2 Vivendo de aparências

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Luca

Fiquei olhando aquela filha da mãe gostosa descendo a rua. Estava diferente, o cabelo agora era castanho comprido, e parecia natural, a cor dos olhos também estava diferente, mas aquele cheiro... Não o havia esquecido desde aquele dia. Mesmo com o mundo desmoronando em minha cabeça, eu remoí aquela conversa por noites a fio. O desinteresse por minhas marcas, mas o interesse em se demonstrar uma pessoa casual, sentada ao lado de um "estranho" puxando conversa me intrigou. E agora ela grita a droga do meu nome na minha cara...

Sorri quando a vi entrando naquela porcaria de pensão chutada e subi na moto outra vez.

Há duas semanas minha vida havia virado um inferno sem fim. Todo o peso daquele maldito nome havia caído sobre meus ombros e eu ainda não fazia ideia de como lidar com aquilo.

Fui à todas as boates e bares novamente, passei pelos hotéis onde Enrico costumava levar as garotas que pegava pela rua, mas nada, nenhum sinal dele ou de alguém que o tenha visto.

Voltei para casa com o dia quase amanhecendo. Abri a garagem para entrar, mas Giacomo barrou minha passagem.

⸻ O que pensa que está fazendo? ⸻ rosnei irritado pela audácia.

⸻ Seu pai está te esperando na sala, e sugiro que tente se acalmar para ir até ele. — Sua respiração estava acelerada o que me dizia que o assunto era ainda pior do que qualquer coisa que eu pudesse imaginar.

Baixei os olhos sentindo o sangue ferver, se aquilo ainda pudesse piorar, eu não gostaria de descobrir o limite. Desliguei a moto, desci e a empurrei para a garagem ao lado dos muitos carros esportivos "escondidos" ali.

Giacomo me acompanhou como um guarda-costas pelas escadas que levavam a nossa mansão colada ao templo.

Abri a porta e me esquivei do copo de uísque que se chocou contra a parede ao meu lado.

Olhei para ele tentando não demonstrar nada, mas tinha certeza dos meus olhos arregalados.

⸻ Eu estava... — Tentei falar.

Ele ergueu sua mão para que eu fizesse silêncio. ⸻ Sei que as buscas estão levando a um beco sem saída, Luca... Mas se distrair com turistas imundas enquanto nosso teto perece em ruínas... Isso eu não vou permitir!

Nem podia acreditar naquilo, olhei para trás, para encarar Giacomo, se meu pai sabia da minha breve parada, só podia ter sido através dele.⸻ Meu pai... Eu...

Ele se virou para mim, acalmando seu semblante e pousando sua mão em meu ombro direito. Tremi. O gesto pareceria amigável para qualquer um, mas não era. Era um aviso, uma ameaça contida e velada.

⸻ Diante das provações que estamos passando... Terei de tomar uma posição, Luca. Seu irmão estava prestes a me substituir, estudava por anos para ser um novo símbolo de nossa fé, de nossa família. — disse com a voz calma.

É claro que ele queria Enrico de volta, eu nunca seria o que ele desejava, mesmo sem pronunciar, seus olhos me acusavam a todo momento. Depois de tudo, eu nunca fui o bastante, nunca seria...

⸻ Eu vou encontrá-lo, meu pai, o senhor tem a minha palavra. — Encarei-o, mas seus olhos não sustentavam o olhar fixo sobre mim, seu asco era tão grande, que ele simplesmente não era capaz de me olhar.

Sua mão saiu de meu ombro, agarrando minha nuca com um golpe rápido. ⸻ Palavra! Não quero sua palavra, Luca, ela não vale nada. Traga seu irmão de volta...

⸻ Eu trarei! ⸻ falei mais alto, desejando silenciosamente que me soltasse, porque a dor já ameaçava meu pescoço.

Ele me soltou e voltou a caminhar pela sala, impaciente, como não se via muito. Geralmente, senhor Ettore, era um poço de tranquilidade.

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