Oásis. [yeonbin]

blue haired boy.

Nunca fui o cara mais estudioso do universo, as minhas notas altas são consequência do meu péssimo convívio escolar, já que, eu não tenho amigos, nenhum sequer, e por isso acabo estudando bastante.

Mas, embora meus pais se orgulhem demais em dizer que eu sou um aluno nota dez, eu odeio estudar. Odeio qualquer matéria escolar. Odeio estar na escola e todo esse prédio de paredes azuis com a pintura lascada me enoja.

É quinta-feira, seis de dezembro, meu aniversário foi ontem, na quarta-feira, e, existe no Brasil, do outro lado do mundo, uma comemoração que dura quatro dias e acaba numa quarta-feira. Eles a chamam de quarta-feira de cinzas e eu acho que isso tem muito a ver comigo e toda a merda que está acontecendo.

Andar pelos corredores da escola é pior em dias de campeonato de futsal, parece que a libido de todos os adolescentes fica atiçada quando eles estão prestes a disputar uma taça oca de latão barato. Nesses dias não é obrigatório usar uniforme e, por isso, as meninas se vestem igual vadias e os garotos de forma tão pateticamente vergonhosa que tenho certeza que irão chorar no futuro por causa disso.

Quando o sinal soa anunciando o início da aula de química, eu me encolho contra mim mesmo e abraço meu próprio corpo esperando que a professora arrogante adentre a sala de aula buscando por algum aluno para humilhar intelectualmente. Eu fecho os olhos, deito a cabeça contra a mesa e rezo para que eu não seja esse aluno.

— Bom dia.

A voz da Sra. Kwon, a professora, ecoa pela sala de forma aguda e irritante. Ela é baixinha e sua pele toda enrugada pela idade, seus dedos calosos carregam um bastão para todos os lugares e eu, secretamente, tenho medo dela. Seus cabelos são tão ralos que é possível ver seu couro cabeludo pálido sem nem precisar chegar perto e, a forma como ela usa roupas reveladoras demais para sua idade me deixa desconfortável.

Os alunos respondem em uníssono enquanto eu ainda estou fingindo dormir, consigo sentir uma movimentação diferente na sala, mesmo que meus olhos estejam fechados, e eu luto contra a curiosidade de espiar o que quer que seja.

— Esse é Choi Yeonjun, ele foi transferido recentemente e é um novato na cidade. Sejam simpáticos e receptivos, animais.

Sra. Kwon continua falando e eu mordo o lábio inferior ao ouvi-la. Contendo o ímpeto de encarar o novato eu fecho minhas mãos em punhos e as abro, antes de fechar outra vez. Tenho essa mania desde que era pequeno e, vez ou outra acabo repetindo.

Beomgyu, o baixinho jogador de futsal, é o primeiro a se pronunciar. Apesar de ser um babaca como qualquer outro, Beomgyu também é bem simpático quando decide ser e não demora muito até que ele esteja convidando o novato para se sentar com ele. Ouço um, não, obrigado, numa voz tão rouca que fez todos os meus pelos enrijecerem de uma só vez.

Então, sinto quando a pancada vem forte de uma só vez e quando levanto minha cabeça, a maldita professora está me acertando com o bastão.

— Não é pra dormir em sala, Sr. Kim. — Ela diz. E todos riem, como a merda de uma classe na quinta série. Quero dizer um vai se fuder bem forte mas tudo que faço é encará-la sem reação. Sei que embora minha vontade de xingá-la seja grande, eu certamente iria pra detenção por isso, então acabo amaldiçoando até sua sexta geração em meus pensamentos enquanto balanço a cabeça afirmativamente.

Meus ombros doem pela posição esquisita em que dormi nos primeiros horários e a luz branca faz meus olhos arderem, é preciso piscar várias vezes para enxergar alguém parado na frente de todos enquanto examina cada olhar sobre si, decidindo onde sentar.

É quando nossos olhos se encontram que eu começo a sentir o ar fugindo dos meus pulmões. Ele é alto, embora não seja tanto quanto eu, e tem um rosto tão diferente dos outros que eu sinto meu baixo-ventre aquecendo apenas em olhá-lo de longe. Seus lábios são cheinhos, o nariz proporcional e os olhos tão intrigantes que eu sinto vontade de tocar suas pálpebras e beijar suas têmporas.