Changbin não tinha muitas lembranças de seu pai e isso lhe chateava muitas vezes, como a situação pela qual passava agora. Encarava uma folha de papel em branco sobre sua carteira e tentava não se atentar aos seus colegas de sala, que conversavam animadamente sobre seus pais, mesmo que os olhasse de soslaio e desejasse ser como eles.
— Ainda não escreveu nada, Changbin? - Uma voz feminina soou, fazendo o garotinho levantar os olhos na direção de sua professora.
A mulher viu os olhinhos do menino brilharem, mas não parecia ser de empolgação pela atividade que faziam como era com os outros ali presentes. Suspirou. Ela sabia que o Seo tinha perdido o pai ainda muito pequeno, a mãe deste já conversara sobre aquilo em outra ocasião, e lhe cortava o coração ver um rostinho tão pequeno parecer tão triste.
— Que tal se a sua atividade for diferenciada? - Ela propôs e um lampejo de algo que fez o sofrimento sair do rosto de Changbin. A professora sorriu - Você terá que fazer um trabalho de pesquisa.
— Trabalho de pesquisa? - O menino estava iniciando agora nos estudos, então não era como se soubesse tudo que englobava sentar-se naquelas cadeirinhas coloridas toda manhã e esperar sua mãe buscá-lo depois, mas aquele termo em específico chamou muito a sua atenção.
— Sim - Falou com convicção, tentando passar para o aluno que aquilo seria muito divertido - Vai ser uma pesquisa de campo. Você poderá entrevistar a mamãe e outras pessoas da sua família e assim coletar informações sobre o papai, o que acha?
[...]
Changbin respirou fundo.
Estava no batente do arco que dava para a cozinha, onde a mãe lavava alguns legumes que tinha colhido da pequena horta que a mesma cuidava. Ela se dedicava tanto ao seu jardim que sempre tinha manchas de terra nas calças largas que tinha costume de usar.
A mulher riu atraindo a atenção de Changbin, que a viu virar-se sem aviso, o assustando e fazendo-o se esconder atrás da parede.
— Está me espionando? - Ela perguntou - Devo temer um ataque?
Aquilo fez o menino rir e revelar-se. O rosto jovial de sua mãe fazia com que ele esquecesse muitas vezes de que ela era sua progenitora. Tinha dado à luz a ele muito jovem e por isso muitas vezes sentia que fazia as coisas errado, mas era olhar para o filho e ver o quanto ele refletia o pai, que todos aqueles pensamentos sumiam. Perdê-lo tinha sido muito difícil, mas tinha certeza que se não tivesse Changbin já naquela época, teria sido mil vezes pior.
— Mamãe, como o papai era? - O garotinho se sentou com um pouco de dificuldade em uma das cadeiras da mesa.
Aquela pergunta era algo novo, o que fez a mulher largar os legumes e olhar com um ar admirado e animado. Changbin normalmente não fazia perguntas sobre o pai, parecia que ele tinha receio do assunto, não gostava de lembrar da perda, assunto que fora até mesmo levado a especialistas. Aquele podia ser um passo para uma mudança.
— Seu pai era tipo um super herói, sabe? – Ela sorriu, puxando a cadeira ao lado para mais perto do filho e sentando.
Ela adorava contar histórias que envolviam aventura para o garoto nas tardes de tédio enquanto brincavam ou a noite para que ele dormisse, então era muito boa narradora dos fatos.
— Mas ele nunca usou capa, né, mamãe? – O menino perguntou, franzindo o nariz.
— Por quê? – A mulher riu apertando o nariz do Seo entre os dedos.
— É brega - Foi sincero.
A mulher riu anasalado e se perguntou onde o filho aprendera aquele adjetivo, mas seguiu dizendo que não, seu pai nunca usara capa, a não ser que ele considerasse os grandes casacos do corpo de bombeiros em que ele atuava.
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Beyond The Visions [changlix]
Hayran KurguSeo Changbin tinha visões do futuro desde que se entendia por gente e, até então, não sabia como as coisas poderiam ficar mais estranhas que isso. Tudo mudou quando percebeu que o garoto novo que chegara em sua classe era o mesmo garoto que via em s...