Luca
Cheguei ao hospital com Isis, uma multidão de repórteres tentou cercar meu caminho, mas com a ajuda dos seguranças, consegui entrar.
Fui com ela até a recepção, esperei do lado de fora do balcão enquanto ela tomava lugar no computador e imprimia os documentos.
Enquanto isso, olhava para a porta, para todos aqueles rostos aflitos que pareciam querer arrancar qualquer coisa de mim. Eu era o Donatti renegado, e agora era o único que não possuía qualquer acusação. Como poderia? Se fui exilado com doze anos? Talvez se Enrico não tivesse... Não tivesse feito aquilo comigo, eu fosse um deles hoje, e aquele esquema não tivesse fim.
⸻ Aqui amor, precisa assinar as três vias. ⸻ Isis empurrou os papéis para mim sobre o balcão, me estudando, e eu conhecia aquele olhar.
Baixei os olhos para os documentos segurando a caneta, olhando as palavras mas não conseguindo me concentrar no que estava escrito.
Ela segurou minha mão ⸻ Não precisa fazer isso. Ele não merece, e tenho certeza que ele não verá sua atitude com bons olhos.
⸻ Se eu não fizer isso, vou aceitar que ele esteve certo durante todos esses anos, e que a crença vale mais que a vida... Quando sabe muito bem que penso o contrário. Se ele morrer, na cabeça dele é porque Deus quis assim, se sobreviver, vai dizer que ele ainda é digno de ser salvo por ele.
Seus olhos ficaram confusos, ela deu a volta no balcão para parar ao meu lado e segurar meu rosto ⸻ E o que você quer provar com isso, querido?
Passei a língua pelos lábios ⸻ Nada. Eu só quero que ele fique vivo. Se ele tiver problema com o método... O problema é dele.
⸻ Tudo bem... Você é quem decide.
Engoli em seco e me virei para o balcão outra vez, dessa vez, sem hesitar. Assinei os documentos e me senti... Não sabia bem, mas era como se um peso enorme saísse de meus ombros. Estava feito, ele me salvou, estava pago.
⸻ O que vai fazer agora, querido? Quer vê-lo?
Neguei com a cabeça ⸻ Não, ainda não estou pronto para isso, quem sabe um dia... Ainda estou digerindo a noite passada, tentando assimilar tudo.
⸻ E a Beatriz?
Sorri só em ouvir o nome dela ⸻ Ela deu uma surra em Rafaella... Da para acreditar?
⸻ Acredito, eu mesma faria isso se pudesse.
A abracei, me apoiando nela. ⸻ Apesar de... Tudo o que me aconteceu... Tudo o que eu já ouvi durante a minha vida. Eu sou profundamente grato... Por você, por Beatriz. Eu teria todos os motivos para ser como eles, para odiar tudo, para desejar a morte de todos eles. Mas você me ensinou a ser quem eu sou, e Beatriz me resgatou do abismo em que eu estava mergulhando.
Ela começou a soluçar e tive que segurar seu rosto e limpar suas lágrimas. ⸻ Eu te amo. Obrigado por me salvar outra vez.
⸻ Sempre, amor. Sempre. E eu quero que seja muito feliz com sua Brasiliana, quero que tenha a família que sempre mereceu ter. Sei que vai ser um pai maravilhoso, que vai...
Quase gargalhei. ⸻ Vamos com calma, Isis... Ainda não estou pensando nisso.
Ela tapou a boca com as mãos ⸻ Ai meu Deus, cometi uma gafe? Bom... De qualquer forma não costumo me enganar. ⸻ ela balançou a cabeça ⸻ Já sabem o que vão fazer?
Balancei a cabeça ⸻ Temos um pouco de dinheiro, preciso ver como e o que me sobrou depois de tudo isso, a casa, a igreja... Eu não sei muito bem ainda. Por enquanto seremos eu e Beatriz no bangalô.
⸻ Sei que onde estiverem, estarão bem. Agora vamos, vou te levar embora, ou esses abutres vão passar o dia todo plantados na porta.
Ela me deu um beijo na testa e me virei para a porta, para ir embora, mesmo amparado pelos seguranças e por ela, os jornalistas insistiam "Luca, você sabia dos esquemas de seus pai?" "Luca, você entregou sua família por conta dos abusos que sofreu?" "Luca, o que pretende fazer agora que sua família está separada?" "Luca, tem chance de seu pai não ser condenado pelos crimes". Com essa última pergunta, parei e me virei para o homem que me perguntou.
Secamente o encarei ⸻ Não. Se ele se recuperar, ele merece ser preso.
Isis me puxou para o carro e começou a dirigir, ainda com alguns deles atrás de nós.
Eu não sabia quanto tempo aquela história ainda ficaria a tona se dependesse de Pietro, muito tempo, tenho certeza, mas naquele momento, eu não conseguia sentir raiva, ou qualquer outra coisa, estava grato por estar vivo depois de achar que era o fim, então qualquer final seria melhor do que morrer literalmente na praia.
Isis parou o carro antes das pedras, e entendi o recado, tirei o cinto, lhe dei um beijo e desci, ela ainda tinha um dia cheio no hospital e eu ainda tinha muito tempo para pensar no que fazer.
Estava descendo, vagarosamente para a casa, quando a vi na areia, sentada sobre um tecido branco que lembrava muito uma das toalhas de mesa da casa, estava com um macacão curto, naquela posição em que abraçava os joelhos e ficava encolhida de um jeito que lhe parecia muito confortável. O vento calmo balançava seus cabelos caídos nas costas. Poderia ficar horas, vendo-a daquele jeito, de longe, escondido. Mas me desequilibrei escorregando nas pedras, o que a fez se virar.
⸻ Luca? ⸻ Rapidamente ela se levantou vindo na minha direção. ⸻ Isis deixou você aqui assim? Você ainda não está...
Lhe dei um beijo a calando ⸻ Estou bem, ela teve que voltar para o hospital... Eu só parei para te ver.
⸻ Quer sentar ali comigo?
Assenti, passei o braço por seus ombros e caminhamos até a toalha. Me sentei junto dela para olhar os poucos turistas que apareceram depois das notícias do que havia acontecido lá.
Ela apertou minha mão, como eu costumava fazer com ela. ⸻ Você viu seu pai?
Baixei a cabeça ⸻ Não, ainda não estou preparado para isso. Preciso estar bem, ou...
⸻ Eu sei...
Suspirei afagando seu cabelo ⸻ Não é... Estranho como depois de tudo, eles precisam de mim? Tenho que liberar o corpo de Enrico, assinar um documento por meu pai, pensar no que vai ser do filho da mulher que me envenenou... Parece que não vai ter fim nunca.
Ela encostrou a cabeça em meu ombro, suspirando também.
⸻ Eu queria poder dizer que não é sua obrigação, e que seria melhor você deixar tudo como está e não se envolver mais nisso. ⸻ sorrindo, ela me encarou. ⸻ Mas sei que não adiantaria nada, porque você é assim... E sei que vai querer fazer essas coisas.Baixei os olhos com pesar ⸻ E isso é ruim, não é?
Ela sorriu afagando meu rosto⸻ Não. Isso é quem você é, amor. Afinal, quem mais me aceitaria de volta, depois do que eu fiz? Eu só acho que deve se recuperar primeiro, para depois, com calma, você pensar nisso.
⸻ Tem razão... Eu vou pensar, vou pensar bastante. ⸻ a abracei beijando sua testa. ⸻ Mas enquanto eu penso... Quero você comigo.
⸻ Não vou a lugar algum, Italiano.
⸻ Isso é muito bom de se ouvir, Brasiliana.
Isis estava certa, eu construiria uma família com Beatriz, nós seríamos o caminho um do outro dali para a frente. Ela merecia paz, uma família, um lugar que fosse seu. Merecia se sentir importante como ela realmente era para mim. Outra vez, ela merecia o mundo, mas desejava a mim. E aquilo era diferente, porque enquanto ela atravessava o mundo tentando encontrar um lugar para se fixar, eu estava preso afastado de todos e de mim mesmo. Ela encontrou seu abrigo em mim, e eu encontrei a minha liberdade nela.
O lugar onde eu não era o infame, onde eu era eu mesmo e podia me sentir seguro. E acima de tudo, o lugar em que eu queria estar.
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Preparadas para a despedida amanhã? Eu sinceramente não estou🙈 mas vamos que vamos! 🙌 Que agora esses dois vão ter paz na vida e muito amor ❤️
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Infame
Romance(+18) Beatriz e sua melhor amiga vivem uma vida nômade, sobrevivendo de cidade em cidade dando golpes em homens ricos por onde passam. Porém ao chegar ao sul da Itália sua amiga desparece, deixando poucas pistas para seguir Luca é o mais jovem e dis...