Capítulo 7

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A Raiva tomava conta de Beatriz.

_Por favor, Senhora. Não me obrigue a ...

Ela foi em direção a porta, mas antes de que o empregado pudesse segurá-la, Bento entrou.

Benn: O que está acontecendo aqui? – nervoso –

B: Estou sendo proibida de sair dessa casa por ordem sua. Isso só pode der um equívoco, você não... – interrompida –

Benn: Venha comigo.

Bento a segurou pelo braço e a levou para o quarto.

Ao entrar, Beatriz começou a questioná-lo inocentemente.

B: Que ordem é essa de que os empregados estão falando?

Benn: É isso mesmo.

B: Bento, está brincando comigo? Desde quando me proíbe de sair de casa?

Benn; Desde quando você decidiu ter passeios noturnos, sozinha e sem me avisar.

B: Isso não é necessário, já não... – interrompida –

Benn: Isso não é uma questão. É uma ordem!

B: Não pode me tratar dessa maneira, Bento. O que está acontecendo com você?

Benn: Você é minha, e eu posso fazer o que eu quiser.

Ela não podia acreditar no que estava ouvindo, onde é que ele estava com a cabeça, desde quando decidiu virar esse tipo de marido.

E as coisas estavam só para piorar, um tempo passou desde esse ocorrido.

Se perguntassem, ela jamais conseguiria dizer quando foi que isso mudou.

De um sonho a um pesadelo... De um conto de fadas, para uma história de terror.

Bento havia chego de uma viagem, a filha estava na escola, hoje com seus 12 anos, Ana Beatriz era o maior tesouro.

Beatriz não tinha autoridade nenhuma sobre ela, toda e qualquer ordem ou decisão que se dirija a ela, Bento é quem ditava as ordens.

Os empregados foram se desfazendo, tornando-se restritos, escolhidos minunciosamente.

Os que ficaram, eram estritamente proibidos de abrir a porta do segundo quarto a esquerda do corredor do andar superior.

Somente um tal de Joaquim era autorizado a subir com as refeições. Antes de tudo isso chegar na situação atual, Joaquim fora contratado apenas como segurança da casa, mas com o tempo Beatriz pode perceber de que se tratava de um cão de guarda, e guardava com fidelidade sua liberdade.

-

Ela sabia que ele estava de volta, o barulho do carro a atormentava até mesmo nos sonhos.

Toda a vez que o ouvia seu corpo encolhia e suas costas doíam.

Como pudera? Porque?

Queria ter a coragem de manda-lo ao inferno e junto com Ana Beatriz, sumir no mundo.

Mas isso não era mais possível. Tinha agora seus quase 50 anos, e estava decidida a esperar a morte.

Sem família, sem ninguém.

Lutar pra que? Por quem? A filha era tratada como princesa.

Estava no escuro como sempre. A corrente que amarrava o seu braço esquerdo na cama, a impossibilitava de puxar as cortinas, fechadas propositalmente por ele.

Os passos aproximavam ao corredor.

As lágrimas forçavam a sair, mas ela não queria. Estava cansada de chorar, os olhos ardiam. E o que adiantaria? Lagrimas não iriam tira-la daquela situação

Segurou com toda a sua força as lagrimas, quando o clarão invadiu seu quarto, anunciando a chegada dele.

Ben: Bom dia, amor. Senti saudades. (Aproximando-se)

Ela o encarava, não iria chorar... Não podia chorar.

Continuou em silêncio. Mas Bento odiava isso. Era um homem completamente ditador, e já deixara claro que Beatriz deveria sempre adivinhar suas vontades.

Mesmo sabendo que isso era impossível.

Ele aproximou-se dela, acariciou seu rosto e a beijou.

Ben: Acho que não me ouviu dizer... Eu senti saudades, Beatriz!

O tom de voz já estava diferente, ele sabia como ela se sentia, mas também sabia que ela estava devidamente domesticada.

A voz aparentava estar trêmula quando ela respondeu:

B: Eu também senti saudades, meu amor.

Essa era uma das frases que a livrava de uma interminável surra.

Ben: Como passou nesses dois dias? Se alimentou? Está magra demais!

B: Sim, todas as refeições que trazem.

Ben: Estranho. Então acho que pedirei para que reforcem suas refeições.

B: Não... Não acho nece... (foi interrompida)

Ben: Como é que é?! (Gritando)

B: Não, eu não quis...(interrompida)

Ben: Você não acha nada! Quem decide o que é necessário ou não pra você, sou eu.

Ela já havia levantado da cama para responde-la. Apenas queria morrer, e alimentar-se só iria atrasar esse desejo.

B: Como quiser.

A cabeça sempre baixa ao respondê-lo, essas eram as ordens.

Beatriz foi trancafiada em um dos cômodos da casa, apenas aparecia para o jantar, onde era obrigada a fingir na frente da filha que estava tudo bem, que sua ausência nas manhãs e aos finais de semana nos passeios com Bento, era apenas de cansaço excessivo.

A filha jamais desconfiara, e também não fazia tanta questão assim da presença da mãe.

Para Ana Beatriz, apenas o pai a importava. Por ele, ela faria tudo pelo pai que tanto a ama, era capaz até de deixar a mãe de lado e apenas fingir que a mesma não existe.

-

Beatriz Miriolli, um dia foi jovem e feliz, um dia... Foi livre.

Será que era esse o destino que Deus havia lhe reservado? Pediu a Deus que lhe mostrasse o caminho, que lhe mostrasse o que fazer daqui para frente, que se seu destino fosse morrer trancafiada naquele cômodo, que ele lhe desse algum sinal, que ela estaria pronta para qualquer coisa.

-

Aquela manhã reservava forte emoções.

Ela ouviu o barulho do carro saindo, não mais de dois minutos demorou para que Joaquim anunciasse sua entrada no cômodo.

A comida já não lhe caía bem a muito tempo, mas já não tinha mais como livrar-se dela. Agora além de entregar as refeições, o fiel empregado aguardava até que ela comesse tudo.

E naquela manhã não foi diferente.

Beatriz não conseguia, por mais que forçasse, a comida não descia.

Sempre durante as refeições ela era desamarrada por Joaquim que ao fim da refeição a amarrava novamente.

Depois de um longo tempo de Beatriz tentando engolir a refeição, ela acabou.

E para a sua maior surpresa, Joaquim deixou a porta destrancada e suas correntes soltas.

Nunca saberá dizer se fez aquilo sem perceber ou realmente para ajudá-la mas não havia como ignorar tamanha sorte, aquele era o sinal que tanto havia clamado.

Estava claro como água, seu destino não era morrer naquele quarto.

Doce Poesia [Concluída]Onde histórias criam vida. Descubra agora