As lâminas de Eduardo - Parte final.

4 6 0
                                    


De algum modo, fomos em frente com aquele plano maluco.

Evelin dedicou 80% do seu tempo (ela jamais deixaria de ser tão misteriosa, então conseguia ocultar um tantinho) em ficar perto do Eduardo. Como eram de salas diferentes, ambos tinham que estar dispostos a gazear aula. Depois do colégio, aparentemente, ela ia para casa dele e apenas voltava para a sua quando a noite chegava (pelo menos é para oque eu rezo que tenha acontecido). Raramente trocávamos algumas frases pontuais, geralmente com o intuito de tentar averiguar a razão de Eduardo ferir a todos.

Eduardo... Eu queria muito odiar aquele maldito. Sério. Não há nenhuma razão, mas acabei me afeiçoando aquele cara. Talvez por ele também ter uma irmãzinha ou por levar em conta tudo que o garoto passara para chegar nesse estado. Ou só me identifiquei por ele gostar da Evelin, não sei. De algum jeito, não quero que ele se foda, mas também me partira o coração ver ela se machucando.

A minha opinião, que contei a Eve por mensagem, era a que estávamos olhando do ponto de vista errado. Eduardo só machucara alguém com quem tivesse certa afeição. Michael, Evelin e até os pais (julgo que ele os ama, embora jamais admitisse).

É quase como o dilema do porco-espinho do Schopenhauer. Ser solitário e morrer de frio ou se aquecer sabendo que só sobrará machucados? Alguém precisava fazer uma escolha e, tristemente, não era eu. Mesmo com os Olhos, aquilo estava fora do meu alcance. Evelin sabia muito bem que não era possível resolver aquilo, mas insistiu em manter aquele plano maluco. Insistiu, até o dia 6 de maio.

Ela tinha, milagrosamente, resolvido assistir as aulas. Se comportou muito bem, causando estranhamento na professora de português, que quase surtara de felicidade por ter de volta sua aluna brilhante. Copiou a matéria, respondeu seus exercícios e até foi participativa. Quase no fim da aula, Evelin pedira para ir ao banheiro e obviamente fora permitido. Meu celular vibrara, quase que instantaneamente. Era uma mensagem de Evelin, pedindo para que eu lhe encontrasse com urgência na frente do banheiro feminino. Quando a professora cogitou me dar uma bronca por usar celular, eu lhe disse que minha mãe estava ligando e precisava atender. Assim, fora permitido que eu também saísse, com a condição de que voltaria imediatamente.

Fui até o saguão, onde ficavam os dois únicos banheiros. Estava receoso em demasia, olhando para todos os cantos e tentando achar um ponto cego para que as inspetoras não me vissem fora da sala. Mal cheguei lá, pude ver Evelin dentro do banheiro, um pouco estranha. Sequer tive chance de falar, pois ela agarrara meu braço e me puxara para o banheiro das garotas. Já lá dentro, percebo que estava vazio e ela fechara a porta atrás de mim. Meu coração, ousado como apenas um coração exposto ao pavor é capaz de ser, palpitava com tamanha força que quase rasgara o peito.

— Eve... — minha parceira me calara, tampando minha boca com sua mão. Apenas nesse momento eu conseguira ter um vislumbre verdadeiro dela. Havia chorado, pois as lágrimas negras manchavam sua bochecha. O batom também estava borrado e seus olhos caídos indicavam que não dormia há bastante tempo. Tentou me falar alguma coisa, mas da sua boca só saíra um murmúrio confuso. Soluçava aos montes então não importava o quanto fosse brilhante. Nada sairia.

Notando que tentar formular frases seria um esforço inútil, optou por me mostrar. De repente, se desvencilhara da prisão que era sua camisa preta do uniforme, removendo-a e atirando-a no chão. Agora era a vez de seu sutiã, branco como se em um contraste intencional com a persona que vivera durante esse mês. Já livre, mais uma peça fora jogada ao chão e agora Evelin Carvalho, minha melhor amiga e amada, estava nua da cintura para cima num local fechado. Não me orgulho, mas não pude conter uma ereção. Seus seios grandes, de grandes auréolas avermelhadas... Acabei imaginando oque ela me falaria se eu a atacasse. Pulasse nela, arrancando as roupas restantes e rompendo sua suposta virgindade. Talvez não falasse nada, apenas chorasse baixinho e me encarasse com um olhar vazio. Naquela época, conseguiria fazê-lo? Provavelmente não. E eu ainda provaria que a vadia da Mia estava certa em me tachar como um babaca. Não queria lhe dar esse gostinho.

Nossa coleção de fracassosOnde histórias criam vida. Descubra agora