5 Usar

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Bea

Terminamos de jantar, mas cada colherada levada a boca era uma expectativa diferente. O tal Luca estava se mostrando um gentil cavalheiro, e aquilo me deixava cada vez mais desconfiada.

Não podia negar que vê-lo comer daquele jeito algo que eu havia preparado, estava me excitando. Mas sabia que tinha que tirar aquilo da cabeça. Na vida, eu era suporte e Alice era a linha de frente. Era ela quem fazia aquele tipo de jogo de sedução, eu nunca fui boa nisso. Ficava somente nas pesquisas e a cargo de descobrir podres que poderiam ser usados como chantagem mais tarde em cada plano. Por um momento, me senti culpada por não contar a ele que não era a primeira vez que o via. Mas acho que a peruca e as lentes tinham dado conta do recado, além do mais, ele era importante, não lembraria daquele encontro estranho, e muito inconveniente, eu nem conseguia me manter sentada a seu lado, estava nervosa e tinha dito a Alice que não conseguiria nada dele. E assim foi, bastou que eu perguntasse seu nome, e tudo ruiu naquele dia.

Terminando a última colherada, ele limpou a boca com o guardanapo e apoiou os braços ao lado do prato sobre a mesa.

⸻ E então, Beatriz, acho que podemos conversar agora. — disse ele em tom relaxado.

Assenti e me levantei para retirar os pratos. ⸻ Me chame de Bea, é assim que todos me chamam. ⸻ Ele fez uma leve careta, mas não disse nada. ⸻ Mas me conta, como acha que eu posso te ajudar?

Voltei para a mesa e o encarei, esperando.

⸻ Tive a informação que na noite em que Enrico desapareceu, ele estava em uma boate, e já sabemos que estava com sua amiga.

Assenti, ele sabia menos que eu, o que era uma vantagem.

⸻ Sim, mas achei estranho, Alice nunca passou uma noite inteira com seu alvo. E quando ela não voltou pela manhã, achei que algo havia dado errado. Ela não havia me falado para qual boate eles iriam, então minha única pista era seu nome, e o fato de desfilar de moto por toda Taormina à noite.

Ele riu. ⸻ Por que sua amiga optou por Enrico? Para qualquer boa golpista, eu seria um alvo mais fácil, menos visado.

Percebi que ele estava "jogando um verde" em mim, mas eu ainda era esperta.

Não diria nada sobre as informações que obtivemos sobre ele. A menção sobre as marcas já o havia deixado nervoso. Aliás, haviam novas, no pescoço e próximas aos pulsos. Não pude deixar de pensar no que faziam com ele...

⸻ Acho que ele fazia mais o tipo dela. — Dei de ombros, desconversando.

Ele ergueu uma das sobrancelhas de um jeito que o fazia ter uma cara de cafajeste irresistível.

⸻ Bom, eu sei que eles foram para uma boate chamada "Manifesto" o que é bem estranho, já que esse lugar é meio que "não frequentável" por minha família.

⸻ Por quê? — Fiquei confusa.

⸻ Porque temos desavenças com o dono. E não é uma briga simples, Enrico sabia, e não pisaria lá à toa.

⸻ Acha que Alice o obrigou a ir para lá? — investiguei.

Ele fitou a mesa pensando. ⸻ Não faço ideia, eu não sei muito sobre os interesses de meu irmão, nem o que pode persuadi-lo, não somos próximos assim.

Apertei minhas mãos pensando se deveria falar sobre a conversa que havia ouvido no mercado. Mas se ele estava se mostrando alguém confiável, eu podia dar a ele o benefício da dúvida.

⸻ Luca... ⸻ O chamei, trazendo-o de volta de seus pensamentos. ⸻ Eu ouvi uma conversa bem estranha no mercado, antes de me trazer para cá. ⸻Ele se arrumou na cadeira para me dar total atenção. ⸻ Duas mulheres falavam sobre uma comemoração, sobre um tal de Pietro, e mencionou os  "Donatti", queria ter ouvido mais, mas elas acabaram brigando por mencionarem aquilo.

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