O começo (capítulo 01)

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Orfanato das rosas
18:00

Já estava quase na hora de sermos recolhidas para ir dormir. Só que eu tinha um trabalho diferente. Tinha que alimentar os animais primeiro, todos sem exceção. As regras do orfanato são rígidas, mas, vale a pena cumpri-las, se formos boas meninas e seguirmos todas as regras iremos para cama com a barriga cheia. Mas, se não cumprir as regras da forma exigida você não irá comer hoje e nem amanhã.

Faz absolutamente quatro anos que eu estou no orfanato das rosas, tenho 15 anos, por tanto sou da divisão violeta. Primeiro, vem as tulipas, de 10 até 14 anos, depois as violetas, de 15 até 16 e o último as rosas, apenas as de 17, depois dos dezoito somos jogadas na rua para viver a própria vida, já que se tornam maiores de idade. Sempre ouvi boatos de quantas meninas morreram ao serem deixadas quando chegaram a maioridade, e também já ouvi em quantas se deram bem, conhecem alguém e vivem felizes até hoje. Só que meu maior medo, não é ficar lá fora, mas sim, aqui dentro.

Aqui é o verdadeiro inferno, simplesmente o que você não quer ter por perto muito menos morar nele. Mas eu não sou ingrata assim, eu agradeço todos os dias por termos o que comer, o que beber, um teto e uma cama confortável para ficarmos quentinhas durante o frio da noite. Eu sou feliz aqui, não ao máximo, mas sou feliz de um jeito mínimo. Ninguém quer ser minha amiga, todas fogem de mim por que eu agradeço por termos este orfanato e etc. Não seria exagero dizer que elas me odeiam, elas acham que ainda estamos aqui por que eu agradeço por termos o que comer, talvez seja isso que façam elas me odiarem.

Eu não fui abandonada aqui, mas sim foi minha única opção, minha mãe deixou meu pai comigo e foi embora, eu vivi com meu pai por longos anos, e nesse meio tempo ele descobriu um câncer nos pulmões, não demorou muito pra ele chegar a falecer, e logo em seguida o governo me mandou para cá. Eu também acho que as meninas tem medo de mim, talvez por que elas já devem ter me visto orando, devem ter achado que eu falo com mortos, elas são tão imaturas. Mas, eu não tenho raiva delas, eu queria a amizade delas, isso pra mim bastava. Mas fazer o que, não é, vivo como posso.

Eu estava colocando água para os cavalos, quando acabei caindo dentro do poço. Fiquei toda molhada, sabia que eu ía fazer algo idiota, se não fizesse não seria eu. Eu saí do poço, continuei a dar comida para os animais, quando acabei voltei para dentro do orfanato, logo me barraram.

Hakim_ Você está toda suja, o que ouve?

Era a senhora Hakim, a dona do orfanato das rosas.

Kayra_ Senhora, Hakim! _ Fiz uma breve reverência. _ Eu estava dando de beber aos cavalos e caí dentro do poço!

Hakim_ Não vai sujar meus banheiros com toda essa lama, vá para fora e tome banho lá! _ Disse me dando as costas.

Kayra_ Sim, senhora! _ Fiz outra referência e saí novamente para fora.

Fui para trás do orfanato, lá estava um vestido velho com remendos, provavelmente ela mandou alguém levar para que eu me vestisse.

"Obrigado, senhora Hakim! " Pensei com um sorriso fraco.

Eu me banhei com a água do poço, me troquei e levei a roupa que estava antes já colocando-as para secar. Poderia usá-las quando esta sujar. Eu fiz duas tranças no meu cabelo e tornei a entrar dentro do orfanato, já estava escuro logo mais as luzes seriam apagadas para irmos dormir, mas eu estava com fome, devido ao acidente no poço eu perdi a hora para o jantar.

Eu fui rapidamente para a cozinha e lá estava a Senhora Bakyou, ela quem prepara toda a comida. Me aproximei e a olhei sorridente, mas ela logo falou com raiva.

Bakyou_ O que faz aqui?

Kayra_ Senhora Bakyou! _ Fiz uma referência. _ Eu perdi a hora do jantar devido a um incidente, acabei caindo no po—

Bakyou_ A hora do jantar já passou! Vá para o quarto junto com as outras, em pouco tempo apagaram as luzes. _ Ela me cortou.

Kayra_ Mas senhora Bakyou e—

Bakyou_ Vai discutir comigo, Kayra? _ Disse me olhando seriamente.

Kayra_ Não senhora Bakyou, me perdoe! _ Me inclinei para fazer uma última referência. _ Com sua licença! _ Dei as costas e saí de lá indo para o quarto.

Não seria certo dizer "meu quarto" pois ele também é de mais 29 meninas entre 15 e 16 anos. Eu estava subindo a escadaria quando minha barriga roncou, parece que vou dormir de estômago vazio esta noite, acho que consigo segurar até amanhã de manhã.

Eu entrei no quarto silenciosamente, fechei a porta e me dirigi a minha cama, as luzes já estavam apagadas. Eu cheguei a minha cama, tirei meu sapato completamente gasto, subi e fiquei de joelhos, a luz da Lua era a melhor visão daqui a noite e minha cama se posicionava perfeitamente para me dar uma visão privilegiada.

Juntei as mãos na frente do meu peito e fechei os olhos. Logo pude ouvir os questionamentos.

Garota 1_ Ela é louca.

Garota 2_ O que ela pensa que vai fazer, falar com a lua?

Garota 3_ Ouvi dizer que ela fala com os mortos.

Garota 4_ Talvez seja com o pai dela!

Mesmo sendo apenas sussurros eu podia ouvir claramente, não me importei, apenas continuei.

"Deus, obrigado pelo dia de hoje, obrigado por ter feito a senhora Hakim ter sido boazinha comigo hoje, obrigado por não ter acontecido nada grave comigo ao cair no poço, obrigado pelas meninas terem se alimentado bem e quanto a mim, obrigado por ter um estômago forte e aguentar até amanhã, obrigado por termos onde dormir e comer. E se for da sua vontade que todas nós possamos conseguir um lugar com uma família! Eu te agradeço, amém! " Após terminar eu acabo sorrindo sozinha, logo me deitando e me cobrindo.

Ao fechar os olhos algo passa rapidamente em minha cabeça, uma voz doce e calma, logo essa voz é acompanhada por uma mulher. Mas quem será ela? Não me lembro dela mas está na minha mente.

"Sorria então, não fique triste, nunca mais te vi... abrindo um sorriso, o mundo enlouquece,se você não pode mais é só me chamar por que eu vou sempre estar lá..." Eu abro os olhos tentando me lembrar dessa voz mas nada.

Eu não me importei, deve ter sido algo que me lembrei de repente. Voltei a fechar os olhos e acabei adormecendo.

O Segredo Da Felicidade (EM ANDAMENTO)Onde histórias criam vida. Descubra agora