Capítulo 6

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Alguns minutos depois ela acordou, levou certo tempo até lembrar-se de como foi parar ali, ou o que acontecera antes de fechar os olhos.

Ela viu a filha passar pelo corredor da casa, o barulho das rodinhas no assoalho a despertaram.

O dia, o que aconteceu, onde estava e onde está agora? Tentou levantar-se, a cabeça doeu de leve, foi quando viu a carinha sapeca de sua filha ao lado da porta gritar:

Ana: Pai!! A mamãe acordou.

A filha não entrou no quarto, apenas continuou fazendo barulho pelo corredor.

Não demorou muito mais até que Bento entrasse aflito no quarto.

Benn: Beatriz! Enfim acordou, já mandei chamar um médico. Porque você... (foi interrompido)

B: O que significa isso?

Benn: Oque? (Confuso)

Ela fez um gesto com a cabeça apontando o corredor.

Benn: Ah, aquilo? Eu não tive tempo de leva-la para experimentar o presente no jardim, queria ficar de olho em você também, afinal... Estava preocupado com a demora em você acordar.

B: Eu não me refiro onde ela está andando, mas sim no que e porquê?!

Benn: Eu pensei que depois do que aconteceu você não fosse ficar disposta em sair para procurar bicicleta.

B: Bento, você foi sozinho! E pior ainda, você a presenteou sem mim, eu disse que era pra fazermos isso juntos!

Beatriz estava com o emocional arrasado e brigar agora por uma coisa dessas era a última coisa que queria.

Resolveu apenas deixar pra lá, começou a chorar.

O marido estranhamente a abraçou, mas logo a soltou dizendo:

Benn: Vou te deixar, precisa chorar, sofrer essa perda. Agora que acordou, mandarei te trazer um suco e cancelar a visita do médico.

Se precisar de algo estarei no jardim com a Bia.

Beatriz não tinha argumentos, o que iria dizer? O mesmo já deu todas as respostas que queria.

A questão é, que desde que Ana Beatriz nasceu, Bento vem se distanciando cada vez mais, não queria pensar que poderia ser ciúmes, era sua filha, tal sentimento por ela era ridículo e vergonhoso.

No início concluiu que isso era normal, mas depois pensou que não, muitos anos se passaram desde então e isso parece ter ficado cada vez pior.

Em tudo, Ana Beatriz vinha primeiro. Está certo que quando temos filhos os mesmos tornam-se prioridades em nossa vida, mas como Bento agia, chegava a ser assustador, várias noites dormiu sozinha em sua cama pois Bento queria ficar no quarto da filha pra ter certeza de que ela estaria em segurança.

As vezes chegava a ser estupido com Beatriz e isso estava incomodando-a.

Naquela noite resolveu sair, queria ir até a casa onde morou há anos atrás, ir também ao cemitério onde seus pais estão enterrados.

A noite assobiava um vento de chuva. Não avisou a ninguém que sairia, sabia que não demoraria e julgou que isso bastasse para ser desnecessária tal aviso.

Estranhamente ela não tinha medo de entrar no cemitério sozinha, encarava aquilo como uma visita.

No túmulo da mãe um Rosa em um jarro já sujo ainda começava a despedaçar-se.

Já no de seu pai, não havia nada, sequer apenas o enorme crucifixo indicando o dia da morte e o nome do falecido.

Sentiu um remorso, mesmo que no último instante ele se arrependeu. E não tinha uma vida lastimável, era feliz, tinha uma família linda.

Fez uma oração para cada um deles e saiu dali para a casa que um dia foi sua.

A casa fora vendida e o novo Dono não fazia questão alguma de morar ali, foi Bento quem negociou tudo, nunca viu a casa aberta ou alguma pessoa.

Mas estava bem cuidada, um certo ar de saudade a tomou, mas antes que as lagrimas voltasse a rolar em seu rosto ela se assustou com a luz que acendeu e logo se apagou no interior da casa, mesmo de longe ela pode notar, talvez fosse só sua imaginação pregando-lhe uma peça.

Sem muita vontade de voltar para a casa naquela hora, Beatriz seguiu seu caminho. E naquela noite viu o primeiro indicio de que Bento estava mudando e não era para melhor.

A porta principal estava aberta.

Ela entrou e seguiu para seu quarto, antes passou pelo quarto de Ana e a viu dormindo, deveria estar casada estava na melhor fase da vida.

Entrou em seu quarto descontraída e logo levou um susto com a mão que bruscamente puxou seu braço.

B: Ai!

Benn: Como é que você fica tanto tempo assim longe de mim, meu amor? – beijando-a em meio a abraços –

B: Que susto, Bento.

Benn: Onde estava?

B: Fui ao cemitério.

Benn: E porque foi sozinha?

B: Não queria te perturbar com isso.

Bento a prensou contra a parede invadindo seus lábios.

B: O que é isso? – sorrindo-

Ele a segurou forte pelo queixo e a encarando disse:

Benn: Nunca mais faça isso, Beatriz.

O semblante de Bento mudara de uma maneira em que Beatriz sentiu um calafrio pelo corpo inteiro, era como num piscar de olhos.

B: Como? – confusa –

Benn: Isso que ouviu, não quero você andando sozinha por essa cidade.

Ela ao mesmo tempo em que estranhou Bento, logo pensou ser excesso de cuidado, mas teve a certeza que não quando no dia seguinte foi impedida por um dos empregados de sair de casa.

Na sala –

B: Mas como ousa? Sou sua patroa, deve me respeitar.

_Me desculpe Senhora. São ordens do Senhor Bento.

B: Não sou uma prisioneira.

_Deve esperar para que possa conversar com o Senhor Bento, sem autorização dele, a senhora não sai daqui.

B: Pois então me obrigue!

Doce Poesia [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora