Mau presságio

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O senhor Lee esbanjava um sorriso vitorioso no rosto naquela manhã.

Quem não o conhecia poderia dizer que ele só estava realmente muito feliz pelo casamento de seu único filho, mas quem bem sabia que toda a trajetória daquela família enxergava - bem no canto dos lábios, quase imperceptível - o desdém.

A igreja enfeitada e os ensaios e mais ensaios até aquele dia. O banquete e a lista de convidados exagerada. As roupas e até mesmo aquele tapete vermelho. Nada daquilo tinha a ver com Felix, nada era por ele ou para ele.

Tudo aquilo fazia parte do espetáculo de Lee Chulmoo, dono de uma renomada e influente marca de cosméticos. Sua imagem, mais que tudo, fazia parte do marketing da empresa. Tinham que ser perfeitos.

E isso incluía seu filho único e, consequentemente, seu herdeiro. E, obviamente, Changbin não fazia parte dos planos perfeitos que o senhor Lee arquitetara para a vida do filho.

Jihyo, por outro lado, fazia.

A garota se olhava no espelho, na casa na chácara com a capela onde daria um enorme passo em sua vida, o vestido reluzindo a luz do dia que entrava pela enorme janela da sacada. Grande era o número de pedras que decoravam a vestimenta.

Quantas vezes sonhou com aquele momento. Quantas noites em claro planejando para onde iria com seu amado após a cerimônia, quantos presentes abririam e como se divertiriam durante toda a vida ou quanto o universo lhes proporcionasse juntos.

Porém nada daquilo fazia sentido agora. As pessoas na lista de convidados, que a noiva não fazia ideia de quem eram, o banquete demasiado, a imprensa, e aquele vestido.

Ela queria chorar e não era de emoção pela aventura que se seguiria, pela euforia daquele momento. Era de medo pelo que estava prestes a fazer.

Jihyo amava Felix sim, mas já não tinha certeza se era daquela forma. Conhecia o garoto desde muito jovem e as famílias sempre foram muito próximas. O pai de seu noivo, mais do que ninguém, sempre quis que aquilo acontecesse e fez de tudo para que se concretizasse.

Tudo mesmo.

A Park temia pelas coisas que vez ou outra ouvia sobre o senhor Lee. Coisas que eram encobertas e que com certeza seriam sua ruína se viessem à tona.

Além disso, a garota sabia que o Lee mais novo não a amava como mulher. Sabia que ele já tinha alguém especial, com quem queria passar o resto da vida. Sabia que tinha sido um empecilho muitas vezes e, tinha vergonha de admitir, mas também sabia que tinha sido manipulada.

O que ela poderia fazer agora além de seguir o script e dizer sim?

Felix olhava pela brecha da porta entreaberta.

Seu pai havia sido cauteloso e, mesmo que o local da cerimônia estivesse lotado de pessoas, Felix tinha seguranças em seu encalço, o escoltado para qualquer lugar que fosse e passo que desse. Estava preso e não poderia fugir.

O terno preto era até bonito, como o que as pessoas conseguiam ver daquela situação, mas a blusa branca por dentro pinicava e causava desconforto ao Lee, exatamente como o lado dos acontecimentos conhecido por poucos. Era tudo questão da imagem que passaria, não o que realmente sentia.

Sentou-se numa cadeira acolchoada disposta no cômodo e passou as mãos pelos cabelos, bagunçando em segundos o que a equipe que lhe ajudou com a roupa tinha levado muitos minutos para arrumar. Tinha que pensar em algo antes que o desespero lhe tomasse por completo e nenhuma palavra fizesse sentido em qualquer frase que ele tentasse montar.

Pensou em sua mãe e em como tudo seria mais fácil se ela estivesse presente. Lembrou-se de como a mulher lhe dizia para seguir seu coração quando tudo parecesse sem saída e foi exatamente o que fez em seguida.

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