Chega o dia do encontro, que não fora nomeado de encontro para que eu não ficasse nervoso, e eu já estava nervoso. Alex, para variar um pouco, não quis vir com a gente e Mia, milagrosamente, concordou comigo dizendo que o garoto era um maloqueiro e evitaria sair com ele. Por isso, também não veio, fazendo com que Luana também não viesse para não dar aquela impressão de "encontro de casais" que qualquer um que visse de longe teria. Ela é envergonhada e certinha demais para esse tipo de coisa. Por conta disso, lá estava eu de vela novamente. Ponderei longamente sobre o quão inconveniente seria a minha presença e decidi que iria de qualquer jeito, pois inconveniência era bem oque eu procurava causar.
Como sempre, me arrumei rapidamente, escolhendo uma camiseta azul acompanhada de uma calça jeans bege. Passei gel para tentar inutilmente deixar meu cabelo horrível menos horrível. Meu pai até elogiou, dizendo-me que, apesar de bonito, não era para ser um cafajeste como o Roy. Era uma piada nossa e sempre me trazia risadas por fazer referência a um dos vários livros de menininha que ele escreve. Roy Patterson era um cafajeste estereotipado que sempre usava as garotas, em especial a protagonista, Hilary Evans (se me conhece de verdade, deve imaginar minha opinião sobre esses nomes) que, depois de muitas páginas de nada acontecendo, acaba se tornando uma garota confiante e super bem resolvida. A mensagem seria até bonitinha, mas meu pai pensou que fazê-la ficar com o Roy no final agradaria mais leitoras, então não entendo qual foi o ponto daquilo tudo.
Como combinado, Evelin chegou as 14:00 em ponto. Combinamos de encontrar ele lá, então não nos enrolamos muito em casa. Obviamente, ela estava linda. Seus cabelos estavam soltos por debaixo de um chapéu cinza e não usara lentes de contato dessa vez, escolhendo os óculos de grau, só que num modelo mais quadrado do que o habitual. Usava um short curto e uma jaqueta de couro aberta que fazia-a parecer fodona. Pensamos em rachar um uber, mas esse pensamento logo deu lugar ao pensamento que nos lembrava que éramos pobres e ferrados. É mágico como a falta de dinheiro afasta a preguiça tão rápido...
Andamos uns 20 minutos e já dava para ver Eduardo acenando alegremente na entrada. Se estava bravo com a minha presença, não demonstrava nem um tiquinho, pois parecia de fato animado. Vestia uma larga blusa branca junto com uma larga calça escura (Não entendo o motivo de pessoas magras como ele gostarem tanto de coisas largas). De adornos, apenas uma correntinha de lua crescente e o brinco de pena que parecia jamais sair da sua orelha. Sua cabeça acomodava uma touca amarela feita de crochê.
— Por um momento, achei que vocês não vinham mais. — ele disse, apertando minha mão quando a estiquei para que ele o fizesse. — Um dia, uma galerinha da minha turma me chamou para ir no cinema. Eu, todo inocente, acabei indo, né? Acredita que aquele bando de filhos da puta me encheram de ovada? Claro, corri muito e consegui dar uma lição em alguns, mas porra... Fico meio cabreiro quando me convidam assim.
— Pois saiba que não estou portando nenhum ovo, moço. — minha parceira praticamente se jogou nos braços daquele cara, quase implorando por um abraço. Meio sem jeito, ele aceita o carinho, abraçando-a também. Eu quis vomitar vendo aquilo.
— E o resto do pessoal? — ele perguntou inocentemente.
— Ah... Eles... Eles tinham compromisso. Sabe como o pessoal é ocupado, né? É raro quem tem o sábado livre hoje em dia. — Eve justificou a ausência deles de forma magistral, quase impecável.— Bom, vamos entrar? — por sorte, não pegaram na mão um do outro. Devia ser um pouco cedo para esse tipo de coisa.
Adentramos aquele parque, que estava posicionado num terreno baldio gigantesco que sempre ficava isolado e cheio de mato. Ao menos, deram uma aparada para que os brinquedos pudessem ser colocados. Era um típico parque de bairro com carrinho de bate-bate, carrossel, roda gigante e aquela coisa que gira e tem um cheiro insuportável de borracha queimada. Fora os brinquedos em si, também tinha alguns jogos envolvendo dinheiro como prêmio, como argolas, chute ao gol e tiro ao alvo. Fomos em um de cada vez, comigo encurralando ele quase toda hora no carrinho de bate-bate. Invés de julgar afrontoso, apenas riu e revidou indo atrás de mim. Evelin foi sozinha ao carrossel por insistência nossa (afinal, isso é o tipo de coisa que combina melhor com uma criança ou uma garota do que com marmanjos como nós). Em uma coisa Eduardo concordava comigo: deixar Eve fofa é bom porque ela fica estranhamente envergonhada. Não gostava de perder a pose, por isso ficava perdida sobre oque fazer. Era uma graça. Por último, jogamos argolas. Ele acertou, oferecendo o ursinho que ganhara para Evelin que o abraçou para que tirássemos uma foto.
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Nossa coleção de fracassos
Teen FictionDepois de um fatídico encontro com um esteriótipo de hippie, que ocorrera durante o passeio escolar que visava inaugurar o ano, Martim, um adolescente comum e sem tantas aspirações ambiciosas sobre seu futuro como as de seus colegas de classe, acaba...