— Você me ignorou todos os três primeiros horários. Achei que fôssemos amigos.— Yeonjun está debruçado sobre a minha mesa. Seu cheiro impregna minhas narinas, um cheiro forte de sabonete e desodorante.— Ah, o que foi, Soobin-ssi? Seu pai te acordou com um balde de água fria?
Ele solta uma risada. Eu reviro os olhos. Não preguei os olhos em nenhum momento na noite passada, eu me sentia cheio demais para relaxar. A cabeça rodando e inventando problemas para me preocupar, como se eu já não estivesse tão ferrado.
Yeonjun chegou cedo hoje, diferente de todos os dias da semana passada, e eu odeio segunda-feira quase tanto quanto odeio pessoas enxeridas como ele.
— Saia de cima de mim.— Minha voz sai como um rosnado e eu o empurro pelos ombros. Yeonjun é tão insistente em tudo que faz e está me irritando. Principalmente a forma como ele sempre sorri mesmo que eu esteja sendo o mais arrogante que consigo.
— Vamos tomar sorvete depois da aula, Soobin?
— Não quero.
— Ou podemos assistir Parasite outra vez.
— Eu não quero.
— Então, vai se fuder, Soobin.
Ele se afasta enquanto finge estar irritado e se senta atrás de mim, eu acabo por soltar uma risada porque gosto da forma como ele adora repetir meu nome. Gosto, principalmente, como meu nome soa mais bonito quando é ele que está dizendo.
— Hoje terá um festival de fogos em comemoração a alguma merda, quer assistir comigo? Nós podemos ir até aquela floresta ao norte e assistir tudo lá.
— Pode ser.
(...)
Nós caminhamos pelo mesmo caminho todos os dias, e é quase como se fôssemos amigos. Dessa vez, entretanto, nós continuamos caminhando mesmo quando passamos em frente à minha casa. Yeonjun está andando na frente, ouvindo algum pop clássico como Madonna dos anos 80 e seus cabelos parecem mais bagunçados hoje. Há uma floresta grande na parte onde a natureza faz uma fronteira com toda essa urbanização. São mais de quarenta minutos até que meus pés estejam tocando o solo de terra e não mais o asfalto.
Quarenta minutos de silêncio com Yeonjun parecem muito mais confortáveis do que todas as minhas conversas dentro de sala de aula. Parece que nos entendemos mais quando estamos apenas olhando sem dizer necessariamente nada. Apesar disso, eu gosto de como ele fala sobre as coisas. Como cita tantas personalidades e histórias reais que me fazem sentir como nada além de um leigo em qualquer assunto. Yeonjun é inteligente e isso me anima, desde as pontas dos pés até o último fio de cabelo.
— Você tem irmão? — Em certo momento, quando já estávamos nos encarando por tempo demais, eu pergunto, beliscando o interior da minha bochecha. Ele se vira para mim e dá de ombros.
— Tenho irmã.
— Como ela é?
— Adulta e bonita demais para você.
Meus olhos se reviram quase automaticamente da forma como faço toda vez que o garoto de cabelos azuis diz alguma estupidez — ou seja, todo instante. Ele crava os pés na terra seca e chuta o chão duas vezes, a poeira vermelha subindo até minhas narinas.
— Você gosta disso?
— O quê? — Digo ao passar por ele. Adentrar aquela floresta se torna mais interessante quando passo a fingir que estou fugindo de algo, como nos filmes americanos. Dessa vez, sinto que estou fugindo do que quer que Yeonjun possa perguntar.
— Silêncio.— Ele sussurra. Minhas sobrancelhas estão arqueadas em sua direção, eu dou de ombros. Suas manias se tornam minhas manias no momento em que imito sua forma descarada de desviar de alguma pergunta.
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Oásis. [yeonbin]
FanficSoobin vê sua vida emergindo em puro caos ao se deparar com o divórcio de seus pais. Desolado e deprimido, ele conhece Yeonjun, um garoto extrovertido que tem a incrível habilidade de viajar no tempo. yeonbin!au side!taekook