"Se eu mantiver silêncio sobre meu segredo, ele será meu prisioneiro. Mas se eu deixá-lo sair de minha boca, eu serei seu prisioneiro". Arthur Schopenhauer.
Quando eu li essa frase pela primeira vez (Não em algum dos livros de Schopenhauer, mas sim em alguma postagem, vinda de uma página metida a filosófica, que cruzara meu caminho enquanto procrastinava nas redes sociais), confesso que não entendi muito bem oque aquilo realmente significava. Estou longe de me considerar o tipo cara que busca com ardor decifrar os mistérios de tudo aquilo que vejo por aí, oque é bem contraditório se levarmos em conta aquilo que fazia durante o dia a dia do meu terceiro ano no ensino médio, no entanto, percebo agora que podia ter me dedicado a prestar um pouco mais de atenção no prelúdio que começara a ser escrito naquele momento.
Naquele momento... Nos envolvemos com Alice. Inconscientemente ou não, estou convencido em que tudo isso começara naquele momento e nem um segundo depois.
Alice. Não Liddell, apesar de a garota se atrasar, pelo menos, quatro vezes por semana. Para todos os casos, o sobrenome dela é Sanches. Não a conhecia, nem estava ansioso por conhecê-la, mas até mesmo alguém tão desmemoriado quanto eu pode escutar seu abafado "presente..." durante a chamada.
Alice Sanches era o tipo de garota que, constantemente, era associada com a ideia de isolamento, desse modo, sempre era vista usando fones de ouvido. Muitos pensariam, de forma equivocada mas, não insensata, que ela era vítima de bullying ou coisa parecida. Mas, tendenciosamente, presumo que não é essa a questão sobre dela.
Durante nossa pesquisa, onde minha amiga Eve e eu fizemos questão de perguntar ao máximo de pessoas possíveis sobre a garota, pudemos afastar de vez a imagem de socialmente oprimida que ela parecia ter. Na verdade, as opiniões sobre ela pareciam divergir um pouco, mostrando-nos como poucos de fato a conheciam de verdade. Nomes como: Esnobe, triste, solitária, ríspida e linda eram sempre atribuídos a ela. Também diziam, as poucas pessoas que eram dedicadas o suficiente para tentar puxar assunto com a garota, que uma piada autodepreciativa sempre a acompanhava. Que o clima a sua volta era denso e sua negatividade espalhava-se como um vírus. Um vírus tão apaixonante que as pessoas iam ao seu encontro como moscas vão aos doces.
Era isso que diziam de Alice Sanches e, de certo modo, não deixou de ser verdade. Sua negatividade realmente se espalhara, prendendo os que haviam sido atingidos por ela com grilhões de pessimismo.
Mas todos, definitivamente todos, estavam errados sobre ela ser a culpada disso. Era uma ré confessa, oque tornava as coisas demasiadamente piores, mas isso não anula propriamente o fato de que ela não era a culpada.
Diga-me então, que escolha ela tinha?
Deveria ter guardado seus sentimentos até que sua tristeza a dilacerasse? Auto sacrifício não é tão bonito quanto pregam, principalmente quando você é aquele que o faz.
E no final, foi isso que ela fez. Pelo bem de uma turma que nem a conhecia de verdade. E talvez pelo meu bem, pois não queria ser um fardo para mim. Eve me dissera que não tinha jeito, o problema não poderia ser resolvido de outra forma, mas sempre, sempre mesmo, considerarei esse um dos meus maiores fracassos.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Nossa coleção de fracassos
Teen FictionDepois de um fatídico encontro com um esteriótipo de hippie, que ocorrera durante o passeio escolar que visava inaugurar o ano, Martim, um adolescente comum e sem tantas aspirações ambiciosas sobre seu futuro como as de seus colegas de classe, acaba...