curiosa por saber o que ele queria com ela. Ela notara o olhar dele durante a coletiva de fâs em sua direção, mas não pensou que ele tivesse realmente prestado a atenção nela. Seu senso de jornalista começou a aflorar e pensou que talvez pudesse fazer mais algumas perguntas e assim ajudar Violet a enriquecer seu blog, pois já que estava ali não custava nada fazer esse favor à amiga.
Ele estava de costas sentado em uma poltrona consultando mensagens em seu celular. Quando percebeu que Nathaly tinha entrado, ele se levantou e se virou para ela. Seu coração deu um salto e ela ofegou surpresa. Ele era tão alto que ela mal chegava em seu peito, mas foram aqueles olhos castanhos que fizeram-na prender a respiração . Então ela ouviu dizer em seu inglês canadense agradável:
- Muito prazer, eu sou Shawn Mendes, qual é o seu nome?Olá, pessoal. Mais uma história com Shawn Mendes. Espero que gostem e comentem. Beijos.
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Between Us
FanficNathaly é uma correspondente internacional que viaja pelo mundo cobrindo conflitos. Ela vê sua vida mudar radicalmente quando perde o noivo em um trágico acidente dias antes de se casar, fazendo com que se torne uma pessoa totalmente desacreditada d...