Through The Night

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Yeonjun parece hesitante. Eu estou sentado, em outro canto do cômodo, os olhos estudando cada movimento seu. Em minha cabeça tento digerir todas as informações, não duvido da veracidade dos fatos mas, mesmo assim, não é fácil. Tento imaginar o que se passa na cabeça dele. Sei que está respeitando meu espaço, sei que está fazendo isso pois sabe que é o que eu quero, mas, acima disso, sei que não é o que ele quer.

Logo, após um longo tempo em silêncio, Yeonjun, enfim, se remexe e confessa:

— Tenho que dizer uma coisa, Soobin — Diz ao cruzar os braços.—, agora que você entendeu o que fiz, agora que entendeu porque eu fiz.

— O quê?

Seu peito sobe e desce, respirando rápido. Está receoso, parecendo apreensivo como um pai que tenta convencer uma criança.

— Não posso continuar voltando.

— O quê?

Ele se aproxima, cauteloso, faz um carinho em minha bochecha.

— Me deixe dizer uma coisa — Começa, calmo.— Eu tinha 5.360 viagens quando o acidente aconteceu. Viagens são importantes, você sabe, e todo ano eu reservo algumas datas para visitar minha família. Eles estão em anos diferentes, isso dificulta. Vou até minha mãe, depois até minha avó, depois Yerim, minha irmã. Acontece que — Yeonjun suspira.—, eu fiz algumas besteiras. Perdi viagens por besteira e não consegui calcular muito bem. Eu penso que nossos destinos estão traçados, vou te encontrar lá na frente, mas não tenho certeza quanto a minha família. Tenho medo de perder elas. Eu quero continuar visitando elas, enquanto ainda tenho tempo. E, não quero me perder aqui, Soobin.

Yeonjun pisca algumas vezes. Me encara como um cachorro sem dono.

— Você sabe, este ano, não foi o que eu escolhi. Há coisas maiores que eu e, mesmo que eu queira, não posso ser descuidado. Agora, eu pertenço aos anos que se seguiram após 2024. Se eu ficar aqui posso me perder e sumir para sempre. Não quero isso. Não quando sei exatamente o que acontece.

Engoli em seco. Quis fazer alguma reclamação, porque eu entendia exatamente o que ele estava propondo. Tecnicamente, nos conhecemos daqui a oito anos, se ele realmente fala sério quando sugere isso, talvez eu fique um pouco frustrado. Entretanto, não tenho direito de questionar suas decisões, não posso fazê-lo escolher entre mim e sua família, porque após toda essa história, sei quem ele escolheria.

— O quê aconteceu com seu pai foi por causa dessas viagens?

Yeonjun assentiu.

— Sim. Ele viajou. Não voltou nunca mais. Eu tinha oito anos, não sabia que era o que era. Tentei procurá-lo mas foi inútil. Quando eu tinha quinze anos, descobrimos que ele morreu. Ninguém sabe exatamente como, mas ele morreu.

Diferente de como reagi da primeira vez que soube da notícia, agora eu engulo em seco e ergo o olhar para seu rosto. Antes, eu não sabia o que dizer, nada do que dissesse seria de fato honesto. Me sinto diferente em relação a muitas coisas e aprendi algo importante; tudo bem não ter respostas para tudo. Às vezes dizer qualquer coisa que seja, no mínimo, reconfortante, é quase tão bom quanto se manter em um silêncio respeitoso. Sei que ele não se incomoda com isso, sei que para Yeonjun não é grandes coisas, mas, mais uma vez, para mim é.

— Sinto muito por isso, Yeon. Daria um mundo para proteger você. Para evitar tudo isso.

— Você pode me proteger, protegendo a si mesmo. Está bem? Enquanto eu estiver longe, quero que me prometa que vai se cuidar. Estou indo em breve e será longo.

— O quê está dizendo?

— O plano era... fazer você entender e então te esperar.

— Esperar?

Oásis. [yeonbin]Onde histórias criam vida. Descubra agora