4.

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ANGEL

Desço mais tarde quando minha barriga ronca. Eu apaguei naquele quarto, eu estava realmente cansada da viagem de carro e da ação ridícula de mal caráter da minha mãe.

Encontro Clarinha e Dona Rosa na sala, ela brincando com um caderno e a senhora fazendo tricô.

- Que horas são? - pergunto quando chego perto delas

- Quase duas da tarde menina. Pedi para a Clara bater lá na sua porta, mas ocê não atendeu.

- Desculpa, eu dormi demais.

- Não tem problemas. Vem, a vó deixou a mesa para ocê. - Clara se levanta e sai me arrastando pela mão até a cozinha.

Quando eu entro na cozinha, um cheiro maravilhoso me atinge. Cheiro de comida caseira, comida de panela de barro, comida com sabor. Minha boca fica cheia de água rapidamente.

- Tem galinha de casa com quiabo, e tem com batata também. Arroz branco, feijão preto carregado e caprichado, farofa de ovo e o suco foi eu que fiz. - Clarinha dita o cardápio e eu não posso negar o barulho que minha barriga fez.

Me sento na mesa e me sirvo com um prato enorme. A pequena menina fica apenas me olhando comer.

- Já comeu? - pergunto

- Sim, todos nós já comemos. - responde

Quando dou a primeira garfada, impossível não gemer. Um turbilhão de sabores vem a minha boca e eu quero chorar. Não sabia que sentia tanta saudades das coisas mais simples.

- Esse salto não cansa seu pé? - Clara pergunta encarando meus saltos

- Não, já sou acostumada. - respondo nem dando muita atenção a ela

Porque eu sinto que irei comer como um leão aqui?

Meu personal trainer com certeza ira me matar assim que eu chegar em casa novamente. Irei morrer nas mãos dele para voltar ao meu corpo, mas aqui não tem nada para fazer a não ser comer e dormir pelo jeito, não tem nem rede, pelo menos eu não vi.

Quando acabo de comer, levo meu prato até a pia e o laço junto com os outros utensílios que lá estavam. Cubro as panelas com um pano e volto para a sala encontrando dona rosa ainda no tricô.

- Tem que ter muita paciência para isso. - digo encarando ela fazer como se fosse a coisa mais fácil do mundo

- Minha mãe que me ensinou, naquela época não podíamos comprar muita coisas, então fazíamos tricô e vendíamos e nos vestíamos. Com o tempo você faz apenas para relaxar. - responde

Fico um tempo a assistindo tricotar enquanto a Clara volta sua atenção para seu caderno que agora vejo que é de desenho.

- Vamos dar uma volta na fazenda? - Clara chama minha atenção e eu a encaro

- É Clara, mostra a ela a fazenda. Além do mais, aqui será a casa dela pelos próximos dias. - responde a senhora sem nos olhar

- A propósito, minha mãe estipulou um tempo limite para mim ficar aqui? - pergunto e a senhora apenas nega com a cabeça me fazendo grunhir

Me levanto do sofá junto a Clara e saímos porta a fora. De cara já vejo que o sol está rachando.

Caminho com certa dificuldade por conta do salto que uso. Clara me explica algumas coisas e me protege de alguns animais que aparecem pelo caminho.

- Ali é o celeiro. - aponta para uma casinha de madeira velha - O Blake deve está lá dentro ou no estábulo

Eu apenas reviro meus olhos com a menção do ogro loiro. Bem que o negócio poderia cair agora, com ele lá dentro.

Andamos mais um pouco e chegamos ao chiqueiro. Vejo que o homem que levou minhas malas para o quarto está alimentando os porcos e torço o nariz ao imaginar ele com as mãos sujas tocando nas minhas malas tão caras.

- Aqui fede. - digo e acabo atraindo a atenção do menino

- Tarde Clarinha. - diz e retira seu chapéu para a cumprimentar - Tarde moça bonita.

Eu apenas ignoro seu cumprimento e sigo andando com a Clara

- O Ricardo gostou de você. - Clara diz com um sorriso

- Estou fora. - respondo

Não posso negar que ele é intrigante. Acho que se der uma boa lavada e encerada junto com uma aula de etiqueta e dicção, ali sai o próximo Adam Levine.

Andamos mais um pouco, essa fazenda é enorme e meus pés já estão mortos de cansados.

- Vamos voltar, outro dia te mostro o açude.

- o que é isso?

- É onde nos banhamos, nosso lago. - diz

- Lago? Aqui não tem praia?

Eu amo praias.

- Não.

- Nem sinal de celular e nem praia? Estou aonde?

- Bem longe de toda civilização.

- E se eu me machucar? Tem hospital?

- Não, mas a vó te salva. - responde e sobe as escadas da casa

- Como vocês conseguem viver assim?

- Com o tempo você se acostuma. - responde sorrindo

- Com o tempo da minha morte né?

- É apenas seu primeiro dia. - diz e grunho

Apenas respiro fundo e penso quanto tempo mais ficarei aqui e quanto tempo mais terei que suportar isso tudo.

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Tururu 🌚

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Xxlys

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