Capítulo 1 - Dores da alma

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"Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente." Tenho certeza que, quando William Shakespeare disse isso, ele estava se referindo a mim, a minha vida. Eu não estava conseguindo lidar com a dor naquele momento, a dor de lembrar do passado. Paris, para mim, era uma cidade totalmente perturbadora. Eu sabia que não me sentiria bem ao chegar lá, e também tinha certeza que meus pais adotivos sabiam disso, eles sabiam das mágoas que eu havia adquirido naquele lugar, porém, os dois insistiram que aquilo seria bom para mim, encarar o passado, as memórias pesarosas. Eles disseram que, de alguma forma, seria bom para mim. Bom se, talvez, eu me jogasse do alto da Torre Eiffel.

Eu sabia que meus pais não entendiam nada sobre mim, sobre meus comportamentos, sobre meus sonhos. Eles nunca se interessaram em me entender. Nunca me entenderam desde o dia que me buscaram no orfanato. Não contei-os o meu lado da história, o que havia acontecido com meus verdadeiros pais, a última briga deles, as consequências de um amor mal resolvido, a destruição da minha família, a depressão da minha mãe, o sumiço do meu pai, a minha ida para o orfanato e meus últimos anos morando lá. Sim, eles nunca entenderam, e nem entenderiam, eu não iria explicar.

Viajei da Inglaterra até a França carregando o mundo inteiro nas costas, uma vida marcada de desilusões e tristezas. A única coisa que me fazia feliz de verdade era quando eu participava dos meus clubes de boxe, judô, karatê, muai thai, taikondo e ginástica, especialmente ginástica. Aquilo me mantinha viva, muito viva... mas eu perdi tudo. Novamente, havia perdido tudo e chegado na estaca zero. Teria que recomeçar minha vida justo na cidade que foi palco da destruição dela.

Algumas horas depois cheguei em Paris. Meus pais adotivos haviam comprado um apartamento para mim que ficava em cima de uma padaria. Fato e fatalidade. Teria que cheirar a pão para sempre... Quando cheguei na padaria, duas pessoas vieram me receber, um era um homem alto, gordo, branco e de cabelos e bigode castanho escuros com uma roupa de padeiro, já a outra era uma mulher baixinha, cara de chinesa, cabelos azul - escuro e uma roupa de padeira. Que merda, hein, pessoas parecidas com os meus pais. Que merda de vida.

- Oi, Marinette! - a mulher se aproximou de mim me abraçando. - Seus pais nos contactaram! Estamos felizes por você vir morar com a gente.

- Eles não são os meus pais de verdade. - murmurei. Não por terem me trazido para esse inferno.

Os dois olharam tristemente para mim. Suspirei profundamente e revirei os olhos. Então é assim que as pessoas no fundo do poço vivem?

- É, e você é?... - arqueei uma das sobrancelhas olhando para a adulta a minha frente. Tinha esquecido o nome dela.

- Sabine! Muito prazer! - ela me estendeu a mão, lendo meus pensamentos. A apertei de volta e forcei um sorriso. Que decepção.

- Ooh, Marinette, eu sou Ton! Muito prazer! - ele me abraçou fortemente. Fingi que estava com falta de ar (não era mentira, eu estava mesmo), e ele me soltou rapidamente.

- Ah, ah, obrigada pela hospitalidade! Aonde fica meu quarto? - ajeitei minha mochila na costa, fazendo uma cara de quem queria descansar.

- Ah, ah, obrigada pela hospitalidade! Aonde fica meu quarto? - ajeitei minha mochila na costa, fazendo uma cara de quem queria descansar

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