Prólogo

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Luca

Saí da clínica mais uma vez  enjoado, a mudança ainda era gradual para mim, voltar para casa depois de tanto tempo e ter que fazer aquilo de forma escondida ainda me desgastava muito. 

Subi em minha moto, mas resolvi não voltar para casa, o fim do dia estava fresco e o sol que não havia dado as caras o dia todo, já permitia a chegada da noite. Dias como aquele, eram  os melhores para mim, Enrico dizia que era porque parecia com o meu humor de sempre. E eu tinha que concordar. Na maioria das vezes não tinha ânimo para nada além de cair em um piscina e esquecer que o tempo passava.

Passei pelas orlas próximas, aproveitando o cheiro da maresia e da liberdade que estar sozinho me dava. Não era raro, mas era especial, desde que havia chegado à Itália. Como todas as vezes após passar na clínica, estacionei a moto próxima a mureta com vista para o mar. Um canto quase sempre tranquilo de Taormina, muitos turistas não tinham paciência para chegar até lá para apenas uma foto, o caminho era íngreme o suficiente para afastá-los.

Tirei a jaqueta, colocando-a ao meu lado enquanto balançava minhas pernas soltas a altura, do lado de fora da mureta. Estava tão concentrado em não pensar em nada, que não notei a aproximação de uma mulher até ela se sentar ao meu lado, bloqueando parcialmente o vento.

— Bella bici. — disse com uma voz doce que me fez encará-la. O italiano era precário, soava como uma mistura de espanhol.

— Grazie. — respondi me voltando para o horizonte. Uma mensagem clara de que eu não queria conversa.

Mas ela passou as pernas para o lado de fora como eu, e me olhou com curiosidade.

— Non stai pensando di morire, vero? — disse com um sorriso encantador, e um tom de brincadeira.

— Non. — Sorri de volta, e aquela pronúncia me incomodou a ponto de eu ter de perguntar. — Da dove vieni?

Com o mesmo sorriso iluminado ela respondeu. — Brasile.

Balancei a cabeça em compreensão. — Conheço pouco. — falei em português e ela me olhou espantada.

— Meus Deus! Que saudade dessa língua... Você é daqui mesmo?

Baixei os olhos. — Sim... — Suspirei.

— Como você fala português assim? — Ela quis saber, e seu sorriso delicado era como toques de veludo em mim enquanto seu perfume era trazido com o vento até meu rosto.

— Estudei em Portugal por muitos anos. É uma língua fascinante... — Baixei os olhos, para tentar me lembrar que não deveria estar falando tanto, que já deveria ter me levantado e ido embora. Mas aquele rosto, aquele jeito de falar, animado e... sem pudor, estavam me prendendo ali. — Está de férias? — perguntei para tirar o foco da conversa de mim.

Ela meneou a cabeça como se não tivesse certeza. — Mais ou menos. Acho que pretendo ficar por uns tempos.

Assenti desviando os olhos de seu rosto, percebendo o cabelo loiro se esvoaçando com o vento de forma estranha, meio estático, como se não fosse natural, os olhos também tinham um brilho fosco, mas nada apagava sua beleza, só a deixava mais enigmática. Talvez fosse apenas vaidade.

— Se procura um lugar para se estabelecer, sugiro que vá para o norte, as pessoas do sul não são lá muito confiáveis. — falei em tom brincalhão, mas esperando que ela me desse ouvidos.

Ela suspirou, se esticando, quase como se espreguiçasse. Estava relaxada, á vontade, e aquilo era bem estranho para mim. Mas gostei, era uma sensação nova.

Estava olhando para ela, esperando alguma resposta, mas seus olhos baixaram para meus braços, com as mangas da blusa fina dobradas sobre meus cotovelos. Fiquei sem graça na hora e puxei as mangas até o pulso. Não estava preparado para ter pessoas ali comigo. E menos ainda para lidar com aquele olhar.

Achei que como qualquer pessoa, ela desviaria o foco e esqueceria aquilo, mas ao invés disso, ela me encarou, seus olhos não demonstravam nada além de um interesse quase indecifrável.

— Não vou perguntar sobre seus hematomas. Não é da minha conta, aliás, eu nem sei seu nome...

Respirei fundo pegando a jaqueta ao meu lado, me virando para passar as pernas de volta a calcada, mas parei, ainda sentado para encará-la de perto.

— Agradeço. Bem-vinda a Taormina.

Me levantei e voltei para a moto, vesti a jaqueta e parti. Era o melhor a fazer, repeti para mim mesmo. Não podia ter aquele tipo de interação com ninguém. Ainda mais com uma mulher tão linda como ela, que com certeza tinha potencial para me destruir um pouco mais do que eu já era destruído.


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Aeeee❤️ E assim começamos os trabalhos desse neném 🥰

O início das postagens foi antecipado por motivo de... Hoje é aniversário de uma leitora muito especial que me pediu Luca de presente, e como não sei dizer não para a AndressaGoncalves97
Aqui está ❤️

E calma que hoje ainda tem mais um capítulo 😍❤️

Infame Onde histórias criam vida. Descubra agora