ready or not

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Coreia do Sul, treze de setembro de 2096.

"Seus cabelos sedosos são  como um manto negro, que se estendem até mim e me cobrem numa noite fria. Não sinto medo, estando ao seu lado é tudo mais tranquilo.  As curvas de seu corpo envolvem o corpo pequeno do que um dia foi uma criança mas agora é apenas fragmentos da guerra.

Então, ouço seu nome me chamar. De longe, tudo que existe é apenas ela. Suave e sedutora... presa em tudo que envolve não somente a si, mas nós dois."

— Yeonjun...

Meus dedos batem contra as teclas do alfabeto, no teclado do meu computador. Yerim grita meu nome, vezes incontáveis, mas não me importo em responder. Se eu me desconcentrar vou acabar perdendo a ideia.

— Yeonjun!

Ela insiste, chegando mais perto. Consigo vê-la pelo espelho a minha frente, minha irmã veste amarelo e isso significa que hoje é um dia especial. A cada passado que dá, em minha direção, é como se eu estivesse caminhando para um fim eminente. Preciso terminar de escrever ou posso acabar sufocando.

— Yeonjun! — Os dedos de Yerim acertam minha cabeça tão forte que acabo por soltar um gemido de dor. Fecho os olhos com força, buscando e buscando, mas a ideia já foi embora.

E o fim da história se perdeu durante o curso.

— O que diabos está fazendo?

Ela grita, apenas porque adora gritar, mas seu tom não é agressivo. Mamãe a afogou, acidentalmente, quando ela tinha pouco mais de seis anos, por isso, Yerim não tem audição e se comunica com as palavras que ainda lembra.

"Eu estava escrevendo minha história, para a aula de redação" Eu movo os dedos em linguagem de sinais, estou aflito e ela suspira. Seus dedos procuram por meus cabelos e minha irmã afaga tão suavemente, como um leve tilintar. Meus olhos estão fixos em seu rosto, pelo reflexo do espelho preso a minha parede. Yerim se inclina até mim e beija minha cabeça.

— Feliz aniversário. A vovó quer ver você.

Há algo na forma como ela sorri, parece penoso ao meu ver. Conversas com a vovó são sempre melancólicas e eu não tinha certeza se queria vê-la no meu aniversário. Embora fosse muito inteligente, a velha também era reclamona e eu só tinha quatorze anos.

O escritório da minha avó, que se chamava Yoona, ficava no terceiro andar da nossa casa, era um lugar obscuro e cheio de sinais de alerta. Minha mãe costumava repetir milhares e milhares de vezes como eu não deveria incomodar minha avó, mas ela só aparecia duas vezes por ano e então sumia de repente, sem nem dizer onde ia.

Eu adentrei o local sem pedir licença, se ela estava realmente me esperando não havia porque ser tão educado. A mãe do meu pai se virou para mim e eu senti calafrios. Suas unhas e cabelos eram enormes, suas roupas pareciam de outras épocas, mas seu sorriso era sempre tão simpático e acolhedor.

— Pequeno Yeonjun! — Ela ergueu os braços na minha direção e em segundos eu já havia me arremessado contra seu peito. Embora fosse uma criatura excêntrica, minha avó tinha os melhores abraços do mundo.— Olhe para você, tão grande!

— Eu já tenho quatorze anos, vovó Yoona. Hoje é meu aniversário.

Ela sorriu e amassou minhas bochechas com as mãos grandes e cheias de anéis dourados.

— Eu sei e eu trouxe um presente.— Meus olhos se arregalam quando ela começa a mexer em uma de suas gavetas mas meu sorriso murcha ao vê-la erguendo um livro velho.— Hoje, Choi Yeonjun, você se torna um homem e há muito o que aprender. Sente-se.

Oásis. [yeonbin]Onde histórias criam vida. Descubra agora