A cigana e Jisung

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Serendipidade.

Algo como ser afortunado. Como quando achamos dois reais perdidos no bolso daquela calça jeans que estava no cesto de roupas sujas há dias.

Era esse o sentimento que Seo Changbin esbanjava naquela manhã de quarta-feira mesmo que nem ele próprio soubesse bem o motivo e aqueles raios de luz que emitia incomodassem até Jeongin, que era a luz em pessoa.

A verdade é que fazia muito tempo que o garoto não se sentia vivo como agora. Não era como se ele já tivesse descoberto tudo sobre si mesmo e que fosse um tédio puro conviver consigo, mas Lee Felix tinha despertado algo novo nele que não conhecia, como fazia parecer que ele próprio despertara algo no outro.

Era um sentimento recíproco mesmo que ambos não tivessem consciência disso.

Contara aos seus amigos sobre os sonhos, omitindo alguns fatos, obviamente. Achava que eles não precisavam saber exatamente o tom que as sardas de Felix tomavam quando ele o beijava. Corava só de se imaginar descrevendo algo como aquilo para aqueles três.

Definitivamente não.

Entraram em um consenso. Aquilo era muito para ser apenas coincidência e os sonhos de Changbin vinham intensificando-se cada vez mais e pareciam se conectar as vezes, como peças de um quebra cabeça sendo achadas aos poucos.

Quase não tinha mais sonhos aleatórios e eles sempre eram tão nítidos em sua mente que pareciam realmente memórias de um passado distante.

Ainda não concordava com o jeito de seus amigos de lhe ajudarem com aquilo tudo, mas ainda era melhor do que pensar sozinho. Sua mãe sempre dizia que duas cabeças pensando era melhor que uma só, quatro então deveria ser perfeito. Além disso, o método de Jisung estava lhe rendendo boas risadas.

O último sonho parecia se passar na mesma época que um que tivera um tempo antes. Parecia ter seus nove ou dez anos e a casa era a mesma de quando se escondeu nos estábulos, já mais velho, do que parecia ser o pai de Felix.

Dessa vez não estava escondido e as roupas que usava eram bem mais apresentáveis do que da outra vez.

Estava com um homem que reconheceu como seu pai e este falava com alguém que parecia ser o senhor Lee.

Notou que fechavam um acordo sobre um quadro. Deduziu que seu pai era pintor, estava ali para fazer um quadro da família em questão e Changbin fora para ajudá-lo.

Quando viu Felix se pôr ao lado de sua mãe para posar para a pintura, soube que aquela era a primeira vez que se viam e lembrou-se que logo se tornaria a companhia preferida do garoto, depois algo há mais, e por algum motivo, esconderiam um relacionamento.

Era muito estranho saber o final daquela história. Como se tivesse recebido um spoiler antes de terminar o livro.

O Changbin de agora não acreditava nada em amores à primeira vista, mas se não usasse aquela nomenclatura não teria como nomear o sentimento crescente que sentiu em seu peito enquanto observava o pai dar vida à tela branca com a imagem daqueles que estavam à sua frente.

Quase pediu ao pé do ouvido do pai que pintasse mais uma do garoto para ele, mas sabia que aquilo não faria sentido nenhum. Ele estaria ficando louco?

Talvez. Mas o amor realmente nos faz fazer loucuras e ainda nos vangloriarmos delas como se fossem coisas de pessoas certas da cabeça. O coração batia tão rápido que desprendia alguns parafusos do cérebro, essa era a única explicação.

Antes de ir embora, seu pai acertava umas últimas coisas a respeito da pintura com o homem imponente e carrancudo que era pai de Felix e Changbin esperava sentado no batente da porta da frente, pelo lado de fora.

Beyond The Visions [changlix]Onde histórias criam vida. Descubra agora