30 Outro golpe

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Luca

Acordei com ela dormindo sobre meu braço direito, encolhida, com um dos braços passando por meu peito. Inspirei profundamente sentindo seu cheiro e me mexi levemente para tentar diminuir a dor no braço, mas ela abriu os olhos, e levantou a cabeça assustada.

⸻ Eu te machuquei?

Sorri baixando seu rosto para lhe dar um selinho. ⸻ Não, eu estou bem... Na verdade, melhor do que bem.

Ela encarou meu braço analisando um leve e pequeno hematoma onde sua cabeça estava ⸻ Mas... ⸻ seus dedos passaram pela marca de leve e o arrepio subiu até meu pescoço.

Me virei ficando por cima dela ⸻ Eu convivo bem com eles, será que consegue se acostumar com isso, comigo?

Seus dedos passaram por meu rosto indo para minha cabeça, agora com cabelo curto. ⸻ Me acostumo fácil como que é bom, Luca Donatti.

Sorri lhe dando mais um beijinho rápido. ⸻ Eu tenho que sair e resolver algumas coisas, você fica bem aqui? Agora não disponho mais de Giacomo para te fazer companhia.

Ela fechou os olhos com pesar ⸻ Gi também está do lado deles? Isso é...

Me sentei na cama e ela passou o braço por meus ombros ⸻ Por enquanto não temos lados... Somos o meio, Giacomo não tem escolha, é o homem de confiança de meu pai, por mais que sejamos amigos, ele é leal a ele e a Rafaella.

⸻ Uma pena... Gi merece mais do que seguir um tirano maluco.

Sorri e me virei para ela ⸻ Vou tentar deixá-lo fora disso quando eu conseguir o que eu quero.

Ela baixou meu rosto ⸻ Isso é bom... E para onde você vai?

Me levantei estendendo a mão para ela. ⸻ Preciso colocar nossas peças no tabuleiro. Mas antes de ir... Faz um servicinho sujo para mim?

⸻ Todos que quiser, italiano.

⸻ Estou falando de me agulhar de um jeito rude, como só você consegue fazer.

Ela gargalhou. E a puxei para a cozinha. Me sentei e ela pegou todos os materiais. Estiquei o braço direito e rapidamente ela encontrou a veia, desviei o olhar do processo enquanto ela terminava, e só olhei quando ela colocou o curativo. Pressionei-o enquanto ela olhava interessada o vidro em suas mãos.

⸻ Isso é feito de sangue mesmo?

Assenti ⸻ Sim, e é esse o motivo de todo o nojo do meu pai por mim. Ele permitiu que Enrico espalhasse histórias sobre mim, mas não sobre minha doença. Um filho luxurioso ainda é melhor que um de sangue sujo na opinião dele. Na verdade ele diz com todas as letras, que me acha um parasita.

Ela colocou o vidro sobre a mesa com raiva e me encarou. ⸻ Seu pai é a escória da humanidade! Eu juro que se ficar frente a frente com esse homem, eu vou matá-lo.

Sorri, adorando sua irritação. E a puxei pelo braço para meu colo.
⸻ Não se preocupe, minha Brasiliana... Eu não vou deixar ele esquecer o que um parasita pode fazer...

⸻ Espero que não.

Dei um beijinho nela e voltei para o quarto, tomei um banho rápido e me vesti. Quando voltei para a cozinha, ela já estava se servindo de fatias de pães e manteiga, e sorriu me oferecendo, não me contive, mordi o pão em sua mão, sem tirar meus olhos dela.

⸻ Eu volto logo, não atenda a porta a menos que seja Isis, está bem?

Ela assentiu, e saí pela porta, queria poder ficar naquela cama com ela o dia todo, queria outra daquela sessão de tranquilidade, de confiança. Ninguém nunca havia conseguido apagar o horror que vivi com Rafaella, mas quando eu estava com Beatriz, o mundo pareceia girar em outra órbita para mim. Eu não sentia medo de suas mãos, não sentia medo de seu toque, e tinha uma vontade inesgotável que tocá-la, de estar com ela, como se nossos corpos fossem imãs potentes. Era isso que eu sentia perto dela, e era forte o suficiente para me manter focado no que eu precisava fazer.

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