Capítulo 6- Armações do Amor

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SHAWN
Enquanto descia as escadas que o levava até a saída Shawn não conseguia parar de sorrir. Que garota era aquela? Como podia ser tão complicada e tão perfeita ao mesmo tempo? Nathaly era estimulante e inteligente, até o seu humor ácido tinha um certo charme ela não se preocupava em agradar ninguém a não ser a si mesma. Alguns chamariam de arrogância, mas ele chamava de sobrevivência, pois para se sobressair em um mundo tão masculino, ela tivera que encontrar uma versão de si mesma que a colocasse em pé de igualdade com o sexo oposto.
Embora sua baixa estatura passasse a falsa ideia de fragilidade, Nathaly era firme como uma rocha, e sabia exatamente qual era o seu lugar no mundo. Ela era uma mulher completa, cheia de nuances e mistérios, e uma ótima companhia também, quando se permitia relaxar e baixar sua guarda.
Shawn não entendia porque ela vivia na defensiva, especialmente com ele. Ela se aproximava algumas vezes como se sentisse necessidade de ter certo contato humano com ele, mas não deixava espaço para Shawn chegar mais perto, e quando ele tentara dar um passo em sua direção, ela correra para o outro lado.
Aquela noite fora interessante Nathaly até que se portara bem. Mas, ele não deixara de notar que ela mantinha em seu olhar um ar de desafio que o atraia ainda mais. Quem sabe não pudessem brincar um pouco de gato e rato e ver quem cedia primeiro? Shawn sabia ser um adversário duro quando ele queria, e nunca desistia fácil. Mas, por outro lado, Nathaly prometia ser um páreo difícil de se vencer, o que o fazia acreditar que sua estadia no Brasil seria mais interessante do que pensava.
Ele chegou ao hotel, estacionou o carro em sua costumeira vaga e se despediu do segurança que fielmente o seguira até ali. Entrou em seu quarto com a jaqueta preta a tiracolo, se despiu e foi para o banho. A noite tinha esquentando bastante, e nem mesmo uma brisa fresca parecia refrescar o ambiente. Pelo que Shawn se lembrava, São Paulo era menos quente que o Rio de Janeiro, mas ainda assim era bem mais abafada que o Canadá no verão.
Shawn gostava do clima tropical do Brasil, podia-se andar mais a vontade, ir para a praia com mais frequência, e ficar acordado até mais tarde admirando as estrelas, o que em seu país seria impossível naquela época do ano, onde o frio intenso impedia qualquer pessoa de sair de casa, a não ser que ela quisesse enfrentar temperaturas abaixo de zero. Havia também nevascas constantes, e as crianças ou até mesmo alguns adultos se aventuravam a construir bonecos de neve, ou andar por horas a fio naquela imensidão branca somente pelo prazer da caminhada.
Shawn saiu do banheiro usando apenas uma cueca boxer branca Calvin Klein, marca que ele assinava. Colocou uma bermuda por cima e foi até a sua varanda privativa e observou a cidade que à meia noite parecia adormecida. Sorriu consigo mesmo ao se lembrar da expressão de Nathaly quando se despediram e ele lhe dera um beijo no rosto. Ele não soube dizer se ela ficara frustrada ou zangada com ele, mas alívio não foi a emoção que viu cruzar os olhos dela quando a soltou.
Ele tinha certeza que ela esperava por um beijo, e ele a induzira aquilo. Shawn quis brincar com ela e ver se era tão indiferente a ele quanto fingia ser, e conseguira sua resposta triunfantemente.
Porém, ele tinha que admitir que quisera beijá-la a noite toda. Durante o jantar, ele observara cada gesto dela como se estivesse enfeitiçado. A maneira  como ela sorria de lado quando dizia algo engraçado, o leve curvar das sobrancelhas quando parecia analisar com cuidado alguma pergunta que ele fizera, as mãos que não paravam quietas, e acompanhavam suas expressões faciais enquanto ela conversava, sua risada irônica quando ele tentara convencê-la de algo no qual não acreditava, e por fim seu rosto cheio de encantamento enquanto olhara para ele cantando em cima do palco,  e ele não sabia descrever o prazer que aquilo lhe dera, pois passou os momentos seguinte  cantando somente para ela, como se Nathaly fosse a única espectadora naquele lugar.
Sim, ele quisera beijá-la, e não o fizera por puro capricho. Quisera fazer com que ela provasse do próprio veneno deixando-a tão frustrada quanto ela o deixava em certos momentos.
Ele nunca fora rejeitado por garota nenhuma antes, e aquele fato o deixara irritado. Isso não queria dizer que ele se achava o cara mais irresistível do mundo, mas pelo menos as garotas com quem ele não saíra por pura falta de afinidade acabaram se tornando suas amigas, e nem isso ele conseguira com Nathaly. Ela literalmente o dispensara quando ele lhe perguntara se podiam se ver novamente, e ele quisera castigá-la por querê-lo longe de sua vida.
Mas ele teria dado tudo por mais um beijo daqueles lábios provocantes e por mais um abraço apertado naquele corpo que o tirava do sério, e agora se perguntava como faria para vê-la de novo.
Não queria partir sem que pelo menos ele e Nathaly estivessem em bons termos, e ele pudesse assim ter esperanças que ela mudasse de ideia em futuro próximo Ele faria shows pelo Brasil por pelo menos um mês, e desejava até o fim daquela temporada conseguir se aproximar mais de Nathaly. Ele era uma pessoa paciente, não gostava de fazer as coisas apressadas ou por impulso. Queria se dar a chance de conhecer aquela garota pouco a pouco, pois tinha certeza absoluta que valeria a pena.
Nathaly não era uma garota comum. Tinha alguma coisa nela que brilhava como se ela estivesse sob o calor do sol intenso, principalmente quando falava de sua profissão, mas por outro lado, ele também notara uma sombra passar pelos olhos dela em momentos que ela pensara que ele não estava olhando.
Haviam duas personalidades dentro dela que, o intrigavam e que ele desejava conhecer, somente esperava ter tempo para isso.
Tal pensamento o lembrou que tinha que marcar com a amiga dela a entrevista que prometera. Quem sabe ali não estava a oportunidade pela qual vinha esperando para se aproximar de Nathaly. .
Shawn foi para a cama com o firme propósito de colocar seu plano em ação.  Quando acordou, a primeira coisa que fez foi discar o número de telefone da amiga dela, que o atendeu muito alegre e educada. Marcaram para a semana seguinte, o que o deixou um pouco frustrado, pois queria começar a executar seu plano imediatamente, mas a moça lhe explicara que estava se recuperando de uma enfermidade e somente teria alta médica para sair de casa ou voltar a sua vida normal na próxima semana. Shawn concordara,  afinal, aquilo era melhor que nada.
Ele desligou o telefone, pediu serviço de quarto, e seu café da manhã foi logo servido.
Quando estava se deliciando com um maravilhoso pão de queijo, Andrew entrou em seu quarto parecendo bastante animado.
- Shawn, tenho novidades. Consegui me comunicar com a imprensa local, e eles concordaram em nos ceder um de seus jornalistas para cobrir exclusivamente seus shows.
- O que? Por que precisamos disso? Já não temos imprensa suficiente no nosso pé, e agora você quer colocar um jornalista dentro da turnê para ficar grudado em mim o tempo todo? – Shawn estava muito aborrecido. Ele sabia que o papel da imprensa era importante para a divulgação de seu trabalho, mas isso não queria dizer que apreciasse ter um jornalista  em sua cola o tempo todo.
- Calma, Shawn. Não, precisa se alterar desse jeito. Será bom para a sua carreira ter alguém fazendo o making off da turnê.  Todo artista precisa de publicidade, mesmo aqueles que como você já alcançaram o estrelato. – Shawn passou as mãos pelo cabelo, gesto que ele fazia sempre que estava nervoso, tenso ou preocupado com alguma coisa. Não estava gostando nada daquela história.
- Você tem certeza que isso é mesmo necessário? Já temos tantas ferramentas para divulgar meu trabalho na internet. Meu Instagram e Twitter estão sempre bombando, sem contar o Facebook que recebe milhões de curtidas todos os dias. Não vejo porque devo me submeter a esse tipo de coisa. Já temos publicidade demais.
- Vamos, Shawn, seja sensato. Um jornalista pode nos ajudar com outros veículos de comunicação além da mídia. Pense um pouco, o Brasil é um mercado importante para qualquer artista, acho que você deveria pensar melhor a respeito.
- Está bem, -disse por fim.- Mas, quero avisar que se eu me sentir incomodado com qualquer coisa, vou dispensar esse jornalista em dois tempos.
- Está bem, Shawn. Como quiser. Prometo que você não vai se sentir pressionado com isso.- Andrew soou tão convincente, que Shawn quase acreditou nele, mas ele tinha a nítida sensação de que aquilo não ia dar certo.
- E você sabe qual jornal vai cobrir minha turnê por aqui? - sua pergunta era desinteressada, sem demonstrar entusiasmo algum por aquele assunto.
- É um jornal bastante conhecido e respeitado por aqui. O nome é O embaixador.
Shawn abriu a boca para dizer algo, mas se calou. Somente seus olhos arregalados mostravam o tamanho da sua surpresa. Ele reconheceu imediatamente o jornal que Nathaly trabalhava, e sorriu. Shawn não podia acreditar em seu golpe de sorte, apesar de se lembrar que este tipo de cobertura jornalística não era a praia dela, mas quem sabe ele pudesse mexer uns pauzinhos e torná-la a jornalista oficial daquela turnê.
- Você conhece esse jornal, Shawn? - Andrew perguntou intrigado com a súbita mudança de humor dele.
- Sim, é um excelente jornal.
- Por que parece que agora você está subitamente interessado na minha ideia?
- Eu tenho uma amiga que trabalha lá.- ele disse enigmático.
- Amiga? Sei. Acha que me engana, Shawn? Até ontem você não conhecia ninguém aqui, como de repente você tem uma amiga que trabalha em um jornal? - aquilo estava ficando cada vez melhor, Andrew pensou.
- E isso importa?
- Claro que importa. Se meu cliente está envolvido emocionalmente com uma garota eu preciso saber.
- Nós não estamos envolvidos emocionalmente.
- Então me diga o nome dela.
- Eu não vou te dizer o nome dela. Você não acha que está se intrometendo demais em minha vida particular? – Shawn perguntou irritado com a insistência de Andrew.
- Está bem, Shawn.  Não vou mais tocar nesse assunto. Esteja pronto daqui a meia hora, pois temos que ir ao jornal formalizar nosso acordo e assinar o contrato.
- Está bem.- Shawn esperou seu empresário sair, e se vestiu rapidamente com uma camisa polo de algodão azul, calça jeans e tênis.
Quem poderia esperar que a sorte lhe sorrira naquele dia tão ensolarado e quente de verão? Ele estava torcendo para que Nathaly estivesse no jornal àquela hora e pudessem conversar um pouco. Ele tinha mandado uma mensagem de boa noite para ela no dia anterior, quando chegava no hotel, mas ela não respondeu. Talvez ainda estivesse zangada pelo beijo que não aconteceu, e por isso não respondera a mensagem dele. Mas, se Shawn tivesse a chance de se aproximar dela novamente, aproveitaria as oportunidades que não faltariam para que se conhecessem mais intimamente, se ele conseguisse domar o gênio de fera que Nathaly tinha é claro, e ele sabia que ia adorar fazê-la se derreter por seu charme, e tê-la em seus braços novamente. Aquele momento em seu camarim ainda rondava seu cérebro e o pegava de surpresa sempre que ele estava distraído. Recordar a maciez da pele dela embaixo do corpo dele, os beijos ardentes que trocaram faziam com que Shawn desejasse repetir a dose. Ela era incrivelmente sensual, até mesmo quando caminhava ou cruzava as pernas distraída exibia uma linguagem corporal que qualquer macho alfa encararia como um desafio excitante.
Shawn se sentia pego naquela rede de sedução que ela jogara sobre ele, mas com uma diferença de que quem iria dar as cartas e ditar as regras do jogo seria ele agora. Ele queria ver até quando ela resistiria sem sucumbir às suas investidas, pois ele podia sentir que a atração era mutua, mas fazer com que Nathaly admitisse isso talvez fosse uma tarefa difícil, mas que ele realizaria com prazer.
Ele encontrou com Andrew no saguão do hotel trinta minutos depois, e ambos foram na Ferrari de Shawn até o jornal. Ao entrarem na recepção, Shawn percebeu que o burburinho de pessoas conversando cessara.  Havia cinco garotas que trabalhavam como recepcionistas ali, e pareciam completamente encantadas por ver Shawn Mendes parado no meio da sala esperando para ser atendido. Uma delas se recuperou a tempo do susto, e veio falar com ele, se equilibrando em saltos altíssimos e remexendo os quadris exageradamente, como se quisesse que ele notasse seu bumbum avantajado e apertado em uma calça jeans que Shawn tinha certeza era um número menor que o dela. Os cabelos loiros e longos balançavam conforme ela andava, e ele notou assim que ela se aproximou dele que ela tinha simpáticos olhos verdes.
- Bom dia, Sr. Mendes. Por favor me acompanhe, o Sr. Moura os espera.  – Ela disse em um inglês agradável.
Enquanto a seguia por um corredor enorme, Shawn olhou para todos os lados, procurando por Nathaly, mas notou desapontado que ela não parecia estar em nenhum lugar.
Pegaram o elevador que os levou até o terceiro andar, e depois pararam em frente à uma porta com uma placa que dizia Cláudio Moura, Vice- Diretor.
Vozes alteradas pareciam vir de lá dentro, e Shawn notou que a garota loura que os trouxera até ali batera na porta um tanto hesitante e ao ouvir uma voz lá de dentro que lhe dava permissão para entrar, ela girou a maçaneta, colocou apenas a cabeça para o lado de dentro e explicou que Shawn e seu empresário haviam chegado. Em seguida, um tanto constrangida, mas ainda sorrindo ela disse:
- Por favor entrem.
Assim que entraram, Shawn viu uma garota se virar para ele, e fixar aqueles olhos amendoados que ele tanto queria reencontrar em seu rosto em estado de choque.
- Bom dia, Nathaly Como você estás essa manhã? – ele lhe disse sorrindo. Shawn então viu o rosto dela mudar de choque para indignação, e de indignação para raiva, a qual ela não fez força nenhuma para esconder quando disse:
- Você???
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