Não fiquei sabendo de Emily até vê-la no recreio, sozinha e entristecida, sentada nas mesinhas em que eu ficava matando tempo com a Eve. Ao menos, a venda havia sumido. Pensei em ir até lá, talvez para averiguar mais sobre essa questão ou apenas lhe oferecer certo conforto, mas desisti. Por conta dos boatos que se alastravam por aí, a exposição que minha presença traria faria com que ela ficasse ainda mais desconfortável e eu não me sentia nem um pouco à vontade em ir até aquele lugar com outra garota que não fosse a Eve. Parecia ser uma traição, embora a gente sequer tivesse definido aquele como "o nosso lugar". Mesmo assim, eu também não a vi lá com o Eduardo, então pensamentos parecidos devem passar pela sua cabeça.
Voltando para o problema de Emily, parece obvio dizer que são as suas amigas. Lá na festa, se elas não tivessem ido embora antes que a discussão atingisse seu clímax, a venda apareceria. Julgo que o ato dela fechar seus olhos para as atitudes ruins de suas "amigas" fizeram com que uma venda literal lhe cegasse. Sendo assim, deveria ser fácil de resolver, não? Não, muito pelo contrário. Ter uma noção do que é o problema não é o mesmo que resolvê-lo. Ela provavelmente até já o notou, mas como descartar um relacionamento que já fora tão bom? Não posso dizer que não o fiz, mas dizer que foi fácil (que não há um preço a se pagar ao fazer isso) não passaria de uma mentira indulgente.
Não queria importunar Eve com isso, apesar de eu ter certeza que ela pensaria em 97 formas de resolver essa questão num piscar de olhos. Desde que começara a namorar com Eduardo, não nos falávamos direito. E se pensarmos bem, depois de todos os cortes, ela deve querer distância desse lado sobrenatural. Pensei em Alex, meu amigo recorrente, mas o mesmo não demonstra um pingo de interesse por nada que não seja sobre seus estudos.
Quem mais eu conhecia? Mia, talvez? Ela já me ajudou em um desses lances, mesmo que eu tivesse omitido todos os detalhes relativos ao lado sobrenatural da coisa.
Não, melhor desistir.
Ela me odeia e jamais me ajudaria a ajudar "uma garota que estou pegando". Seria demasiadamente afrontoso para com sua honra inabalável.
Nícolas Alves? Talvez ele quisesse mostrar-me um pouco de gratidão, já que resolvi seu problema.
Não, nem fodendo. Sequer tenho motivo, mas não contarei com a ajuda desse filho da puta.
Desse jeito, só me resta uma pessoa. Não a melhor, nem a mais apta, mas talvez uma das principais interessadas em resolver esse problema.
Tive que recorrer ao primo. Gustavo e seu topete loiro seriam meus parceiros, não importa o quão decadente isso soe.
Quando voltei do intervalo e comentei que estava precisando de ajuda e queria ajudar Emily, ele mostrou-se eufórico de um jeito animado.
— Claro que eu vou te ajudar! É a minha priminha, né? E eu também sempre quis participar de um mistério com o Tim. Evelin sempre me falava sobre e até o Nícolas já se envolveu.
Espera, o Nícolas era a vítima! Como ele ousa agir como se fosse nosso parceiro? E eu fiquei genuinamente preocupado com oque Eve lhe dissera. Julgo que ela tenha tido tato em ocultar tudo de sobrenatural, mas qualquer deslize pode me fazer soar como um maluco.
— Bom, você começar me contando sobre Emliy. Suponho que vocês se conheçam bem. Tipo me dê sua opinião geral sobre ela.
— A Emily é um amor de menina, cara! Sério, o cara que ficar com ela vai se sentir como se tivesse ganhado na loteria. É como se fosse a irmãzinha que eu nunca tive. Ela também é super dedicada. Trabalha desde que pôde em uma sorveteria. Se quiser, a gente pode ir lá durante a tarde. Como anda meio frio, as pessoas não vão tanto até lá. Se quer conversar a sós com ela, esse é o lugar.
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Nossa coleção de fracassos
Fiksi RemajaDepois de um fatídico encontro com um esteriótipo de hippie, que ocorrera durante o passeio escolar que visava inaugurar o ano, Martim, um adolescente comum e sem tantas aspirações ambiciosas sobre seu futuro como as de seus colegas de classe, acaba...