Oitenta e oito

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Meredith PoV

Eu passei a noite inteira acordada, de tudo que o Andrew fez, isso foi uma das coisas que mais me magoou, ele dizer que não se importa com o bebê foi pior, claro, mas dessa vez, ele expôs pra todo mundo algo que eu confiei a ele, eu engulo o choro muitas vezes e vi o dia clarear, tentando pensar no que fazer, tomo banho e vejo meu notebook aberto, em cima da mesa, troco de roupa e vou até lá, entro no meu e-mail antigo e tem vários e-mails, muitas editoras, pessoas aleatórias, eu vou apagando e deixando só os das editoras, preciso ler com calma antes de tomar uma decisão, essa tarefa me distrai, eu ouço a Melissa abrir a porta, vou aproveitar que ela chegou cedo e sair mais cedo também, então enquanto eu desço a tela vendo os e-mails, vejo que tem um da conta pessoal do Andrew, só diz que precisamos conversar, eu respiro fundo pra não chorar, ele não quer nem saber do filho mas está interessado no meu livro que ele mesmo espalhou, eu fecho o notebook com força e levanto, sinto uma pontada no baixo-ventre, eu curvo o corpo, não, isso não pode estar acontecendo, eu tento ficar em pé mas não dá
- Melissa
Eu chamo e ela vem logo
- Dona Meredith? Tá tudo bem
- Não, chame uma ambulância agora
Ela corre pro telefone e eu sento na cama, tentando respirar, ela volta pro quarto
- Eles já estão vindo, eu vou chamar a Zola
- Não, ligue pro Alex ou pra Jo e avise.... fique aqui com ela
Ela sai de novo e quando volta já é com os paramédicos, eu sou grata pela pressa, eles me colocam na maca e eu só consigo pensar que o meu bebê tem que ficar bem. Quando eu entro na ambulância, eu ouço o primeiro trovão, isso não pode estar acontecendo.

Assim que eu chego no hospital, os paramédicos informam sobre a gravidez e me levam pra um ultrassom urgente, meu coração tá pesado e dói tanto que eu mal consigo respirar
- Meredith, certo?
A médica fala comigo
- Sim
- Eu sou a Dra Bailey e vou ver agora como está o bebê, ok?
- Ok
- Você tá sozinha?
Ela não tem ideia de como aquela pergunta foi dolorida, eu respiro fundo
- O Alex... meu... irmão, deve estar chegando
- Ok, esse gel pode ser um pouco gelado , você caiu ou se assustou recentemente?
As batidas do meu coração aceleram, é visível no monitor
- Não
- Tem passado por muito estresse?
Eu respiro fundo
- Mais do que eu poderia explicar
- Isso não é bom pra vocês
Então um som se espalha pela sala
- Aqui está, as batidas do coraçãozinho
Eu respiro fundo e então ouço mais um trovão, meu corpo estremece involuntariamente, a médica percebe e fecha a janela e a cortina, sem dizer nada
- Parecem mais lentas do que antes
Eu digo com a voz embargada e vejo ela respirar fundo
- Sua pressão está alta, nós vamos vamos monitorar você e o bebê até amanhã e vê como se saem, tá bom?
Eu fecho os olhos e só assinto, ela limpa minha barriga e desce minha roupa, mais um trovão, agora eu ouço longe e mais baixo, mas ainda assim dá pra ouvir, eu aperto os olhos com mais força
- Sabe? Eu tenho um tempo agora, vou te fazer companhia até seu irmão chegar
Ela puxa a cadeira pra mais perto de mim e segura minha mão, de leve
- É seu primeiro filho?
Ela me pergunta, eu abro os olhos devagar
- Não, mas é a primeira gravidez
- E você está feliz com isso?
- Pelo bebê, estou, claro, é o meu filho
- Seus olhos não parecem felizes
- A vida não está muito fácil mas não tá pra ninguém, não é?
Mas tem mais um trovão e eu aperto a mão dela com força, quando percebo o que eu estou fazendo, solto devagar
- Sinto muito
Eu tento tirar a mão devagar mas ela não solta
- Pelo que? Não percebi nada
Meus olhos enchem de lágrimas, tem estado tudo tão difícil e encontrar qualquer tipo de gentileza, sem querer nada em troca, me emociona
- Sabe, Meredith, você não precisa ser forte, o tempo inteiro, você pode sofrer, chorar, gritar que não aceita nada do que está acontecendo com você e então chorar mais um pouco, você não será menos forte por isso, você tem o direito de não se conformar, de não aceitar, você tem o direito de sentir toda a dor, então levantar, sacudir a poeira e seguir sendo a mulher incrível que eu sei que você é.
Eu não seguro as lágrimas e choro, por tudo, pelo medo de perder o bebê, pela falta que a Zola sente do Andrew e de morar em Seattle, por ver meu livro, minha vida exposto como foi, pelo Andrew não se importar com o bebê, por tudo que eu ouvi dele e mais ainda por sentir meu corpo doer de tanta saudade dele.
Eu não consigo parar de chorar e a Dra Bailey só segura a minha mão e não diz nada, assim nós ficamos e eu não faço ideia de quanto tempo se passou até que o Alex e a Jo entram no quarto
- Mer? O que foi?
O Alex parece desesperado, eu vejo a Dra. Bailey se apresentar e não presto atenção no que ela está dizendo, só tento me concentrar em parar de chorar, mas quando o Alex vem e deita ao meu lado e a Jo segura minha outra mão, eu só não consigo parar.

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